Havia uma beleza pura nas flores do verão. Emily gostava da forma que a luz do Sol tocava cada pétala, realçando cada detalhe de suas cores, tornando mais fácil reconhecê-las e copiá-las no papel. Embora fosse na primavera que as flores desabrochavam, era no começo do verão que atingiam seu ápice.Cada traço de seu lápis velho contra a folha de papel a carregava para cada vez mais longe da sala de aula, sem nenhuma consciência das equações escritas na lousa ou das palavras de despedida do Sr. Gibson, como uma forma de ocupar o tempo de a aula até o sinal tocar. Sabia que ela seria a última pessoa de quem ele sentiria falta no ano seguinte.
Ao contrário de seus colegas, Emily Sommers não via diferença do seu último dia de aula no sexto ano com qualquer outro dia que passou naquele prédio. Cada aula que teve correu da mesma forma de sempre, ela sentada no fundo da sala, olhando para a janela completamente alheia ao que estava acontecendo, e os professores preferindo ignorá-la a tentar forçá-la a ser mais participativa.
Qualquer esforço naquela área era irrelevante. Prestando atenção ou não, suas notas eram impecáveis e seus trabalhos estavam sempre em dia, não havia do que reclamar a não ser de egos feridos e exemplos a serem dados para o restante da classe. Depois de anos ali, o corpo docente do ensino secundário de Little Whinging teve que aceitar que ela não cederia ao estilo de ensino tradicional.
Até mesmo Gibson, o professor de matemática rígido que dava pesadelos aos alunos, eventualmente desistiu de colocá-la na linha, clamando que algumas coisas quebradas simplesmente não poderiam ser consertadas. Emily entendeu o que ele quis dizer com aquela insinuação, assim como o restante da classe, que deu risinhos nada discretos pelo restante do dia.
Por uma feliz coincidência, o homem começou a perder boa parte de seu cabelo nos dias seguintes, até o topo de sua cabeça ficar completamente liso. Não demorou muito para que o apelido de Humpty Dumpty começasse a circular pelas bocas dos alunos.
Convenientemente, ao serem questionados sobre isso pela coordenação, nenhuma das crianças parecia se lembrar que tinha sido Emily a primeira a associar o professor com o personagem de conto de fadas.
Logo quando a jovem garota de cabelos acobreados estava prestes a mudar de lápis para pintar a parte de dentro das magnólias que observava na árvore plantada na área externa da escola, o sinal tocou, indicando o final da aula e do semestre letivo ao mesmo tempo.
Um suspiro de alívio lhe escapou, imediatamente recolhendo seus materiais e os jogando de qualquer jeito dentro de sua mochila, querendo sair da sala o quanto antes possível. Caso se apressasse o suficiente, poderia pegar o primeiro ônibus para casa e evitar a turma de garotos de seu ano que tornavam o veículo um lugar inabitável.
Para sua infelicidade, Emily percebeu que a sorte não estava ao seu favor quando viu o senhor Humpty se aproximar de sua carteira, exatamente quando passava a mochila por seus braços.
— Sala da diretora. Agora. — sua voz saiu seca e grossa, assim como sempre.
A Sommers arregalou os olhos.
— Sério? Vai me dar detenção no último dia de aula? Isso é triste, até para você! — ela reclamou, cruzando os braços. Lá se ia sua oportunidade de chegar em casa em paz.
O sangue do homem subiu para sua cabeça, dando ao seu rosto (e careca) um tom rosado, que explicitava ainda mais sua irritação.
— Não me daria esse trabalho, agora você vai ser o problema de outra pessoa. — Gibson falou rispidamente. — A diretora Simpleton pediu para vê-la assim que a aula acabasse, eu sugiro que não a deixe esperando.
Engolindo a vontade de bufar, Emily assentiu com a cabeça e desviou do professor para poder chegar até a porta. Ele poderia agir como se estivesse acima dela, mas caso o provocasse demais, ela não duvidava que criasse um acampamento de detenção durante as férias para puni-la. De todos os educadores, Humpty era quem mais se incomodava com as atitudes da garota e não tentava esconder.
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Rise [The Heir] → H. J. Potter
FanfictionEmily sempre acreditou que era diferente das outras pessoas. Sempre enxergou o mundo de uma forma diferente, que ninguém mais parecia ser capaz de entender. Coisas aconteciam a sua volta, sem nenhuma explicação lógica de como ou porque. Ela era dif...