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Camila

Uma semana depois, a minha saúde já tinha voltado ao normal, mas o meu coração não tinha nem começado a se recuperar. Uma parte de mim lamentava a maneira como Shawn e eu tínhamos nos despedido, ou melhor, como eu tinha me despedido dele. Eu tinha agido de forma imatura, culpando-o por algo que não era sua culpa. Ele tinha sido claro desde o início. Fui eu quem se apegou à esperança de que ele mudaria de ideia. Tinha sido boba. Mas o problema é que eu sabia que Shawn também gostava de mim. Eu só não sabia por que ele não queria fazer nada por nós. E, por causa disso, eu não conseguia superar. Era como se eu tivesse de seguir em frente deixando algo importante para trás.

No dia anterior, um dos pais com quem eu sempre falava nos jogos da Iza havia me perguntado se o cara com quem eu costumava ir aos jogos era o meu namorado. Doeu tanto dizer que não, admitir em voz alta que Shawn tinha partido da minha vida para sempre, que eu não tinha percebido por que ele estava me perguntando. Quando veio a próxima pergunta, sobre os meus planos para sexta-feira à noite, mal me dei conta de que ele estava me convidando para jantar. O coitado do cara teve de explicar o que ele queria dizer, e ainda foi rejeitado. Mas não tinha jeito, nem sonhando, de eu estar pronta para sair com outro homem.

Então cá estava eu, sozinha em uma sexta à noite, tomando sorvete direto do pote, enquanto a minha enteada de dezesseis anos tinha ido jogar boliche com um menino. Ao menos uma de nós tinha vida amorosa.

– Volte às dez – eu disse para ela. – E o Manu tem de trazer você até aporta do apartamento e esperar você entrar. Senão você vai ter dois pais na cadeia, não só um, porque vou matá-lo.

– Você não assusta nem um pouquinho. Agora, se Shawn dissesse isso, Manu poderia até ficar... – Iza riu – ... cagando de medo.

Eu ri, mas a mandei tomar cuidado com a linguagem. Ela me deu um abraço – algo que ela havia começado a fazer nos últimos dias. Talvez ela estivesse se sentindo mal porque eu tinha levado um fora. De qualquer maneira, eu aceitava tudo o que ela pudesse me dar.

Quando comecei a ficar enjoada de tanto sorvete, o meu celular tocou. Apareceu na tela uma foto minha com a Any, abraçadas no dia do casamento dela. Coloquei o pote na mesinha de centro e levantei.

– Graças a Deus que você ligou. Eu estava quase terminando um pote inteiro de sorvete.

– Humm... De banana com chocolate?

– Não. – Esfreguei a minha barriga estufada. – Cereja com chocolate.

– Bom, guarde um pouco para quando desligarmos, porque acho que você vai precisar.

O meu coração começou a pular no meu peito. Any e eu tínhamos nos falado alguns dias antes, depois que comprei a minha passagem para ir ao batizado. Ela mencionou que não tinha visto Shawn desde que ele voltou à Califórnia, mas que ele ia jantar lá na noite anterior. É claro que ela tinha algo sobre ele para me dizer.

– O quê? Se ele levou uma mulher para jantar com vocês aí, acho que prefiro nem saber, Any.

– Ele veio sozinho. Não trouxe nenhuma mulher.

Eu me senti infinitamente melhor.

– E ele vai levar alguém ao batizado?

– Não, não é sobre isso que vou falar.

Comecei a entrar em pânico.

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