Camila
Iza pegou uma gripe e demorou mais de uma semana para se recuperar. Então, os planos feitos com Shawn, de aproveitarmos a última semana e meia juntos, tornaram-se visitas dele para ver TV no sofá enquanto Iza me chamava no quarto dela a cada quinze minutos.
A noite em questão seria o nosso primeiro encontro depois daquela fase. Ela ia dormir na casa de uma amiga que estava fazendo aniversário, então teríamos a noite inteira juntos. Infelizmente, nem mesmo essa perspectiva excitante conseguiu me arrancar da cama naquela manhã. Todos os ossos do meu corpo estavam doloridos. Eu estava me sentindo tão mal que tive de usar o meu celular para ligar para a Iza do meu quarto para que ela se aprontasse para a escola. Só a ideia de me levantar e ir até o quarto dela já me deixava exausta.
Ainda em negação quanto a ter pegado a gripe da minha enteada, cancelei as minhas consultas da manhã e voltei a dormir por algumas horas. A minha esperança renovou-se por volta de meio--dia, quando acordei e consegui ir ao banheiro, onde medi a temperatura. Estava com trinta e nove graus.
Não posso estar doente.
Tenho um encontro hoje, e Shawn vai embora daqui a três dias. Uma onda de calafrios pareceu responder àquele pensamento – não o tipo de calafrio que eu sentia quando pensava no Shawn. O meu cérebro queria se frustrar, mas nem energia para isso eu tinha. Só consegui engolir dois comprimidos de paracetamol e voltar para a cama.
Não tive forças para cancelar oficialmente o meu encontro com Shawn, até que ele me escreveu mais tarde.
Shawn: Use vermelho hoje.
A decepção se instalou. Era assim que as coisas acabariam entre nós. Não conseguiríamos nem nos despedir. Até a pele dos meus dedos doeu quando digitei a resposta.
Camila: O único vermelho que vou usar hoje é o da febre. Desculpe. Acho que peguei a gripe da Iza.
Shawn: Que merda. Sinto muito. Precisa de algo?
Camila: Você tem uma pílula mágica para me curar?
Shawn: Vou me controlar e não dizer que tenho algo para você engolir que pode fazê-la se sentir muito melhor.
Sorri e balancei a cabeça.
Camila: Que bom que você não disse.
Shawn parou de escrever depois disso. Em qualquer outro dia, eu provavelmente passaria duas horas analisando cada detalhe das mensagens. Por sorte, eu estava sem energia para isso.
A febre me derrubou, e voltei a dormir mais algumas horas até o interfone me acordar. Eu me arrastei até a porta embrulhada no cobertor.
– Oi?
– Sou eu. – Era a voz do Shawn. – Trouxe uma canja pra você.
Minha parte menininha queria correr para um espelho, lavar o rosto e limpar qualquer restinho de maquiagem. Mas minha parte doente mandou a parte menininha para aquele lugar. Abri a porta e me encostei na parede, esperando o elevador chegar.
Mesmo doente daquele jeito, ver Shawn vindo na direção do meu apartamento acordou os meus sentidos. Ele estava de calça jeans e camisa com as mangas arregaçadas. E estava usando as botas que eu amava. Também estava carregando sacolas nos dois braços.