Camila
A cama estava vazia.
Eu devia ter adormecido em meio à plenitude pós-sexo. Erguendo a cabeça, virei para pegar o meu celular do criado-mudo e quase morri de susto quando vi Shawn sentado na cadeira de balanço em frente à cama.
Sentei e puxei o lençol para cobrir o peito.
– Não tinha te visto aí.
– Desculpe. Não quis te assustar.
Ele tinha colocado a calça jeans, mas não fechou o botão. Estava sem camisa e sem sapatos.
– O que você está fazendo?
Ele franziu o canto da boca.
– Observando você dormir.
– Que estranho. Foi interessante?
– Hipnotizante. – Ele se pôs de pé, veio até mim e beijou a minha testa. –Preciso ir. Preciso me reunir com o departamento de construção daqui a pouco, e você tem uma consulta daqui a uma hora.
– Ah. Tá bom.
Ele me olhou e falou com calma:
– Está arrependida?
Eu não sabia se ele estava se referindo àquela manhã ou à nossa relação como um todo.
– De hoje ou de nós?
– Você me diz.
Ponderei com sinceridade sobre a questão antes de responder. Eu podia estar decepcionada, mas não arrependida do tempo que passei com ele.
– Não, não me arrependo.
– Jantar neste fim de semana?
– Sim, vai ser legal.
Ele me beijou de leve e foi embora.
***
Era eu quem deveria pagar para a Minnie dessa vez. No mínimo, não deveria cobrar dela. Nós tínhamos acabado a nossa sessão de terapia, mas ficamos batendo papo enquanto eu fazia um curativo nela. Estava preocupada que os ferimentos nos seus dedos – resultado de sua obsessão de checar se a porta estava fechada, se o fogão estava desligado, entre outras – pudessem infeccionar. Coloquei luvas e limpei as feridas, depois fiz curativos enquanto falávamos da minha vida.
Ao longo dos últimos dois meses, eu havia contado tudo sobre o Shawn para ela.
– Há apenas três razões para esse homem não querer um relacionamento. Ou ele é um pescador, um leiteiro ou um padre.
Olhei para ela, espantada.
– Você vai ter de me explicar isso.
– Um pescador sabe que há muito peixe no mar, então não quer passar a vida pescando bacalhau, pois sabe que pode pegar também um atum ou um robalo que nunca provou.