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- não vai comer? - minha mãe perguntou depois de cinco minutos comigo encarando a comida - o macarrão vai esfriar.

- não to com fome hoje.

- é bom comer mesmo assim - meu pai disso frio do outro lado da mesa.

Revirei os olhos, e resolvi obedecer. Enquanto comia, fiquei calculando o momento pra começar a colocar meu plano em prática. Deixei os dois conversando enquanto isso, falando algumas coisas sobre as dispesas do restaurante.

Me endireitei na cadeira e afastei meus cachos dos ombros. Respirei fundo e repeti pra mim mesma que faria isso por minha filha e por JJ. Não era o plano mais brilhante do universo, mas foi a única coisa que eu consegui pensar em meio a tanto desespero.

- mãe... - chamei mas ela não me deu ouvidos, ocupada demais com meu pai. Me endireitei mais ainda e escondi minhas mãos debaixo das coxas - mãe?

Ela finalmente se virou pra mim. Meu pai fez o mesmo.

- o que foi?

- eu andei pensando sobre... - juntei o restinho de coragem que ainda tinha em mim e fiz a minha melhor atuação - sobre a faculdade.

Meu pai ergueu uma sombrancelha, surpreso. Já minha mãe demorou um pouco pra forçar um sorriso, provavelmente intimidada pelo olhar de advertência que meu pai lhe lançou.

- a-ah... isso é ótimo, querida. Já pensou num curso?

- talvez medicina - tive que apertar a cadeira pra não vomitar ao dizer aquelas palavras.

- sempre soube de sua vocação pra ser médica - meu pai disse orgulhoso - e vai fazer quando?

- bem... eu andei pesquisando e conversando com algumas pessoas da faculdade, sabe? - prossegui - e eles sugerem que eu faça a matrícula e as provas o quanto antes, e queria saber se vocês podem pagar a minha moradia e o curso...

- moradia?

- a faculdade é bem longe de outer banks, e por isso seria melhor que eu saísse de casa. Pelo menos por um tempo.

Eles se entreolharam.

- eu sei que vocês ainda estão chateados comigo... - disse num tom baixo - mas talvez esse possa ser o meu recomeço. Eles ofereçem um atendimento especial pras alunas grávidas, também.

Um pequeno momento de silêncio surgiu entre nós.

- eu andei estudando as provas e elas parecem ser bem simples - sorri forçadamente - eu tenho chance de passar, mãe. Mas preciso que vocês me liberem pra isso.

- é muita coisa pra pensar ainda, filha - ela disse - nós temos o dinheiro e te apoiamos nisso, mas... - seu olhar me percorreu dos pés a cabeça - você tá grávida agora.

- e daí?

- e daí que não quero que dê a luz num hospital universitário e crie sua filha num dormitório.

- eles oferecem creches e posso combinar com minhas colegas de quarto pra me darem assistência - menti cruelmente - já fiz algumas amizades virtualmente.

- não é tão simples assim, kiara. Ou você cria sua filha ou você estuda.

Balançei a cabeça negativamente.

- querida, que tal esperar até ela completar 1 ano e...

- é simples sim - interrompi meu pai, que tentava manter a calma - vocês que não querem me ver longe daqui.

- não é isso e não grite com a gente - minha mãe alertou.

Me levantei da mesa, arrastando a cadeira pra trás com uma certa força. Eu iria sair dali, não importa o que aconteça.

- eu quero dar um futuro bom pra ela - prossegui, falando a verdade pelo menos uma vez desde que essa conversa se iniciou - e ficar trancafiada aqui não é o melhor começo.

- você não está trancafiada, só está proibida de se encontrar com...

Meu pai tocou no braço da minha mãe pra que ela parasse. Ela jogou o garfo na mesa e bufou.

- e não vou me encontrar com eles - minha voz facilou e parti pro primeiro argumento que veio na minha cabeça - eu terminei com o JJ e aprendi a lição. Agora me deixe recomeçar.

Ela cruzou os braços, ficando quieta e dando liberdade pra que meu pai assumisse.

- estamos orgulhosos de você, kiara e muito felizes que finalmente tenha se tornado uma kook de novo, mas... - ele engoliu seco - eu e sua mãe temos que decidir sobre isso ainda. Pode nos dar até amanhã pra pensarmos numa solução?

Ótimo. Me senti aliviada por ter dado certo, em partes.

- antes do café da manhã. As matrículas pras provas terminam amanhã a noite e preciso estar lá até no máximo depois de amanhã - complementei com mais informações falsas.

Minha mãe resmungou alguma coisa.

- tá, vamos pensar.

- obrigada.

E ainda sob a face que usei pra atuação, subi pro meu quarto e fechei a porta, deixando escapar um sorriso felino. 

- quase lá...

JJ and Kiara//outer banks⛱Onde histórias criam vida. Descubra agora