Camila
Desde que voltei da Califórnia, perdi três jantares de domingo na casa da minha mãe e, agora, estava atrasada para o quarto jantar, porque o nosso trem deveria ter saído há quinze minutos.
– Por que não vamos com o seu carro ou, melhor ainda, de Uber? Sempre íamos de carro para Howard Beach quando o meu pai ia junto.
Izabella era uma garota esperta. Ela sabia a resposta.
– Porque tem muito congestionamento entre Manhattan e Howard Beach e porque um Uber custaria cento e cinquenta dólares, ida e volta. O trem A é mais rápido e custa três dólares.
Ela empinou o nariz.
– Quando eu crescer, não vou ser pobre.
– Nós não somos pobres.
– Então por que estamos presas nesse trem fedido e não num Uber com ar condicionado?
– Porque não jogamos dinheiro fora. Nós o usamos de forma inteligente. –E apontei o queixo para os pés dela. – Veja esse Nike de cento e quarenta dólares que acabei de comprar para você. O preço do seu Uber.
Ela revirou os olhos, mas parou de reclamar. Alguns minutos depois, o trem finalmente começou a se mover. Ainda bem, porque, embora eu não seja claustrofóbica nem nada do tipo, o calor estava fazendo com que me sentisse sufocada.
A casa da minha mãe ficava a uma caminhada de quinze minutos da estação de trem. Ela ainda morava na mesma casa de tijolinhos de dois andares na qual tínhamos crescido – só que, em vez de ter um inquilino no andar de cima para ajudar a pagar o aluguel, agora era minha irmã mais velha e a família dela que moravam lá. Eles haviam se mudado dois anos antes, quando ela teve a segunda filha e minha mãe se dispôs a ajudar com as crianças.
Sentimos o cheiro de molho de tomate no ar quando viramos a esquina do quarteirão dela. É claro que, em Howard Beach, quase toda casa de tijolinhos da vizinhança estava cozinhando molho de tomate – ou molho de carne, como muitos o chamavam. Mas eu conseguia até identificar o aroma do molho da minha mãe.
A minha boca começou a salivar à medida que fomos nos aproximando. Usei a minha chave para entrarmos.
– Chegamos! Desculpem pelo atraso!
– A massa vai ficar cozida demais – disse a minha mãe com os dedos juntos, chacoalhando o pulso, naquele gesto tipicamente italiano.
Ela me beijou com animação nas duas bochechas e fez o mesmo com a Iza.
– Você cresceu ainda mais nas últimas semanas. Agora você tem mais espaço na barriga para as almôndegas. Venham. Vocês podem lamber a massa do bolo que acabei de fazer.
Segui as duas até o olho do furacão, isto é, a cozinha. Minhas duas sobrinhas estavam em cadeirões, a de um ano chorando e a de dois batendo uma colher na bandeja de plástico, gritando "Ma ma ma" sem parar. Minha irmã Alegra gritou "oi" para nós enquanto passava o molho de uma panela gigante para uma tigela também gigante. Minha irmã Nicola gritou "merda"enquanto colocava o pão no forno – parece que se queimou. E minha mãe a xingou em italiano.
Sim. Eu estava com saudades dos jantares de domingo.
Ao adentrar na bagunça, peguei os copos e guardanapos e me pus a arrumar a mesa do jantar. Quando voltei para a cozinha para pegar os pratos, a campainha tocou.