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Camila

Eu estava uma pilha de nervos.

Tinha conseguido me ocupar durante a semana e não passei muito tempo pensando no encontro que estava por vir, ou melhor, no fim de semana que estava por vir, com Shawn. Isso até agora. Eram duas da tarde na sexta feira, e eu já tinha acabado todas as consultas e feito todas as anotações sobre os meus pacientes. Esperando dar uma relaxada e esfriar a cabeça, preparei um banho de banheira com uma fragrância de ervilha-de-cheiro que havia comprado na volta para casa, no dia anterior.

Como o resto do apartamento, o banheiro era pequeno, então virava uma sauna a vapor só de encher a banheira. Como Iza não estava em casa, deixei a porta aberta para que o vapor saísse e também para que desamarrotasse as minhas roupas. Fechando os olhos, respirei fundo aquele aroma maravilhoso do jardim da minha avó. Era tudo de que precisava.

Meu celular vibrou em cima da pia, interrompendo a minha paz. Meus olhos se abriram de sobressalto. Dando de cara com um olhar penetrante sobre mim na beirada da banheira, pulei para fora e derramei metade da água no chão. Para completar, quase escorreguei no azulejo.

O gato. 

A porcaria do gato.

Era de se imaginar que a presença de só um olho me daria uma dica de quem era. Gatileu Gatilei tinha entrado e se acomodado na borda da banheira, e quase me matou de susto. Da forma intensa como ele continuou me olhando, não vi alternativa a não ser puxar a toalha e me cobrir. Sério? Eu estava à beira de um ataque de nervos.

Respirei fundo algumas vezes e fui pegar o meu celular, uma vez que foi o fato de ele ter vibrado que gerou toda aquela catástrofe. Me dei conta de que o celular não estava mais sobre a pia. Senti um frio na barriga ao pensar no que poderia ter acontecido. Inspecionei todo canto, deixando o pior por último.

Não estava no chão. Não tinha caído dentro na pia. Não pulou para dentro da lata de lixo.

Meus olhos se viraram para a banheira. 

Merda. 

Lá estava o meu telefone – no fundo da banheira cheia até a metade. No meu frenesi, devo ter esbarrado e o deixado cair na água. Eu o peguei, mas, claro, já era tarde demais. O celular estava mortinho, e não parecia que poderia ser ressuscitado. Embora eu tivesse ficado aborrecida, não havia nada a fazer naquela hora, então sequei o telefone na toalha e tentei voltar à banheira. 

Como não encontrei forma de relaxar, decidi começar a me arrumar. Raspei até o último pelo das minhas pernas e das axilas, depois verifiquei se a depilação na virilha, feita por mim no dia anterior, estava bem-feita. O Gatileu ficou sentadinho na borda da banheira, calmamente lambendo e limpando as patinhas. Eu tinha combinado com a vizinha, a Sra. Whitman, que também tinha um gato, que cuidasse dele no fim de semana. Talvez o Gatileu Gatilei estivesse se preparando para o encontro dele também.

Arrumar a mala era, por si só, um desafio. Peguei a minha lingerie com mais renda, mas não sabia o que vestir além disso. O que resultou em uma mala grande demais – algo para ficar em casa, algo para sair, jeans e camiseta... E se chovesse? Imaginei a cara do Shawn se eu aparecesse com capa de chuva e galochas, mais duas malas. O coitado teria um ataque do coração. Ia achar que eu estava me mudando para lá.

Borboletas habitaram a minha barriga pelo resto da tarde. Nós tínhamos trocado algumas mensagens durante a semana e decidimos que, em vez de ele me pegar, eu iria para a casa dele depois de deixar a Iza. Shawn estava morando perto da casa da mãe do Garrett. Eu pegaria Iza no treino e não queria que ela visse a mala, então a coloquei no porta-malas. Era preciso tomar cuidado com o exemplo que eu dava para ela, especialmente agora que ela tinha quase dezesseis anos e estava começando a se interessar por meninos. Adolescentes aprendem com as nossas ações, não com o que lhes dizemos que é certo ou errado.

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