2. Livros e Cartas

11.1K 1.1K 373
                                    

Dizem que a arte é a forma do corpo de expressar o conteúdo alma. Quanto mais turbulenta uma imagem parece, maior a angústia de quem a pinta.

Os lápis e as tintas tinham sido os primeiros amigos de Emily, que desde que podia se lembrar encontrava conforto em desligar seus pensamentos, deixando suas mãos guiarem o caminho pela folha de papel, fosse com algum objeto em mente ou apenas alguns rabiscos aleatórios.

Os dias passaram rapidamente, embora tediosos. Uma das consequências de não ter mantido muitos laços nos dias de aula, era que no período de férias não havia muito com o que se ocupar. Logo julho chegaria ao seu fim e a garota continuaria seguindo a mesma rotina de sempre, tentando encontrar coisas novas para fazer, nos mesmos ligares de sempre.

Uma vez ou outra na semana, ela se arriscava a andar de bicicleta sozinha pela vizinhança, mas sem poder ir muito longe para não se perder e ficar sem achar o caminho de casa. Sua única companhia possível era Harry, mas seus tios não o deixavam sair de casa para fazer nada que pudesse ser considerado "divertido".

Assim, restava para Emily apenas a companhia de seus lápis.

Naquela manhã, ela havia decidido tentar desenhar a Terra do Nunca, parando a fita de sua versão de Peter Pan na exata cena que dava vista para a ilha. Era seu filme preferido, tendo assistido tantas vezes que seria capaz de recitar cada fala de cor.

Estava fazendo um esboço das várias montanhas, quando ouviu o ranger da escada de sua casa, indicando que sua mãe finalmente tinha acordado. Sendo seu primeiro dia de folga em algumas semanas, a mulher aproveito a oportunidade para dormir até mais tarde, desejando recuperar suas energias.

— Bom dia, mamãe. — disse Emily, quando a ruiva apareceu no corredor.

— Bom dia, querida. — respondeu Megan, com a voz rouca e sonolenta, andando para a cozinha.

De sua posição sentada no chão da sala, entre o sofá e a mesa de centro, Emily enxergou sua mãe se servir com uma xícara de café que estava em uma garrafa térmica desde o dia anterior, esquentando o líquido no micro-ondas.

Elas não tinham mais tocado no assunto de Plitefire e nem conversaram sobre a pequena discussão que tiveram, logo na manhã seguinte foi como se nada tivesse acontecido. Era assim que as Sommers lidavam com qualquer situação complicada que houvesse entre elas: ignorando o problema. Sem explicações ou pedidos de desculpas.

De certa forma, era mais fácil assim, elas não corriam o risco de brigarem e piorarem o problema, porém, Emily sempre ficava com uma sensação amarga no peito, incomodada por nunca resolver as coisas de fato.

Voltando sua atenção para a pintura, ela apenas ouviu a hora que o eletrodoméstico apitou e a xícara foi retirada dele. Seu lápis verde voltou a correr por cima do papel, colorindo os espaços da floresta onde os meninos perdidos se aventuravam.

Com a atenção no desenho, Emily não viu o momento que sua mãe voltou para o corredor e foi até a porta da frente, pegando a correspondência que tinha sido deixada mais cedo. Ela também não viu seu rosto surpreso ao ver a primeira carta do monte, escrita em uma caligrafia impecável.

Voltando para a cozinha, com as mãos tremulas segurando os papéis, Megan olhou para o calendário na geladeira. Já estavam na metade de julho. Como ela se esqueceu?

— Emily, vem aqui por favor! — a mulher pediu.

Abandonando o lápis verde em cima da mesa, Emily se levantou em um salto e seguiu com passos apressados para a cozinha.

Ao entrar no cômodo, ela se deparou com a expressão petrificada de sua mãe, parada no meio da cozinha, com o maço de envelopes em mãos, encarando a primeira carta de uma forma que a fazia parecer com petúnia Dursley, quando esticava seu pescoço sobre as cercas para escutar as fofocas dos vizinhos.

Rise [The Heir]  → H. J. PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora