Camila
Passei um bom tempo me aprontando para ficar bonita para o encontro depois do jogo. Não tinha nada a ver com o homem com quem eu estaria no jogo. Repito: nada a ver com Shawn Mendes.
Marcus era um cara ótimo. Bom emprego – desenvolvedor de websites em uma empresa local de serviços públicos. Bem-educado – abriu a porta do carro para mim e puxou a cadeira para eu sentar, no jantar do nosso primeiro encontro. Bonito – altura média, porte médio, talvez precisando perder uns dez quilinhos. Mas quem não precisava perder uns dez quilinhos depois dos trinta? Eu odiava saber que a resposta para essa pergunta aparecia na minha cabeça na mesma hora. Shawn, obviamente, não tinha que perder dez quilinhos.
Dei uma última olhada no espelho. Minha saia vermelha era bem chamativa. Não era curta, mas conseguia ser sexy porque mostrava as minhas curvas sem ser justa demais. Combinei com uma blusa preta bem feminina de botões com manguinhas curtas e sandálias de salto, mas não muito alto, porque não fariam sentido em um jogo de basquete.
Quando cheguei ao ginásio da escola da Iza, o jogo ainda não tinha começado, mas Shawn já estava sentado na arquibancada. Ele se levantou quando fui sentar ao lado dele e me deu um beijo inocente no rosto. Apesar de que não havia nada de inocente na maneira como eu me sentia perto dele.
– Você está um arraso.
– Obrigada.
– Coitado – Shawn resmungou.
Dei uma risadinha para não entrar no assunto, e nos sentamos assim que as meninas saíram dos vestiários.
Iza era a terceira da fila.
– Ela é a única que ainda está no primeiro ano do ensino médio e já é a mais alta de todas.
– Os pais dela são altos?
– O pai tem um metro e oitenta e oito. A mãe devia ter quase um e oitenta.
– Devia?
– Ela morreu há alguns anos.
– Nossa... Difícil. O pai na prisão, a mãe morreu jovem. Que sorte ela ter você.
– Na maior parte do tempo, acho que ela não pensa assim.
– Ela tem quinze anos. Ela vê o que quer ver como forma de justificar o mau humor. Não estou dizendo que o que aconteceu a ela foi fácil, mas adolescentes encontram razão para ficar encanados mesmo quando não existe uma.
– Você parece falar por experiência própria.
– Depois da morte da minha mãe, fui morar com o meu tio Joe e a mulher dele, tia Elizabeth. Ele era muito mais novo do que a minha mãe, então estava mais para um primo mais velho do que para um tio. Nós nos dávamos muito bem, mas ele e a filha dele... Aí a coisa pegava. Quando a Carla tinha mais ou menos a idade da Iza, ela era insuportável. A vida dela era perfeita. Os pais felizes no casamento. Pai médico. A mãe tinha optado por ficar em casa para criá-la. Ela era inteligente e linda – pegou os melhores genes dos pais. Ainda assim, encontrava razão para ser um pé no saco. Nunca entendi porque ela era tão revoltada. Eu teria dado tudo para estar no lugar dela. Agora ela tem vinte e quatro anos e está mudada. Sempre tiramos sarro de como ela costumava ser.