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Camila

– Você acha que há alguma relação entre ser inteligente e bom de cama? – eu disse. 

Traguei do toquinho que sobrou de papel enrolado e segurei a fumaça no pulmão ao passar o baseado para a minha melhor amiga. Pelo menos nesta rodada eu não tinha engasgado nem tossido por cinco minutos. Nenhuma de nós fumou maconha nos últimos dez anos, desde a época da escola. Parecia oportuno marcar o fim oficial da nossa juventude fumando esse, que Any confiscou do seu irmão de dezesseis anos ontem.

– Estou prestes a me casar com um homem que cria robôs capazes de aprender como pensamos. É claro que vou dizer que caras inteligentes são os melhores na cama. Bom, o Derek consegue solucionar um cubo mágico em menos de trinta segundos. A vagina é bem menos complicada. 

– Aquele amigo dele, o Adam, é fofo. Mas passou a última hora me contando sobre um algoritmo que ele está criando para um robô de inteligência artificial chamado Lindsey. A minha contribuição na conversa se resumiu a "nossa!" e "que interessante". Você pode dizer ao Derek que ele precisa arranjar amigos mais burrinhos? 

Any tragou e falou enquanto tentava segurar a fumaça, o que fez com que a voz dela subisse duas oitavas. 

– Ele estudou no MIT e trabalha em uma empresa de tecnologia... Vai ser difícil achar amigos burrinhos. – Ela me cutucou com o ombro. – É por isso que preciso que você se mude pra cá. Não aguento ficar cercada de gente inteligente o tempo todo. 

– Que fofa você – suspirei. – O Adam até que é bonitinho, pelo menos. 

– Então estou entendendo que é hoje que você sai dessa seca? 

– Talvez amanhã à noite, logo depois do casamento – disse com um sorriso metido. – Se ele der sorte. Ainda estou no horário de Nova York. Hoje à noite já estarei caindo de sono na mesa quando estiverem servindo a sobremesa.

A futura noiva e eu estávamos nos escondendo do restante dos convidados do jantar de pré-casamento, atrás de um arco de treliça coberto por uma trepadeira, no pátio do restaurante. 

De repente, uma voz profunda e rouca me deu um susto, e quase derrubei o tal arco. 

– Se ele der sorte, é? Você é tão bonita de frente como é de costas, ou é só convencida mesmo? 

– Mas o que... – Virei para o homem vindo na nossa direção, no escuro. – Por que não vai cuidar da sua vida? 

O cara deu mais alguns passos largos e pôs-se sob a luz do refletor de teto que Any e eu estávamos tentando evitar. Meus olhos quase se esbugalharam. Alto, bem alto – eu tenho um e cinquenta e sete estava com um salto de doze centímetros, mas mesmo assim tinha de esticar o pescoço para olhar no rosto dele. Cabelo castanho, sensual, como se precisasse de um corte, mas que ainda assim ficava bem para ele. Mandíbula quadrada e bem definida. Os olhos dele eram de um castanho-esverdeado que se destacava no rosto moreno e algumas ruguinhas marcavam a pele ao redor dos olhos, o que me fez pensar que ele devia sorrir com frequência. E que sorriso. Não era bem um sorriso completo – era mais como um sorrisinho dissimulado, de gato que acabou de engolir o passarinho.

Todo aquele conjunto de homem era meio que demais para absorver de uma só vez. Mas enquanto fiquei ali parada, muda, Any o abraçou. 

Tomara que ela o conheça mesmo e não que esteja mais chapada do que eu imaginava. 

– Shawn! Você conseguiu vir. 

Ufa. 

– Claro que sim. Eu não perderia o casamento do meu amigão. Desculpe o atraso. Estava em Sacramento a trabalho e tive de alugar um carro e vir dirigindo, porque cancelaram meu voo de hoje à tarde. 

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