7- A Sacada

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-- A senhorita ficou maluca?!

É a primeira coisa que Catarina me diz após eu contar para ela o que havia acabado de fazer. Eu coloco mais um pedaço de ovo mexido na boca para conter o riso e nego com a cabeça.

- Eu estou extremamente sã. Se ele acha que pode me tratar da forma que bem entende, está muito errado. Se serei obrigada a ficar aqui, preciso estabelecer limites. Nenhum homem toca em mim sem a minha permissão.

Digo isso cheia de confiança, mas no fundo eu sabia que podia ter arranjado um problema grande para mim. Se quisesse, Noah podia me apagar do mapa em um estalar de dedos, mas naquele momento que ele não quis me soltar...eu fiquei com tanta raiva ao lembrar do homens nojentos que me puxavam daquela mesma maneira no clube. Lá, se eu os xingasse ou tentasse me soltar, podia muito bem perder meu emprego. Aqui não, eu não estou no clube, ele não é um cliente e não pode me tocar da forma que quiser. Aquele chute no saco foi por pela raiva que sentia dele e de todos os outros que me seguraram daquela forma antes dele. De hoje em diante, não deixaria mais ninguém me tratar daquela forma.

-- Bom...se a senhorita...

- Diarra, Catarina...me chame só de Diarra.

-- Se você, Diarra, acha que fez o certo, não sou eu quem irei discordar. Apenas achei perigoso demais. Agora termine de comer logo, menina! Você é magrinha demais!

Rio baixo e sorrio para ela, voltando a comer o farto café da manhã que ela havia preparado somente para mim. Após terminar tudo e me considerar mais do que satisfeita, eu limpo os lábios com o guardanapo e volto para meu quarto, já que era o único lugar que podia ir sem Noah ter a chance de me acusar de bisbilhotagem. Suspiro baixo ao entrar e fecho a porta, procurando a chave para trancá-la e não adquirindo sucesso. Ah, ótimo! Não posso nem ao menos trancar a merda da minha porta. Reviro os olhos e vou até a cama, me sentando nela e olhando para o criado mudo. Um pensamento vem até minha mente, me lembrando de que eu estava com meu celular ontem. Eu havia deixado ele no criado mudo antes de dormir e agora ele não estava mais ali. Verifico na cama, no chão, embaixo da cama e nada. Aonde estava meu celular?

- Ele não...não é possível...

Fecho as mãos em punhos e saio do quarto, olhando em volta enquanto o procurava. Aonde estava aquele ladrão de celulares? Vejo Catarina sair de um quarto no fim do corredor e corro até ela.

- Ele está aí dentro?

-- Sim, senhorita. Mas você não tem permissão de...

Antes que ela termine sua frase, eu já estava escancarando a porta e entrando no quarto de Noah. O homem de olhos verdes estava sentado em uma poltrona e tomando algo que eu não sabia identificar.

- Aonde está? Me diz!

-- Senhorita, é melhor sair.

Noah me olha sério e dispensa Catarina com a mão antes de se sentar na poltrona que havia em seu quarto gigante. Quando eu digo gigante, é gigante MESMO. Uma cama alta e enorme que eu tenho certeza que comporta mais de seis pessoas, um divã e uma poltrona pretos para combinar com a roupa de cama preta e o restante da decoração. Era um quarto fino, imponente e lindo, representando de forma exata o homem que nele estava. Espera...lindo? Noah não era lindo! Era um ladrão de celulares que iria levar outra joelhada no saco se não me desse meu celular.

- Você pegou meu celular, não foi? Por quê?! O que mais gostaria de tirar de mim?

-- Garota, você é burra? Em que conto de fadas idiota você vive para achar que eu deixaria você ficar com seu celular dentro da minha casa, podendo ligar para sei lá quem ou dar qualquer tipo de pista para te acharem aqui?

- Eu não iria fazer isso e...

-- E nada. Não vou correr riscos com você. Além do mais, seu celular nem existe mais. Quer outro celular? Eu não ligo, vai ler um livro ou sei lá. Fique longe de mim e dos meus homens.

- Ou o quê?

Pergunto séria e cruzo os braços, determina a ficar aqui até conseguir o que queria. Algo nele liga como se houvesse um interruptor em sua mente e ele levanta veloz, deixando sua xícara na pequena mesinha que havia na frente da poltrona e vindo até mim em passos duros e firmes. Não cedo ao medo e mantenho os dois pés no lugar, encarando seus olhos firmemente até eles chegarem perto de mim. Perto demais. Seu corpo estava tão próximo que mal cabia um palmo entre nós. Mesmo sendo uma situação adversa para mim, sua proximidade não me dava calafrios como o esperado. Meu corpo se arrepiava a cada centímetro que ia se extinguindo entre nós. Seus olhos eram como correntes que prendiam minha atenção enquanto meu mundo diminuía até ser do nosso tamanho. Ele e eu, na tensão que já estava virando comum.

-- Ou eu te devolvo para aquele buraco que você chamada de trabalho. Aqui você tem comida, segurança e uma chance um pouco maior de viver do que nas mãos daquele homem nojento. Ou te mato, é isso que procura?

- Eu prefiro morrer do que ficar na mesma casa que você. Quer me matar? Vá em frente! Acabe comigo agora mesmo. Me sufoque até eu parar de lutar contra você, porque eu prometo que até o fim dos meus dias com você, eu vou lutar pra me livrar de você.

Nossos olhos se conectam em uma luta silenciosa e vejo dentro dele uma chama fraca. Como se alguém tivesse tentado apagá-la, mas sem sucesso. Ele era meu inimigo nesse momento, mas uma parcela de mim não conseguia o odiar. Sua chama era parecida com a havia dentro de mim, fraca mas ainda acesa. Talvez fosse por isso...eu não conseguiria odia-lo 100% enquanto essa parcela pequena dele era tão parecida com a minha parcela. Bobo? Idiota? Eu não sei, só sei que por mais que tente odiar Noah e queria muito socar seu nariz, algo me impedia. Ele não havia falado nada e os segundos estavam passando, me deixando nervosa.

- O gato comeu sua lín--

Ele me empurra para a porta e sinto minhas costas baterem contra a madeira ao mesmo tempo que seus braços me encurralam. Era ele, a porta e eu no meio, prestes a presenciar sua raiva mais uma vez. Sua respiração quente e funda batia contra minhas bochechas quando ele inclina a cabeça para baixo, obtendo uma visão melhor da mulher que havia acabado de dizer que preferia morrer do que ficar próxima dele. Péssima escolha de palavras, Diarra.

-- Você não tem poder de escolha nessa casa. Vai fazer o que eu quiser, comer o que eu der e respirar apenas se eu deixar. Quer morrer? Vamos ver se quer mesmo.

Sua mão direita agarra meu braço e ele me arrasta até a sacada de seu quarto, me empurrando até o parapeito. Olho para baixo e engulo em seco ao perceber que a queda daqui me mataria facilmente. Me seguro com firmeza e até certo desespero no apoio do parapeito e olho para Noah com medo.

-- Vai, pula. Você não disse que prefere morrer? Estou te dando a chance de acabar com tudo isso agora mesmo.

Olho para baixo novamente e nego com a cabeça. Ele é maluco. Eu nunca pularia dessa sacada, nunca mesmo. Sinto ele se aproximar por trás de mim e fecho os olhos, congelando ao sentir sua mão ir até às mechas do meu cabelo que cobriam a lateral do meu rosto e as colocar para trás do meu ombro.

-- Não consegue, não é? Então talvez não queira morrer tanto assim. Hoje, 19:30 em ponto eu quero você na sala. Se arrume.

Ele me vira para si em um movimento rápido e firme, olhando em meus olhos com a mesma firmeza.

-- Entendido?

Afirmo devagar por ainda estar processando tudo que aconteceu agora e saio de seu quarto quase correndo, indo para o meu quarto e ficando lá pelo restante do dia. Aonde caralhos eu havia me metido?

HEEEEEY!! Como vocês estão, uh? Algum palpite para quais são os planos de Noah para essa noite?
Estou pensando em postar dois capítulos por semana, o que acham?

Burn With Me | Noarra FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora