9. Mais que um jogo

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Com a chegada de novembro, o clima esfriou ainda mais do que Emily estava esperando. As manhãs gélidas a forçavam a usar luvas e cachecol, ainda assim tremendo por debaixo de seu manto, passando horas de seu dia imaginando o quão pior seria quando dezembro chegasse - o inverno era sua estação mais detestada.

Mesmo com sua agonia latente, os professores não deixaram de passar inúmeros deveres de casa e, para economizar seu tempo, a Sommers adquiriu o hábito de terminá-los durante a aula de História da Magia, do professor Bins. Se tratava de uma aula tão entediante, que a maioria dos alunos apagava em meio ao discurso sobre quantos botões existiam nas vestes de um famoso bruxo, o que tornava a aula quase um horário vago.

Com o tempo extra para colocar as tarefas em dia, ela tinha mais tempo para explorar o castelo e apreciar seus detalhes, como desejou fazer no primeiro dia. Deixando seus amigos na sala comunal, terminando uma redação sobre bubotúberas, a garota pegou seu caderno de desenhos e foi para o quarto andar.

Não havia salas por ali, mas sim um monte de quadros, pinturas nas paredes e amostras históricas, como armaduras, como se fosse um museu da magia. Para alguém tão apaixonada por arte quanto Emily, tinha que ser a melhor parte da escola, e os bruxos nas molduras ficavam felizes em ajudá-la a capturar o momento.

— Essa pose está boa? — perguntou um homem gorduchinho, segurando uma rosa sobre os lábios. — Ou que tal essa? — ele levou alto e ficou na ponta do pé, como um bailarino.

— Qualquer uma está boa, senhor Plomming. — disse Emily, como uma risadinha. — Afinal, como que um quadro vem parar em Hogwarts?

— Ah! Somente os mais importantes de nós acabam aqui, para inspirar os mais jovens. Eu mesmo criei a Amortentia. — ele suspirou apaixonadamente. — O amor é tão belo... Quando descobri isso, precisava compartilhar com o restante do mundo!

Arnold Plomming era certamente um homem cheio de paixões e que não tinha medo de escondê-las, cujos cabelos eram de um dourado cacheado e os olhos tão azuis quanto o céu, o mito do cupido poderia muito bem ter sido inspirado nele. Quando iam de uma sala para a outra, os alunos podiam ouvi-lo cantarolando antigas cantigas românticas, querendo persuadir os jovens a usarem sua invenção para alcançarem a felicidade.

Quando Emily chegou ao corredor, ele chamou sua atenção porque ficava em frente a um outro quadro, que lhe era completamente oposto. Enquanto o de Arnold ficava em uma paisagem ao ar livre, com um gramado muito verde e uma cachoeira, seu vizinho era uma sala de escritório sombria, com uma poltrona de couro e uma lareira de chamas verdes, mas que estava vazio.

Na verdade, nos meses em que tinha estado ali, nunca havia visto aquela moldura ocupada por alguma figura. Os traços do lápis de Emily pararam enquanto contornava os dedos do homem, consumida pela curiosidade.

— Senhor Plomming, quem que fica nesse quadro? — ela perguntou, apontando com o lápis.

O sorriso contagiante da pintura ficou abalado, movendo seu olhar da garota para o quadro repetias vezes, como se estivesse processando lentamente o que tinha acabado de ouvir. A rosa balançou em seus dedos, como se ele estivesse tremendo.

— Oh , não, não, não! Querida, essa é uma história muito, muito triste. Triste demais para que eu possa contar. — choramingou Arnold com a voz embargada. — Ninguém deveria passar por aquilo, não, não...

— Sinto muito, não quis chateá-lo. — Emily falou, surpresa com a súbita mudança de humor.

— Heróis são os que mais sofrem com o amor, como pode?! — ele a ignorou, completamente envolvido em sua lástima. — Tão jovem, tão apaixonada... Oh, que mundo cruel!

Rise [The Heir]  → H. J. PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora