Camila
Meu celular tocou quando eu estava prestes a descer as escadas da estação para pegar um trem para o centro da cidade. Ao ver que era a Any, subi de novo até a calçada, para não perder o sinal. Eu não estava com pressa para chegar em casa.
- Olá, Sra. Grosso.
Ela suspirou.
- Algum dia você vai conseguir dizer o meu novo sobrenome sem cair na risada?
- Não contaria com isso se eu fosse você. Ainda não tô acreditando que você trocou Any P. Goodwin por Any P. Grosso.
- Vou ignorar as suas piadinhas ridículas porque estou em clima de lua de mel.
- Piadinhas ridículas? E eu que pensei que o sobrenome do seu marido fosse um bom sinal.
Ela riu.
- Estou a caminho do aeroporto, vamos embarcar para Aruba. Mas antes queria lhe falar uma coisa.
- O quê?
- Shawn está enchendo o saco do meu marido para ele dar seu telefone. Ele disse que você deu o número para ele, mas que deve ter digitado errado. Será que você digitou errado?
- Não. Eu dei o número certo... da Eden.
- Eden? Não me diga que você ainda distribui telefones de disque-sexo aos vinte e oito anos de idade.
- Claro que não.
- Então quem é Eden?
- É uma acompanhante que, por coincidência, tem um número de telefone parecido com o meu.
Any deu um suspiro.
- Então estou entendendo que você não quer que Shawn tenha seu telefone real?
- Ele é um playboy que vive a cinco mil quilômetros daqui. Pra quê?
- Tem razão. Mas ele é um cara bem bacana. Achei que vocês tiveram muita química.
- Experimentos químicos levam a explosões.
- Tá. O Derek não vai dar o seu número, apesar do fato de Shawn estar enchendo o saco dele há dias. - Ela respirou fundo. - E como a Iza está? Passou uma boa semana com a avó?
- Ela disse que nunca mais vai voltar para lá. Detesto admitir, mas me senti um pouco melhor quando soube que a Iza também não gosta dela.
- Vocês precisavam de férias uma da outra.
A minha enteada, Izabella, mora comigo há dois anos. Bom, tecnicamente,eu poderia dizer que ela mora comigo há três, pois o Garrett e eu ganhamos a guarda dela quando a ex-mulher dele faleceu. Iza perdeu a mãe para o câncer quando estava no oitavo ano. Depois, na metade do nono ano - dia 31 de outubro, para ser exata -, ela perdeu o pai também. Só que dessa vez não para uma doença. No meio da festa de Halloween que havíamos organizado, o meu marido foi preso por estar envolvido em um esquema de pirâmide na reconhecida firma de investimentos dele. Na ocasião, ele estava vestido de pirata - nada mais irônico.