18. Escapando pelos dedos

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O silencio era uma das partes que Emily mais odiava em sua casa, mesmo que já estivesse acostumada com ele. Do momento em que a chave de sua mãe encostava na fechadura de manhã, os únicos sons que ecoavam por aquelas paredes eram os de fora e dos objetos que a garota usava.

Em certos dias, a ausência de companhia se tornava tão desconfortável que ela ligava o rádio em qualquer estação enquanto pintava, apenas para dar a impressão de que havia mais alguém  ali. Quando começou a dividir seu dormitório em Hogwarts com as outras meninas de sua casa, ficou ainda mais estranho não ter companhia a todo momento.

Claro, Harry ainda era seu vizinho e podia visitá-la sempre que quisesse, no entanto, ele estava sumido há dois dias desde seu aniversário e incapaz de dar notícias. A primeira coisa que a Sommers fez ao notar seu desaparecimento, foi atravessar a rua e bater na porta da casa que detestava em busca de respostas.

— Ele está... Ahn, doente! terrivelmente doente! Não pode sair enquanto não estiver melhor. — disse Petúnia, tropeçando em suas palavras pela surpresa de que alguém de fato tivesse procurado informações sobre seu sobrinho. —Você é a Elizabeth, não é?

— Emily. — ela corrigiu, secamente. 

— Certo, bem, você não pode vê-lo. — a mulher falou. Seus ombros subiram e desceram com desdém.

— E quando ele vai poder sair?— a garota continuou questionando.

— Não sabemos! — a senhora Dursley começava a se irritar. — Agora, se me dá licença, meu jardim não vai se regar sozinho...

Quando ela tentou fechar a porta me sua cara, Emily enfiou o pé no meio do caminho, obrigando que Petúnia a abrisse outra vez. Seu rosto carregava um tom incrédulo, deixando seus traços faciais ainda mais enojados.

Com a melhor expressão que conseguia exibir, a menina ajustou a mochila em seu braço e deu um pequeno sorriso.

— Acho que não vai querer que eu saia daqui sem falar com o Harry, senhora Dursley.— disse, em um tom de desafio. — Sabia que minha mãe é enfermeira no hospital aqui perto? Ela tem muito contato com várias pessoas, inclusive assistentes sociais.

— O que isso tem a ver comigo?— desdenhou a Dursley, encolhendo sua postura discretamente. — Não há nada de errado que eu queira manter meus sobrinho em casa para a saúde dele.

— E as grades na janela? Também são para a saúde dele?— Emily perguntou de volta, cruzando os braços. — Adoraria ver como vocês iriam explicar isso, será que eu deveria mencionar a falta de refeições ou deixar que descubram sozinhos?

A ameaça funcionou tão bem, que Petúnia a recebeu dentro de sua casa com uma xícara de chá e não demorou para buscar Harry no andar de cima, onde certamente tinha estado trancafiado. Mesmo com todo o descaso com o qual tratava o garoto, ela não tinha interesse nenhum em ter o governo duvidando de suas capacidades de cuidar de uma criança. Seria o maior escândalo da vizinhança, com certeza!

Quando eles desceram as escadas, Emily pôde jurar que a ouviu dizer para o Potter algo como "Não deixe seu tio saber disso", mas isso lhe escapou da mente tão rápido quanto apareceu, pois quando viu o rapaz, ficou mais preocupada com o bem estar dele.

Como sempre suas roupas eram largas demais para seu corpo magricelo e franzino, os óculos estavam tortos e sua feição estava mais abatida do que de costume. Pelo barulho abafado do piar de uma coruja, supôs que Edwiges ainda estava confinada a sua gaiola, mantendo-o acordado a noite inteira. 

— Sem gracinhas. — ralhou Petúnia, apontando para o rosto de seu sobrinho com o indicador torto.

Limpando as palmas das mãos e olhando de soslaio para a visita, a mulher se retirou da sala e marchou para a cozinha, querendo se ocupar com algo que evitasse estar na presença da Sommers por mais tempo. Não era novidade que não gostasse dela, mesmo que não soubesse que era uma bruxa, sempre pareceu ter um problema com a jovem sempre que olhava para ela. 

Rise [The Heir]  → H. J. PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora