Ninguém vai saber

525 58 34
                                    

— Onde você se enfiou ontem? — A pergunta soou irritadiça em meio ao início da manhã, enquanto o casal tomava café. 

Jinyoung mal se lembrava de como havia voltado para aquela casa depois do que aconteceu no maldito labirinto. Engoliu o café, junto com sua réz dignidade, já que moral não tinha mais nenhuma.

— Eu acabei vindo para casa. Me senti mal. — Mentiu e se sentiu o pior dos piores.

— Poderia ter avisado. Eu fiquei te procurando igual um idiota.

— Não é como se você realmente se importasse, não é? Aposto que durante o meu sumiço conseguiu muitos clientes. — Fingiu um sorriso.

— Tem razão. Mais dois querem o trabalho do escritório. — Jinyoung revirou os olhos. 

— Que seja. — Terminou o café, levantando-se.

— Onde vai?

— Vou ao orfanato, vai querer vir junto?

— Não sei porquê ainda perde seu tempo com isso! Anos na fila para adotar uma criança e não consegue nada.

— Talvez meu advogado não seja tão bom assim, não é? — O enfrentou.

— Jinyoung, eu faço o que posso entendeu?

— O que pode? Você nunca está disponível para ir a uma visita que seja! Eu escuto toda quinzena que meu marido não parece interessado no processo de adoção! Você sempre está ocupado! — Jogou as palavras, sentindo o rosto ficar vermelho pela raiva e nervosismo.

— Eu tenho mais o que fazer!

— Mais o que fazer? Wonpil, é a nossa chance de ter um filho! 

— Filho? Aquelas crianças não são do nosso sangue! O que meus pais vão pensar quando eu chegar com a porra de uma criança que nem ao menos se parece comigo?

— Como você pode ter um pensamento desses? Meu deus! — Se afastou, caminhando até a sala e Wonpil lhe seguiu.

— Eu estou falando a verdade! Você pouco se importa com aquelas crianças também!

— Não diga o que você não sabe! — Gritou, vestindo seu casaco.

— Ah, Jinyoung, pelo amor de deus! Você só quer adotar uma criança porque é a porra de um omêga estéril e a culpa é sua! Matou a nossa única chance de ter um filho quando caiu dessa merda de escada! — Apontou para os degraus, despejando todas as palavras de uma vez, não as medindo.

Levou uns bons instantes até se dar conta do que havia falado, notando os olhos do ômega se encherem de lágrimas.

— Jiny… eu… 

— Você tem razão. — Fora a única coisa que disse antes de sair porta afora, batendo-a com força.

— Merda! 

Jinyoung mal via a estrada. Os olhos embaçados dificultavam sua visão. Chorava e não era pouco. Doía aquela sensação que carregava e tampouco sabia o dia em que ela lhe abandonaria. Freiou com brusquidão, não notando o caminhão parado metros de si, tendo sorte do seu reflexo.

Encostou a testa no volante, sentindo-se extremamente fraco naquele momento. Respirou fundo, sabendo que jamais superaria aquele acidente. Socou o volante, sentindo raiva, ódio e tudo misturado. Queria que uma vez na vida Wonpil fosse um pouco solidário com sua dor e não lhe apontasse como o culpado da história. Havia sido um acidente. Apenas um acidente.

Depois de bons minutos parado no acostamento, voltou a dirigir, os olhos ainda guardavam lágrimas e Jinyoung já pouco se importava com aquilo. Estacionou em frente ao orfanato, limpando o rosto como podia e saiu do carro, andando apressado até a entrada.

Crash and Burn - JJPROJECT/JJPOnde histórias criam vida. Descubra agora