Capítulo 18 - Corrompido

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   A adaptação do ser humano sempre foi algo que me deixou muito curioso. Antes, quando criança, julgava-me por esquecer do que aconteceu às minhas irmãs enquanto brincava com coleguinhas no colégio em Orange Falls. Sempre que chegava em casa, era aquele martírio de choro por muitas horas até que eu olhava para o rosto de Phillip e via que, de um modo ou de outro, eu tinha sorte. Sorte de encontrar uma vida daquela, de ter alguém para cuidar de mim como se eu fosse o centro das atenções - ou precisasse ser - e também uma segunda chance. Essa última valia mais do que qualquer coisa. Por isso eu sempre secava as lágrimas com pressa ao ouvir a madeira rangindo e saber que Adrienne se aproximaria de mim.

  Ela não merecia aquele choro.

  A presença de Aigner fora sentida por mim enquanto eu dormia no sofá do hall central. Acordei assustado, com medo de reprovação em meus atos. Eu só estava dormindo, mas toda e qualquer atitude que eu tomava naquele período era como um crime para mim mesmo.

  Na verdade, eu estava me traindo.

  O maldito entrou pela porta principal, Charlotte a abriu para ele. Suas mãos estavam repletas de bolsas. Minha curiosidade não fora tentada. Ele suspirava como um homem renovado, como se a porra da viagem tivesse sido muito esperada. Como se ele fosse apenas um cara normal que fora sufocado pelo trabalho por anos antes de programar aquela viagem. Ele colocou as bolsas no chão, saltou como se estivesse pulando um muro sem tocar nele e teleportou-se para o outro sofá vermelho, aparecendo deitado e com as mãos na nuca. Sua boca sorria com satisfação e sadismo. Minha espinha se congelou por inteiro, o medo de ser julgado por qualquer coisa dificultou até mesmo a respiração.

  O pior daquilo tudo foi que o idiota notou. Ele sabia que eu estava fingindo dormir, que fora acordado assim que ele chegou mas não tive coragem de abrir a merda dos olhos para dar de cara com ele. E era disso que se tratava, a sensação de domínio que o mesmo tanto adorava ter.

- Achei que você soubesse ocultar a presença. Quando cheguei, a sua deu pico e até senti um pouco desse seu desconforto.

- E eu achei que tivesse aprendido. Pelo visto, não tive uma professora tão boa assim.

- Hm, senti essa farpa. - Disse Charlotte.

  Aigner se levantou e pegou uma das inúmeras bolsas que o mesmo trouxera. Depois, caminhou até mim com a mão erguida, dando a sacola de uma marca que eu não conhecera - tanto quanto seu conteúdo - e depois voltara a seu lugar. O aspecto que ele fazia questão de ter era do amigo-inimigo, eu nunca sabia o que era presente ou presságio de morte vindo dele.

  Minhas mãos trêmulas abriram a sacola. Um punhado de itens embalados estavam ali, era difícil entender. Meu rosto esboçou confusão, o medo me atrapalhou no momento de abrir aquelas coisas.

  Charlotte fez que não com a cabeça e se aproximou de mim, tomando a sacola à força da minha mão. Aigner jogara mais uma sacola à ela, que foi tirando item por item e jogando na pequena poltrona singular.

- Isso aqui... - A jovem tirou uma blusa social xadrez preto e vermelho, com a tonalidade bem mais vibrante que o meu casaco antigo. Seu capuz carregava algo a mais, o que estranhei logo que vi - é para você usar na sua primeira missão. Ele tem uma tira jugular para o capuz não sair enquanto você voa, porque deve ser um saco ter que voar e recolocar o capuz sempre que aterrissa.

- Mas Aigner disse que eu não seria mais o Chess Hoodie.

- Eu errei. - Deitado na poltrona, o jovem barbudo apontou para o teto daquele hall - Achei que não precisaria da confiança que esse capuz deu ao mundo, mas foi uma idiotice minha ter ignorado essa "carta na manga".

CAPUZ XADREZ (Saga Chess Hoodie)Onde histórias criam vida. Descubra agora