Capítulo 9 - O novo mundo

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  Me questionei sobre a justiça daquela situação assim que coloquei os pés em casa. Usualmente me questionava sobre tudo. Os "muitos problemas" que tinha naquela época faziam com que eu me sentisse um lixo ao sorrir quando as coisas melhoravam.

  Frank não estava em casa. Corri para a cozinha. Estava na hora de preparar o almoço de Phillip. Havia guisado congelado na geladeira, então apenas o aqueci no micro-ondas.

  Um minuto depois, a comida estava pronta para ser servida. Subi para o quarto com certa pressa e lá estava Phill. Seu cabelo estava solto mais uma vez.

-  Ah, cara... vou instalar uma câmera nesse quarto para descobrir como você faz isso! Às vezes tenho a impressão de que você mesmo o solta. – Phillip aparentava estar triste. Era estranho afirmar, mas tantos anos olhando para o mesmo me fizeram ler suas sutis emoções.

  Seus olhos estavam para o chão.

  Dei a comida em sua boca até que o mesmo não conseguisse mais engolir, o que indicava satisfação. O estado dele não era tão profundo quanto um qualquer, era possível saber o que ele estava sentindo se olhasse no vazio do seus olhos.

  Um vazio tão intenso quanto esta grande cela escura em que estou.

  Repousei o prato sobre a cama e o encarei.

- É, aprendi a controlar melhor o voo na noite passada. Isso tudo é muito novo para mim, sabe? – Os olhos de Phillip me olharam – Sem contar na parte em que caí na escada de incêndios de uma garota. Nossa, aquilo sim foi uma coisa embaraçosa! Mas fique tranquilo, ela não viu o meu rosto. E adivinhe só? Ela estuda no mesmo colégio que eu... só que fui inteligente o suficiente para socar o rosto do irmão dela.

  Olhei o rosto dele depois do desabafo. Sempre esperava uma resposta. No fundo do meu coração, havia uma esperança de que um dia ele fosse me responder.

  O barulho da caminhonete entrando na fazenda atrapalhou o meu desabafo. Frank chegara em casa. Prendi o cabelo de Phillip e apanhei o prato na cama para lavar.

  Aquelas escadas rangiam de uma forma totalmente irritante.

  Frank entrou pela porta principal assim que toquei na pia.

- Então quer dizer você desmaiou o Gregory Carter na escola, hm?

- Tá legal, pode começar seu discurso moralista. Eu já esperava que alguém fosse ligar para você.

- Não, não pense que estou brigando, muito pelo contrário! Aquele garoto é um imbecil desde pequeno.

-  Como assim?! Vocês por um acaso se conhecem?

- Ué, achei que soubesse com quem estava brigando. Os pais dele estavam aqui no enterro de Adrienne. Lembro que te vi falando com Susan em um momento, então presumo que se lembre também.

  E então, tudo fez sentido. Sempre, desde o início da minha vida, odiei coincidências. Naquele período então, mais ainda. Fui grato àquela mulher quando Adrienne foi enterrada, mas sem querer acabei ferindo seu próprio filho.

  Sem querer, feri o coração de Sue.

  Todas as coincidências da minha vida me levaram para o abismo. Nenhuma até então havia me favorecido. Eu estava acostumado com o declínio.

- Ele possui uma irmã, não é?

- Está falando da Sue? Ela sempre foi um prodígio, adorávamos levá-la para pescar e caçar conosco quando era muito pequena. Infelizmente, Susan impôs uma feminilidade sobre ela, o que a fez abandonar a caça aos dez anos de idade. Ela levava jeito.

CAPUZ XADREZ (Saga Chess Hoodie)Onde histórias criam vida. Descubra agora