4. O Expresso de Hogwarts

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Pelo que pareceu ser a milésima vez naquele dia, Emily esvaziou a grande mala em cima de sua cama, contando cada um dos artigos com cuidado, tendo certeza de não pular nenhum. De todos os passatempos que tinha criado durante as férias, aquele tinha que ser o mais irritante e inútil.

Os livros foram os primeiros a serem colocados, ordenados de acordo com seus tamanhos, seguidos do caldeirão preenchido pelos ingredientes de poções que usaria durante o ano. As roupas do uniforme ficaram por cima, junto com suas outras roupas mais casuais. Sapatos e acessórios não ficaram de fora, assim como sua escova de dentes.

Quando tudo estava em ordem, Emily encarou firmemente para suas coisas, com uma coceira dentro de sua cabeça da qual ela simplesmente não conseguia se livrar. Mais cedo, antes de sair para o trabalho, Megan havia dito que era apenas o nervosismo e animosidade por embarcar no dia seguinte, que ela precisava tentar se distrair com alguma outra coisa.

Contudo, seu conselho passou direto pelos pensamentos da mais nova, que passou horas andando de um lado para o outro na casa, tentando descobrir o que estava esquecendo. Whiskers, o gatinho preto que adotaram no Beco Diagonal, achou que estavam brincando e a perseguiu, pulando em suas pernas para escalá-las.

Decidindo finalmente fechar o zíper, em desistência, Emily tirou a mala da cama e ocupou o seu lugar, encarando o teto fixamente enquanto a pequena bola de pelos se deitava em seu peito, ronronando enquanto se aconchegava. Um sorriso dançou pelos lábios da garota, que acariciou o felino agradecendo mentalmente sua presença naqueles dias solitários.

Durante todo o mês de agosto, Emily leu todos os livros comprados para ocupar seu tempo, ocupando todas as suas horas vagas para tentar entender mais daquele mundo novo do qual seria arte. Uma tarefa fácil, mas um pouco depressiva quando lembrava que não tinha outras opções.

Harry, sua única amizade restante, tinha sido confinado dentro da casa dos Dursleys desde que voltaram de viagem, sem permissão para sequer ir até a porta da frente. Segundo a senhora Feldstein, ele seria mandado para o internato St. Brutus para meninos malcriados.

Ao ouvir o rumor, a primeira atitude da jovem Sommers foi de correr para sua mãe e implorar por sua ajuda, perguntando se não havia nada que pudesse ser feito para defender o Potter. Seus esforços foram encontrados apenas com o descaso e despreocupação da mulher.

— Se acreditássemos em tudo que a velha Feldstein tem a dizer, iríamos ficar loucas. Harry vai ficar bem. — Megan relevou. — Agora, cadê as minhas chaves do carro?

Como sempre fazia quando o um assunto se tornava desconfortável, Megan mudou de assunto e saiu da cozinha, ignorando os protestos da mais nova. Era sua forma bastante clara de dizer que não haveria discussão, não importava o quão frustrante fosse.

Emily tentava entender como ela conseguia fazer aquilo, ver uma situação injusta e ignorá-la, agir como se fosse problema de outra pessoa, abdicando de toda a responsabilidade. Se pudesse, a garota iria sozinha até a casa da frente e arrancaria o garoto das garras daquelas pessoas desprezíveis.

Com seus dedos correndo pelos escuros de Whiskers, o olhar dela parou nos adesivos de estrelas em seu teto, que formavam a sua constelação favorita: A Ursa Maior. Se lembrava de desenhar rabiscos em seu caderno em meio a uma aula de história, em que seu professor contava sobre o mito de Calisto, a mulher transformada em ursa como uma vingança da deusa Hera por ter se deitado com seu marido, Zeus.

Se lembrava da história ter ficado gravada em sua cabeça, pois a ouviu no mesmo dia em que...

Os olhos de Emily se arregalaram, tirando Whiskers de seu colo e se levantando da cama rapidamente. A coceira em seu cérebro finalmente cessando.

Rise [The Heir]  → H. J. PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora