17. Julho, oh, julho

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Havia algo muito solitário na mansão Malfoy. Desde as paredes negras até os céus nublados, era como se um espírito agourento atormentasse o local, algo que não parecia ter incomodado nenhum dos moradores anteriores. Tinha sido passada de geração em geração desde que a família desembarcou nas terras britânicas, séculos atrás, e foi mantida como um monumento de sua história.

Scorpius acreditava que aquela tradição era, em termos simples, estúpida demais para ser levada a sério. Não precisava ser um especialista em arquitetura para olhar para aquela casa e saber que tinha sido construída há muito tempo, e não havia nenhuma beleza interior que a tornasse digna de ser mantida. Ou talvez fosse apenas sua visão pessoal falando mais alto.

Detestava aquele lugar, odiava como cada artigo de decoração tinha um passado ligado as artes das trevas e que cada quadro nas paredes tivesse algo a dizer sobre como se vestia, o que falava e como se portava, como babás constantes e oniscientes. Acima de tudo, ele odiava que suas queixas não valessem de nada.

Seu pai adorava a mansão como se fosse um templo religioso, Scorpius ouvira de sua mãe que ele fez questão que ela fosse mantida exatamente como estava, rejeitando cada uma de suas mínimas sugestões para torná-lo mais moderno. Queria viver como seus antepassados viveram.

Por isso, foi de grande surpresa para o rapaz quando desceu as escadas de seu quarto numa manhã no fim de julho e encontrou Dobby, o elfo doméstico da família, guardando boa parte dos artigos que viviam espalhados. Taças, adagas e esculturas eram movidas magicamente para dentro de caixas, substituídas por artigos muito mais inofensivos, como vasos de flores escuras.

Como de costume durante os fins de semana do verão, a família estava reunida na hora do almoço em uma mesa do quintal, de frente para o pequeno campo onde pequenos gnomos enfeitiçados eram forçados a jogar uma partida de bilhar de gramado. Narcisa tomava uma xícara de chá, usando de seus finos e delicados dedos pálidos para ajustar o chapéu negro em sua cabeça, para que luz do sol não atingisse seu rosto, mais parecida com uma escultura grega do que com uma mulher comum.

Ao seu lado direito, Draco divagava mais uma vez sobre suas reclamações da escola, já gravadas a fogo e ferro na cabeça dos pais. Não era justo que Harry pudesse jogar no primeiro ano; Emily Sommers não deveria ter notas maiores do que as suas; como Minerva se atreveu a mandá-lo para a Floresta Proibida?

Do outro lado, o sempre estoico Lúcio nem mesmo levantava o olhar de sua edição do Profeta Diário, deixando o rosto completamente coberto com as folhas. Tão perto e tão distante, como sempre.

— Ele nem é tão bom jogador assim! — reclamava Draco, gesticulando nervosamente as mãos no ar. — Não vai demorar até perceberem isso e expulsarem o Potter do time!
— Tomara! Assim, quem sabe você comece a falar sobre outra coisa. — falou Scorpius ao se aproximar, esfregando os olhos para se acostumar com a claridade.

O rapaz se sentou na última cadeira vaga, em frente a sua mãe, apreciando o belo pedaço de torta de carne a sua frente. Narcisa baixou a xícara de seus lábios e sorriu docemente.

— Bom dia, querido. Dormiu bem? — ela o cumprimentou.

— O melhor que pude, a gripe de trasgo me pegou de jeito. — respondeu. — Mas não tossi tanto dessa vez.

Logo na segunda semana fora de Hogwarts, Scorpius recebeu um convite de Adam, seu melhor amigo lufano, para que fosse acampar junto dele e Sarah e suas famílias. Deveria ser um evento bem casual, visto que os Walsh e os Standish conheciam a região há décadas, porém, graças a brilhante ideia dos jovens de explorarem perto dos pântanos, os três acabaram arrebatados pela doença.

— Eu sabia que não deveria ter deixado que fosse. — resmungou Lúcio, baixando o jornal o suficiente para mostrar seu nariz franzido. — Onde já se viu? Querer dormir ao lado de trasgos? Francamente...

Rise [The Heir]  → H. J. PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora