Capítulo 8 - Maldito Murphy!

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  O sono nunca foi um aliado fiel. Eu dormia com a mesma facilidade que era acordado por estas tormentas noturnas. Tirando todas as vezes que fui ejetado daquele banco velho, a última foi como um sonho impossível. O vidro embaçado se tornava um pouco nítido por causa do sol fraco da manhã, nítido o suficiente para que eu enxergasse Frank do lado de fora do carro.

- Levanta-te daí, garoto! Quer morrer asfixiado? – Frank estava de pé, me olhando com a porta do carro aberta. No momento, não consegui entender como ele estava falando comigo depois de tudo que aconteceu durante a noite.

- Desculpe por ter voltado. – me sentei e saí logo em seguida da caminhonete pelo lado do motorista. Frank contornou o veículo e se aproximou de mim com um olhar perdido. Era o resumo de tudo que ele sentira naqueles últimos dias.

- Eu que me desculpo, moleque. Nunca fui um bom pai, sabe? Não sei fazer nada que não seja mandar, isso é de mim. Sou tão rústico que às vezes esqueço até mesmo da razão. Quero que fique aqui, no seu lar.

  Vi Frank partindo ao meio seu orgulho pela primeira vez. O velho era o típico "homem da casa" que fazia tudo, menos mandar. Lembro do quanto Adrienne entrava em conflitos com ele que, de cabeça baixa, nunca retrucou. Se ele só sabia mandar, não era em casa que o fazia. Mas naquele instante emotivo entre nós, ignorei este fato.

- Isso quer dizer que...

- Sim, esse é o seu lar. Vamos, o café está pronto e seu irmão deve estar sentindo sua falta.

  Caminhei sobre aquela grama molhada até entrar em casa. Olhei para a direita e vi edredons na poltrona da sala, o que significava que Frank dormira ali esperando que eu chegasse a qualquer momento da madrugada. Mesmo irritado, ele não levou a expulsão a sério. Subi cada degrau daquela escada com cuidado para não fazer nenhum barulho. A casa estava num silêncio do qual eu mesmo não queria quebrar. Assim que cheguei no quarto, me deparei com Phillip deitado no chão. Ele estava acordado, mas estático.

  Phill tinha certos espasmos. Aquela não era a primeira vez que eu o encontrei no chão. Na verdade, já tinha até perdido a conta das vezes. Sempre me perguntava se ele recobrava a consciência e depois a perdia novamente, mas os velhos nunca mencionaram isso. Com força, o levantei devagar e o coloquei na cadeira de rodas.

- Ah, soldado... outro tombo? - O frentista idiota entrou no quarto com aquele cheiro de cerveja seca e cigarro barato.

- E aí, Andrew! Passou a noite aqui?

- Frank e eu conversamos sobre você durante a noite, acho que isso te ajudou um pouco.

- Ah, agora entendi o porquê dessa mudança repentina do velho.

- Não o julgue, ele está transtornado com a morte da Enn.

- Todos nós estamos, não se esqueça disso. – Andrew sempre rebatia o que eu dizia com frases prontas como se eu fosse apenas um ponto desconexo da família.

- Bem, se você puder adiantar o que tem para fazer, eu agradeço muito! Frank me dará uma carona até o posto, mas para isso você precisa resolver suas coisas aí. Pelo visto, vocês terão um longo dia na cidade hoje.

  Eu odiava o Andrew.

  Não é muito difícil deixar o meu incômodo com a presença dele de lado. Infelizmente, eu era grato a ele por ter persuadido Frank para que eu pudesse voltar para casa.

  Era uma manhã fresca. Abri a janela e deixei a brisa passear pelo quarto. Cobri Phillip com um edredom e prendi seu cabelo mais uma vez. Abri o armário, apanhei uma roupa qualquer e fui para o banheiro tomar banho. Após uma chuveirada rápida, me dirigi à cozinha e bebi meio copo de café num gole só. A luz do sol clareava a cozinha de uma forma tão intensa que o reflexo sobre os móveis incomodava os meus olhos.

CAPUZ XADREZ (Saga Chess Hoodie)Onde histórias criam vida. Descubra agora