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Shawn

– Liga a TV na NBC. 

Sem "oi". Sem "como vai, amigão"

Peguei o controle remoto, liguei a TV e coloquei no canal em que Derek mandou colocar. Estava passando um comercial de xampu para calvície. Tirei o som e disse:

– Não tem acontecido muita coisa comigo nos últimos tempos, mas ainda tenho o meu cabelo todo.

– Espere.

– Você não vai me fazer assistir a um filme B de terror de novo, só para no final me mostrar o seu nome na consultoria de robótica, né?

– Cala a boca e olha a TV.

Eu tinha acabado de chegar de uma reunião, então tirei os sapatos e puxei a camisa de dentro da calça. Estava começando a desabotoar a camisa, com o meu celular pressionado entre a orelha e o ombro, quando começou o noticiário. Aumentei o som da TV sem notar que o celular acabou caindo no sofá.

Que porra era aquela?

A tela estava mostrando um homem passando por entre repórteres a caminho de um prédio de apartamentos. Na legenda, lia-se "CONDENADO POR COMANDAR ESQUEMA DE PIRÂMIDE, GARRETT LOCKWOOD FOI LIBERADO HOJE". Um bando de repórteres estava colocando o microfone na cara dele, perguntando sobre a restituição das vítimas, enquanto ele tentava andar.

Garrett levantou a mão, claramente já experiente com esse tipo de situação, e disse:

– Gente, só quero ir para casa e ficar com a minha família. Responderei às perguntas de vocês amanhã.

Mas não foi isso que me fez pressionar o controle remoto tão forte que quebrei a tampa de onde se colocam as pilhas. Era o prédio que ele chamou de casa. 

Era o prédio da Camila.

A reportagem não durou mais que um minuto. Em seguida, o noticiário continuou com uma matéria sobre assaltos a casas. Fiquei lá, parado na frente da TV. Me esqueci do Derek, até que ouvi meu nome sendo chamado. A voz vinha do meu celular no sofá.

– Merda. – Peguei o celular. – Desculpe, cara. Derrubei o celular.

– Você viu?

– Por que diabos ela está deixando o cara ficar na casa dela?

– Não sei. Mas sei um jeito de descobrir.

Derek vinha me enchendo o saco para ligar para Camila desde que terminamos. Mas, desde que contei que tinha feito o exame, ele havia se tornado incansável.

– Você sabe que o resultado só sai na sexta.

– Tá, acho que Camila vai ser obrigada a dormir com o ex dela até sexta, então. Quer dizer, se o resultado for o que você deseja. Você não se importa de dividir ela com ele, né?

– Porra, o que você quer que eu faça?

– Pra começar, supere essas porras de "mas isso, mas aquilo". – Ele fez uma pausa. – São duas da tarde lá. Se você for para o aeroporto agora, consegue chegar por volta da meia-noite.

O meu coração começou a bater forte dentro do peito. Eu não conseguiria fazer aquilo. Ou conseguiria?  Voar para Nova York a fim de dizer a uma mulher que eu tinha basicamente largado que ela não podia voltar com o ex-marido? Haja colhão para isso.

Andando de um lado para outro, esqueci que ainda estava ao telefone, embora o aparelho continuasse na minha mão, até que Derek falou de novo.

– Você vai se arrepender disso, cara. Você tá demorando demais pra tomar essa decisão.

Passei a mão pela cabeça. 

Merda. Ele estava certo.

– Preciso ir.

– Vai atrás dela, cara. Já passou da hora.


***


Eu havia passado seis horas no avião tentando pensar no que falaria quando chegasse aqui. Ainda assim, não fazia ideia do que dizer. Eu tinha feito o exame. Se o resultado fosse negativo, eu pretendia fazer de tudo para reconquistar Camila. Mas o fato de Garrett estar fora da cadeia complicava a situação. Mesmo que não fosse para ficar comigo, ela merecia coisa melhor do que aquele canalha.

Consegui entrar no prédio quando alguém saiu, então Camila não saberia que eu estava ali até que me visse na porta do apartamento. Não sabia dizer se isso era bom ou ruim. Pressionei o botão do elevador pela segunda vez e fiquei assistindo aos números decrescendo acima da porta, enquanto batia o pé no chão de ansiedade. Suor começou a correr da minha testa, mesmo que a noite estivesse fria.

E se ele atendesse a porta? 

Pior, e se eu interrompesse algo entre eles?

O meu coração começou a pulsar ao imaginar as diferentes situações que poderiam estar me esperando. Quando o elevador finalmente subiu, foi parando em todos os andares, mesmo que só o quarto andar estivesse pressionado. Que teste de paciência.

Em frente à porta, levei um minuto para me acalmar. Eram onze horas, o ex-marido dela estava lá, e eu não tinha nem noção do que eu falaria. Grande plano. Duas respirações profundas não me acalmaram em nada, mas, como achei que fosse explodir se não falasse com ela, bati e esperei. 

Sabia que estava correndo um risco. 

Sabia que não tinha o direito de ser possessivo depois de ter ido embora.

Sabia que aparecer depois de três semanas sem ligar era uma atitude babaca.

Mas eu também sabia que amava essa mulher.

Por isso parecia que o meu coração ia rasgar o meu peito, quando finalmente a porta se abriu. Fiquei cara a cara com Garrett, que estava só de cueca boxer no apartamento dela.

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