E seis anos se passaram desde a minha chegada naquela velha e humilde fazenda. Seis anos em que frequentei uma escola primária simples. Seis anos em que recusei toda e qualquer companhia de amigos ou algo do tipo. Seis anos comemorando meu aniversário na data que surgi naquele rochedo. Seis anos em que aprendi a fazer tudo na fazenda.
Seis anos que cuidei dos velhos e do Phillip.
Além disso, minha vida naqueles anos foi monótona e simples. Mesmo com tanto trabalho, não reclamei em momento algum. Sempre fui grato aos velhos por terem me criado. De um simples garoto franzino, me tornei um adolescente magro e resistente.
Ser criado por Adrienne e Frank fora o melhor presente que recebi.
Não vale a pena lembrar os tempos que estudei em Orange Falls. Eu era apenas mais um caipira na multidão. Era o garoto calado que ninguém queria estar fazendo dupla em provas ou trabalhos.
Mesmo com tantos anos se passando, meu passado voltava durante a noite. Minhas lembranças seguidas de intermináveis pesadelos faziam com que eu acordasse gritando no meio da madrugada. Phillip era testemunha do meu sofrimento. O estado vegetativo dele não havia mudado. Todas as manhãs eu apanhava compressas de gaze para tratar de suas escaras. Acho que em algum lugar da mente dele, eu também era um amigo.
Além de tantos pesadelos, ainda tinham os velhos. Depois daqueles anos, eles ficaram mais velhos ainda. Frank tentou não se abater, quis sempre mostrar que sua velhice não era um empecilho para os afazeres, mas já não aguentava tanto quanto antes. Adrienne descobriu um câncer no estômago.
Para ela, era tarde demais.
Com todo aquele peso, Frank abdicou de sua face bondosa e passou a estar sempre mais rabugento e cansado. Cuidava de Adrienne e compreendia sua fragilidade. Dedicou tantas horas à ela que já não caçava com tanta frequência.
Ele devia algo a ela. Eu nunca descobri o que era.
E eu, em meio à outra tormenta, só conseguia mergulhar mais e mais nos trabalhos domésticos. Durante o dia ia ao colégio. Pela tarde, cuidava da fazenda e durante a noite, das pessoas daquela casa. Todos os dias eu me perguntava se estava fazendo bem a eles, assim como imaginei diversas vezes como os mesmos estariam sem mim.
Isso fazia eu me sentir útil.
Em seis anos, me tornei um caçador exímio. Frank me levou durante o primeiro ano para a floresta e lá me ensinou a rastrear e caçar. Ele era aposentado, então tinha bastante tempo para me ensinar. Graças a ele, conheci toda a floresta. Andava nela até mesmo durante a noite. Só o brilho da lua era necessário.
Também tinha aprendido a cozinhar e cuidar da casa. No segundo ano, Adrienne me preparou para lidar com tudo caso ela partisse.
Phillip me ensinou a desabafar. No quarto ano, já tinha contado tudo para ele. Ouvir, para ele, não era uma opção. Só ele sabia o meu sobrenome, meu aniversário e minha história. Se o mesmo voltasse a falar e se mover, com certeza eu estaria perdido. E sempre com aquele mesmo olhar estarrecido, ele ouvia. Seu cabelo era grande e ficou grisalho com o passar dos anos. Sempre que eu passava por ele, o colocava para trás ou o prendia. Me imaginava diversas vezes no lugar dele, sem poder me mexer e com o cabelo grande pinicando o nariz.
Eu tinha cabelo grande e isso me incomodava.
Como cheguei até o rochedo de Orange Falls já era uma questão passada. Eu tinha problemas maiores para lidar do que questões do meu passado que nada me ajudariam naquela época.
Aquele tempo foi bem cansativo, mas necessário.
Tudo era distante. Para comprar alguma coisa, tinha que atravessar o bairro com aquela caminhonete. Ela engasgava, mas raramente nos deixava na mão. Também aprendi a mexer em seu motor e foi ali que me apaixonei.
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CAPUZ XADREZ (Saga Chess Hoodie)
General FictionViu sua irmã morrer queimada aos dez anos. Sobreviveu à queda de um penhasco sem maiores explicações. Não há idade certa para conhecer a dor, e a dele veio cedo demais. Seis anos depois, vivendo longe de casa, Elliot é mais uma vez confrontado por t...