Capítulo 17 - Sombra

8 3 0
                                    

Depois de ter conhecido o céu com a vida que eu levava na fazenda, não queria me sujeitar a reinícios. Toda aquela interrupção fez com que eu nunca mais fosse o mesmo. Eu não conseguia entender - talvez fosse jovem demais para isso - o porquê de uma pessoa aleatória simplesmente modificar uma vida a seu bel prazer. Principalmente a minha, que fazia muita diferença na cidade que eu defendia.

Eu acreditava na humanidade. Achava que qualquer pessoa tinha jeito, mesmo imersa numa escuridão sem fim. Encontrar um caminho certo para seguir era difícil, inclusive por tudo que eu havia passado anteriormente.

Abri os olhos. Meu corpo estava ao chão, já a mochila estava alguns metros adiante. O lugar que eu me encontrava era úmido, feito de pedras. Me lembrava uma masmorra. Procurei algo à minha volta e achei uma pequena janela em grade e outra grade imensa como uma parede. Ambas corroídas. Tive certeza de estar numa masmorra. Levantei do chão úmido e reparei no limo da parede abaixo da abertura com grades. Olhei pela mesma e vi um imenso mar, algo que dificultaria a fuga de alguém que não voa.

E eu estava muito longe de casa.

Fiquei sentado ao lado da grade por alguns minutos, sem me questionar sobre nada. O sono não foi um aliado naquele dia.

Aquele cheiro de maresia me incomodava demais.

Era dia e a claridade também me incomodava. Uma tontura me consumiu, apesar de eu estar sem nenhuma vontade de dormir.

- Me perdoe por não ser tão hospitaleiro quanto deveria. - Aigner estava ali e eu nem havia notado. Seu teleporte não fazia nenhum barulho. Logo vi que não me acostumaria ao poder dele tão cedo. - Esse é o lugar que você virá caso faça coisas idiotas. Me desobedecer é uma delas.

- Tá, preciso ser fiel e obediente para não ser preso. O que mais você quer?

- Nada.

- Como assim, "nada"?

- Se for fiel e obediente, seremos amigos. Só quero que faça coisas simples para mim. Não quero perder tempo de vida, tenho um mundo inteiro para aproveitar... e um segundo de viagem para qualquer lugar dele.

Aigner estava bêbado, dava para notar pelo seu cheiro. Mesmo entorpecido pelo álcool, suas palavras eram sérias e objetivas. Olhando para ele, não pude sentir nada além de nojo.

- E se eu não for?

- Hmmm, você está me subestimando. Pois bem, você receberá uma visitinha para ficar disciplinado. Anee, Dylan... ah, Anee não. Não quero mexer com ela. Voltando ao que estava dizendo: Dylan, Frank, Phillip. - ele contava tocando seus dedos - Nossa, você tem pouquíssimos parentes e amigos, então creio que eles valham muito.

No momento que parou de falar, eu engoli a seco todo o meu ódio. Já havia abdicado da minha vida para proteger meus parentes e mesmo assim eles não estariam realmente seguros.

Fiz que sim com a cabeça. Aigner se aproximou e tocou meu ombro. Quando dei por mim, eu estava num cômodo enorme de cor vermelha com sancas douradas. Era um quarto no estilo de filme medieval. Daqueles com cama enorme e coberta. Além de uma porta gigante e um abajur repleto de cristais.

- Não brinca. - indaguei. Não estava admirado, mas assustado. Teleportar me dava medo.

- Quando pequeno, eu era apaixonado por castelos espanhóis que via em filmes. Hoje eu tenho o meu próprio. Aproveite, este é o seu quarto.

Aigner caminhou na direção da parede e se teleportou antes de tocá-la. Tive a impressão de que o mesmo havia atravessado, mas depois entendi o que tinha acontecido. Diferente das masmorras, aquele quarto exalava lavanda. Tudo muito atrativo para um prisioneiro.

CAPUZ XADREZ (Saga Chess Hoodie)Onde histórias criam vida. Descubra agora