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Depois que tinha terminado de limpar todas as mesas, peguei minhas coisas e fui pra casa. 

Tinha passado os últimos dias do meu terceiro mês enjaulada e sem nenhuma notícia do pessoal. Não fazia ideia de onde JJ poderia estar ou com quem estava. Meus pais monitoravam até as visitas que surgiam pra me manter ao máximo afastada deles.

Hoje seria meu primeiro ultrassom, o que me desanimava um pouco por não poder ao menos avisar JJ sobre isso. Ele provavelmente nem sabia que eu já tinha iniciado o quarto mês e que já tinha ido duas vezes na médica.

Por um momento quis gritar com meus pais por estarem privando ele disso tudo. O filho não era só meu. Mas também, ele deveria estar sobre o controle do pai e muito mais angustiado que eu.

Entrei em casa, e passei reto por minha mãe que já estava pronta. Meu pai não nos acompanharia hoje.

- troque de roupa. Saímos daqui há 5 minutos.

Sem responder subi pro quarto, desfazendo o rabo frouxo no topo da minha cabeça. Tirei minha bandana e encostei a porta. Escolhi uma blusa qualquer e permaneci com mesma a calça. Deixei meu cabelo solto e me troquei, colocando meu tênis surrado.

Voltei pra sala e minha mãe se levantou, pegando as chaves.

***

- ansiosa pra ver seu bebê? - a médica fez aquela voz melosa pela terceira vez.

Assenti com a cabeça, forçando um semblante calmo. Me deitei na cama, e levantei minha blusa até uma certa altura. Minha mãe se sentou numa cadeira e enquanto a médica organizava o aparelho, ela ficava distraída no celular.

- presumo que seja sua primeira vez no ultrassom, não é? - a médica prosseguia animada com o serviço.

- sim.

- sabe, kiara - ela sorriu - particularmente, prefiro atender mães de primeira viagem. São as coisas mais fofas e atenciosas que eu já vi.

Forçei um sorriso e me ajeitei mais na cama, não sabendo ao certo se era um elogio.

- mas chega de convesar - ela pegou um gel - mãos a massa!

A moça começou a espalhar o gel pela minha barriga, me fazendo recuar um pouco por conta do contato frio daquilo na minha pele.

Ela riu vendo que eu me recuei pra trás.

- relaxa, depois você acostuma.

Tentei ir me adaptando a sensação do contraste frio na minha pele quente. Ela limpou as mãos quando terminou e pediu pra que eu ficasse numa posição confortável, antes de começar a passar o aparelho no inchaço sobre meu abdômen.

Olhei de lado pra minha mãe, que mal se importava com o que estava acontecendo. Aparentemente o celular era bem mais interessante do que o ultrassom.

Não me deixei abalar por isso, afinal o desinteresse era recíproco. Mal conversava direito com ela sem conseguir perder a cabeça.

- seus exames falaram que já faz 5 dias que entrou no quarto mês, certo? - a médica pergutou, arrumando o aparelho nas mãos.

- isso.

Ela sorriu, um pouco mais empolgada.

- vamos poder escutar o coraçãozinho dele - a médica exclamou.

Não sabia o que responder e por isso só retribuiu com um pequeno sorriso. Assim que ela começou a passar o negócio por minha barriga, recuei mais uma vez por conta do sensação gelada. Ela riu fraco e continuou a trabalhar.

- vamos ver... - ela ficava olhando pra tela enquanto deslizava o aparelho sobre meu ventre - ele deve estar por aqui...

Começei a ficar um pouco nervosa por não enxergar nada na tela. Mordi meu lábio inferior percebendo que a moça estava um pouco mais preocupada e atenta.

- tá tudo bem com ele? - me arrisquei a perguntar.

Mas a resposta veio de prontidão por meio do som mais lindo que já pude escutar. Minha respiração parou e por um momento só existia eu e as batidas fortes do meu bebê ecoando pela sala.

Desejei com todas as forças do meu ser que JJ também pudesse ouvir isso. Fiz uma nota mental prometendo pra mim mesma que ele iria escutar, nem que pra isso eu tivesse que comprar meu próprio aparelho de ultrassom.

A médica sorriu e apontou pra uma coisa mais escura na tela.

- aqui - a moça tocou na parte destacada - ele tá bem aqui. Consegue perceber?

Não sei porquê mas as palavras me faltaram e quase que não consegui balançar a cabeça pra confirmar o que via.

Minha mãe ergueu o rosto pra gente e suspirou, desviando o olhar pra tela. Ela ficou sem reação, e diria até que um pouco entediada, mas pelo menos nos poupou de demonstrar seu desgosto.

- ele tem o tamanho de um abacate. Incrível não? - a médica prosseguiu - e está bem saudável. Diria até que bem animado pra sair logo dai.

Sorri com a ideia de te-lo logo nos meus braços. Somente eu, JJ e nosso pequeno abacate.

- dá pra ver o sexo?

- não com 100% de certeza... - ela avaliou mais - mas já na próxima consulta, talvez esteja mais visível. Ele é um pouco tímido pelo visto.

Sorri mais uma vez com os comentários gentis que ela fazia.

- você vai perceber que os enjoos já vão diminuir bastante, mamãe - ela conversava comigo - e vai ser normal a mudança de humor e se sentir inchada. Seu corpo vai dar uma boa mudada a partir de agora.

- já comecei a perceber.

Me recordei da semana passada, que meu short não queria fechar direito e que uns dois sutiãs meus estavam mais apertados do que o normal.

- mas, se sentir qualquer coisa muito diferente disso, pode vir pro hospital que nós iremos resolver. Tá bom?

Assenti.

- quer dizer tchau pro abacate? - ela me perguntou com mais um sorriso.

- não precisa.

- então tá... tchau mamãe... - ela imitou uma voz fina que me roubou mais sorrisos.

E pela primeira vez em dias, me senti feliz de verdade.

JJ and Kiara//outer banks⛱Onde histórias criam vida. Descubra agora