09/Dezembro
CHRIS EVANS
A cada passo que eu dava, sentia meu coração se contorcer. Minhas mãos suavam e parecia que tinha uma bola em minha garganta, que crescia cada vez mais a cada segundo que se passava. Passei o cartão magnético na porta com o número 950, soou um som eletrônico e ela se abriu.
Foi impossível controlar o nervosismo que me atingiu ao sentir o familiar perfume doce no ar.
Fechei a porta atrás de mim e caminhei pelo breve corredor, mas quase tropecei ao ver Charlie. Ela estava sentada em uma das grandes poltronas, seus braços estavam cruzados na altura do peito e arrastava sua unha pelo queixo ao parecer refletir sobre algo. Ela encarava perdidamente um ponto aleatório do quarto, agindo como se eu não estivesse acabado de chegar ali.
Ainda estava usando jaqueta e suas botas. Além de sua bolsa, não havia qualquer mala em seu quarto.
Isso não é um bom sinal.
– Sente-se, por favor. – Sua voz saiu baixa, mas firme.
Não consegui mover um músculo sequer.
– Charlie, eu...
– Sei sobre o casamento... o pedido pelo menos. – Suspirei e senti minhas mãos ficarem frias – Tudo bem, pode ficar de pé.
– Eu cometi um erro. – Ela ergueu o rosto e me encarou.
Não havia qualquer expressão em seu rosto. Nunca vi Charlie tão serena antes e ao mesmo tempo tão vazia.
– Em relação a...?
– Devia ter contado. – Falei firmemente.
– Sim, seria bom saber disso antes. Mas gostaria de saber na verdade o motivo para não ter me contado... – Fechei a expressão e olhei para baixo – ... apesar de ter uma leve ideia do motivo.
Ela sabia.
– Charlie...
– Foi um jogo? O que tivemos?
– Não fale assim, por favor.
– Assim como?
– Droga, essa não é você! Grite, me xingue, fala um palavrão!
– Faz alguma diferença agora? – Aquelas palavras me atingiram como um tapa em meu rosto.
Suspirei, tentando reordenar a bagunça em minha cabeça. Tirei minha jaqueta e joguei ela na cama. Eu estava completamente descontrolado. Como nunca estive antes.
Não posso perdê-la. Não quero.
– Eu... eu...
– Difícil achar palavras? Provavelmente por que não existe justificativa pelo o que houve... vou te perguntar uma coisa e por favor, seja sincero comigo. Poderia fazer isso?
Eu sabia exatamente o que ela iria perguntar. Olhei em seus olhos, por um instante tendo que me lembrar que eu conhecia aquela pessoa em minha frente. Mas era estranho, Charlie parecia ser outra pessoa. Se a visse passar ao meu lado em um ambiente mais escuro, custaria a reconhecê-la.
Inspirei profundamente e assenti.
– Ama ela? – Questionou.
Perdi o compasso da respiração e não consegui evitar que meus olhos marejassem.
Idiota.
Estúpido.
Imbecil.
Como pude deixar a situação ficar assim?
Os cantos de sua boca se espicharam minimamente, em um pequeno sorriso que não alcançavam seus olhos. Seu rosto tombou para o lado e ela fitou o chão.
– O que temos...
– O que temos? – Perguntou lentamente, voltando a me encarar. Agora não havia qualquer resquício de Charlie ali.
Tinha uma completa estranha em minha frente.
– Não temos nada Chris. – Sibilou, me dando outro tapa com suas palavras.
– É lógico que temos! – Disse alto e andei em sua direção. Me agachei em sua frente e puxei suas mãos para mim – Charlie, eu cometi um erro. Eu sei...
– Sabe...? – Sua indiferença me atingia com força, me fazia sentir uma sensação horripilante e claustrofóbica.
Eu tinha uma louca vontade em ver ela gritando, queria que ela me socasse, me agredisse da pior forma possível, que quebrasse todo esse quarto, que colocasse fogo em todo o hotel.
Isso seria mais fácil.
Doeria menos.
– Eu posso resolver isso. – Garanti. Segurei seu rosto, mas nada que eu dizia ou fazia, parecia fazê-la acordar.
Onde estava a minha Charlie?
– Passeo minha juventude inteira sob abusos psicológicas e físicos da minha madrasta e das filhas dela. E eu sempre acredite que a pior sensação foi de ver que meu pai mesmo estando completamente ciente de tudo, nunca fez nada para mudar isso. – A puxei para mim e apoiei minha cabeça em seu peito.
– Charlie, eu sinto muito. Eu...
– ... mas nenhum deles me quebrou da forma que você acabou de fazer. – Afastei-me dela e a encarei – Nenhum nunca demonstrou afeto por mim... – Ela afastou os meus braços de seu corpo, empurrando meu peito para trás – Mas está tudo bem, por que pelo menos não me fizeram amá-los à troco de nada. – Disse, se levantando logo em seguida.
– Eu amo você, Charlie. Estou com você agora...
– Mas... – Me cortou, andando até a sua bolsa e passando a alça pelo ombro – Me usou para esquecer alguém. – Estalou a língua – Candice está com Dodger, vou deixar tudo que te pertence com ela.
Andei atrás dela, a impedindo de abrir a porta ao espalmar minha mão pela porta – Charlie, por favor. Me escute... a gente pode tentar consertar isso, vou resolver tudo e eu...
– Se ao menos teve algum pingo de respeito por mim durante todo esse tempo, nunca mais me procure. – Empurrou o meu braço para o lado e abriu a porta, rapidamente passando por ela e indo embora.
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All We Have
FanficDepois de esbarrar em um estranho misterioso no aeroporto, Charlie percebe somente dentro do avião que acabou perdendo o celular. Alguns dias depois, para sua total surpresa, esse mesmo homem a contata por uma conta fake no Instagram. Uma curiosa a...