Capítulo 16 - Ponto morto

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      E lá fiquei até que o dia nascesse. O horizonte de Gray Town trouxe o sol lentamente enquanto eu estava sentado na borda molhada daquele prédio. A bandeira dos Estados Unidos estava hasteada ao meu lado, sendo balançada levemente pela brisa da manhã. Meu corpo sentia um pouco de frio, mas eu não me importava.

  O café da minha irmã seria perfeito novamente. A presença dela também.

  Olhei a hora no celular, eram quinze para as oito da manhã. Meus olhos pesavam, mas para quê se importar?

  Não me importava se seria descoberto por alguém ou filmado pelas câmeras. Eu não estava nem aí, mas acreditava estar sozinho. Pelo menos até sentir aquela presença não mais incômoda.

- Estranho ver você a essa hora da manhã. Não sabia que fantasmas também assombram durante o dia.

Eu ainda estava abobado com a frieza que Jude usou para lidar comigo, então me espelhei nela para responder Kramer.

- Que gentileza da sua parte vir até aqui para assistir o nascer do sol comigo.

- Não era essa a reação que eu esperava de você. Parece que o encontro com Aigner o deixou destemido.

- Ah, não estraga esse momento. Só vem aqui e senta do meu lado. - Kramer estranhou, mas se aproximou com as mãos no bolso do paletó e permaneceu de pé. - Vou embora com ele amanhã. Talvez esse seja o último dia aqui.

- Aigner é outro fantasma, assim como você. Paramos de caçá-lo quando o mesmo não nos deu mais nenhuma dor de cabeça.

- O idiota me obrigou a ir com ele. Não tive outra opção.

- Não sei se isso será bom ou não para o departamento. Eu o ajudaria a ficar se fosse ruim.

  Fiquei de pé. O vento aumentou um pouco, tirando o meu capuz e balançando o topete de Kramer.

- Não me lembro de ter pedido sua ajuda. Vou me entregar sem nenhuma resistência, esse sempre foi o plano.

  Kramer olhou para mim com certa pena. Depois direcionou novamente o olhar para o horizonte. Permanecemos calados durante alguns minutos. A cidade inteira estava acordando - mesmo com o estereótipo de ser a cidade que não dorme - e víamos cada pessoa cruzar as ruas, abrir as janelas, fechar as cortinas... era possível ver de tudo no topo do Golden State. Eu estava feliz apenas por presenciar tais coisas, mas parecia que Kramer não compreendia a minha felicidade.

- Pelo jeito, você é daqueles que abraça o próprio destino. Seja ele qual for. Vi homens como você triunfarem. Acho que você dá conta disso sozinho.

- De caçador a grilo falante. Nem sei mais o que esperar de você.

- Não sou o vilão da história, não pelo menos para você.

- Minha partida então o ajudaria a manter o silêncio?

- O Chess Hoodie já fez muito barulho, a cidade sentirá falta disso. Difícil será manter o silêncio na ausência do Elliot Bings.

- Ah, você dá conta disso! - Kramer me olhou novamente e sorriu. Aquela fora a primeira vez que o mesmo sorriu para mim. - Quan... se eu voltar, trabalharemos juntos. Acho que, se planejarmos bem, conseguimos limpar a cidade de todos os males.

- Então aproveite a viagem, pois teremos muito trabalho a fazer.

- Ok, mas pega leve na minha ausência. Não fique com a melhor parte para você!

  O agente olhou novamente para mim e sorriu. Joguei-me de costas ao vento e voei. Era um dia lindo e antes eu não sabia o quão prazeroso era voar pela manhã. Poder observar tudo era melhor do que me guiar por neons e telas gigantes de LED em prédios. Meu corpo voava com leveza entre pássaros e insetos. Era possível ver pessoas apontando para mim enquanto eu cruzava os céus naquela manhã.

CAPUZ XADREZ (Saga Chess Hoodie)Onde histórias criam vida. Descubra agora