Camila
Eu não tinha visto Shawn nos últimos cinco dias.
Para a maioria dos casais, podia até ser normal. A semana passa rápido devido aos inúmeros afazeres. Tenho que cuidar de uma adolescente. Mas...nós não éramos exatamente um casal, éramos? Desde que ficamos juntos, nunca passamos tanto tempo longe um do outro. Saíamos para comer um lanche, íamos aos jogos da Iza, dávamos uma passadinha no quarto dele ou até nos encontrávamos para tomar café da manhã. Até então. E não foi por falta de esforço da parte dele. Era eu quem o estava evitando, e ele sabia –embora não o expressasse com todas as letras.
Mas eu tinha uma desconfiança de que isso estava prestes a mudar quando o meu interfone tocou. Depois de cinco dias dizendo que estava muito ocupada e demorando para responder às mensagens dele, ele apareceu em casa naquela manhã, sem avisar. Era conveniente, porque Iza tinha acabado de sair para a escola, e eu raramente tinha consultas antes das dez.
Abri a porta e esperei. Shawn saiu do elevador e andou até mim com um ar bem resolvido. Eu ficava irritada com o meu corpo, que reagia toda vez que o via, porque eu não queria aquele tesão.
E a minha irritação ficou clara no meu tom de voz sarcástico:
– Caminhando pelo bairro e decidiu dar uma passadinha? – perguntei. Não abri a porta para convidá-lo a entrar.
Shawn olhou nos meus olhos.
– Não. Vim conversar com você. Iza já saiu?
A raiva era um sentimento que eu conseguia tolerar. Cruzei os braços.
– Sim. Mas preciso me arrumar para o trabalho. Você deveria ter ligado antes.
Ele deu mais um passo na minha direção e me olhou.
– Por que eu faria isso? Pra você não me atender de novo?
Desviei o olhar. Eu me recusei a ceder, embora ficar tão perto dele me fizesse tremer um pouco. Endireitando as costas, anunciei:
– Foi divertido, Shawn. Não vamos brigar no final.
Os olhos dele pegaram fogo.
– Posso entrar para conversarmos?
– Não acho que a gente tenha sobre o que conversar. Foi divertido, mas acabou.
Daí ele fez a única coisa que eu sabia que não conseguiria resistir: estendeu a mão e tocou o meu rosto. Lágrimas estúpidas começaram a pingar dos meus olhos com a delicadeza do seu toque.
Ele me acariciou com o dedão.
– Eu sinto muito, Camila. Sinto mesmo.
Engoli e senti o sal na minha garganta.
– Sério? Não parece.
Ele fechou os olhos.
– Vamos entrar e conversar. Por favor?
Assenti, e entramos. Despreparada para aquela conversa, fiquei em silêncio, até perguntar:
– Quer um café?