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Camila

Acordei na cama vazia.

Tinha deixado o meu celular em algum lugar da sala, e não havia relógio sobre o criado-mudo. As persianas estavam baixadas, mas não fechadas, e, como não havia luz lá fora, eu me perguntei se já era de manhã. Mas onde estava o Shawn? Esperei alguns minutos para ver se ele só tinha ido beber água ou ao banheiro, mas ele não voltou, e não havia nenhum som no apartamento. Sem conseguir dormir de novo, eu me embrulhei no lençol e fui procurar pelo homem em cujos braços eu tinha adormecido. 

Todas as luzes estavam apagadas, mas a cidade do outro lado das portas de vidro da varanda iluminava o apartamento o suficiente para eu ver que Shawn não estava ali.  Achei o meu celular, vi o horário – quatro e meia da manhã. Tínhamos dormido só umas duas horas. Talvez Shawn fosse um rato matutino de academia? Bom, eu certamente não era, então decidi voltar para a cama e descobrir a resposta quando acordasse, dali a algumas horas. 

Eu estava quase na porta do quarto quando vi movimento lá fora, na varanda. Shawn estava sentado lá. Eu o observei por alguns momentos. Ele estava olhando para o nada. Parecia concentrado nos próprios pensamentos, de maneira quase conflituosa. 

No fim, abri a porta. Ele virou ao ouvir o som.

– Ei. O que está fazendo aqui fora? – perguntei.

– Só tomando um ar.

Eu me embrulhei direito no lençol.

– Tá frio pra caramba.

– Nem notei.

– Você pareceu perdido nos seus pensamentos. Quer conversar? 

Os olhos dele encontraram os meus. Ele pareceu considerar a possibilidade por um momento, mas depois balançou a cabeça e olhou para o outro lado enquanto falou:

– Não. Só não consegui dormir. – Ele se levantou. – Vem. Vamos levar você de volta para a cama.

Ele se dirigiu em silêncio para o quarto e ficou mais silencioso ainda quando deitamos de volta na cama. Assim como na noite anterior, ele deitou e me puxou para eu encostar a cabeça no peito dele. Ouvi a sua respiração por um tempo e, embora eu achasse que tinha um efeito calmante, eu ainda estava com uma pulga atrás da orelha.

Virando de bruços, coloquei as duas mãos no peito dele e me apoiei para levantar a cabeça e fitá-lo enquanto falava:

– Você sempre tem problemas para dormir?

– Às vezes.

– São para adormecer ou para continuar dormindo?

– Os dois.

– É porque você tem muita coisa na cabeça?

– Talvez.

– Sabe o que eu ouvi que ajuda com isso?

– O quê?

– Responder com mais de uma palavra – repliquei sarcasticamente.

Os lábios dele franziram.

– Sabe o que ouvi que ajuda?

FLAMEOnde histórias criam vida. Descubra agora