Camila
– Você está mesmo linda. Não consigo tirar os olhos de você. O meu amigo vai ficar ofendido de eu não olhar para os quadros dele.
Eu tinha feito o maior esforço me arrumando para o encontro com Marcus. Depois de uma noite melancólica após a partida de Shawn, decidi que, se estivesse me sentindo bonita, talvez tivesse algum desejo pelo Marcus. Infelizmente, o método não estava funcionando.
– Obrigada. – Forcei um sorriso.
Marcus e eu passamos para a próxima obra de arte, e dessa vez tive vontade de sorrir de verdade. O amigo dele era um pintor talentoso. A maioria dos quadros era surrealista, com o foco em algum objeto exagerado que ele tirava de filmes clássicos. As caixas dos DVDs dos filmes que o haviam inspirado estavam sobre uma prateleira, sob cada quadro. Essa pintura, em particular, era baseada no clássico de terror Os pássaros. Na capa do DVD, os pássaros estavam atacando a atriz apavorada. Mas a pintura mostrava várias casinhas de passarinho caindo aos pedaços, com pregos apontando para fora por todos os lados e, em vez de uma mulher apavorada, era um homem com os cortes dos pregos no rosto.
– Tenho um amigo que gostaria desse quadro. Será que o artista se importa se eu tirar uma foto?
– Não, de jeito nenhum. Tem uma placa na porta dizendo que o pintor gosta de compartilhamentos, só não de reproduções.
Peguei o celular na bolsa e tirei algumas fotos, com a intenção de mandar para Shawn depois. Não me dei conta de que sorri o tempo todo enquanto fazia isso.
Foi Marcus quem me trouxe de volta à realidade.
– O seu sorriso é contagiante. Do que esse quadro fez você se lembrar?
– Do meu amigo S... – consegui parar antes de pronunciar o nome do Shawn, lembrando que o Marcus já tinha observado que falei dele nos nossos dois primeiros encontros. Completei: – De um amigo que teve uma má experiência com uma casinha de passarinho.
Depois disso, fiquei entediada pelo resto da exposição. Precisava terminar com Marcus. Nenhum esforço da minha parte faria com que me sentisse atraída por ele. Um certo alguém tinha acabado com essa possibilidade. Além disso, ele era um cara legal demais, eu não podia desrespeitá-lo. Então esperei a gente sair do vernissage.
Ele se ofereceu para me levar para casa, sabendo que eu tinha o jantar na casa da minha mãe mais tarde.
– Você é muito legal, Marcus – comecei.
O sorriso dele murchou.
– Oh-oh. Parece um elogio, mas nunca é uma boa coisa para se ouvir em um encontro.
Eu me senti mal, mas era o melhor a fazer.
– Sinto muito. Sinto mesmo. Você é um cara muito legal e merece uma mulher que queira estar com você e que queira namorar.
– E essa mulher não é você?
Balancei a cabeça.
– Não. Desculpe.
– Tem outro cara?
Ao menos não tive de mentir. Pelo menos não no sentido físico.