Em família

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Na preserve de Beacon Hills uma propriedade antiga se reergueu das cinzas. A quem estranhasse que os moradores escolhessem um local tão afastado da cidade. Geralmente eram moradores novos que não conhecia o histórico de excentricidade dos daquela propriedade.

Mas quem conhecia os segredos da cidade achava o local estratégico. Perfeito para um dia específico de cada mês. Ladeado por arvoredos e fauna. Recheado de ar livre e puro.

A construção em si não era exatamente igual ao antigo casarão. Era um pouco menor e mais atual. Muito embora ainda tivesse suas semelhanças. Era o suficiente para uma família de três pessoas e mais alguns. Tinha um toque dos donos em cada canto. Desde o primeiro tijolo até o último prego. Dando-lhe uma aura única.  havia outra igual ou semelhante.

Desde a cor de alabastro das paredes. O ferro forjado que se retorcia e encruzava-se um no outro, dando forma aos portões enegrecidos. As pedras sobre a grama, que guiavam os visitantes até a varanda. Na placa de aviso – encrustada no portão – havia uma piada, uma brincadeira humorada e íntima dos donos e dos seus amigos próximos.

Nela dizia – entalhado em relevo – o seguinte: Bem vindo a casa dos Halinski.

No interior da nova casa, primos discutiam por algo bobo. Não era exatamente uma briga, mas os dois viam-se diante de um impasse. Ambos irredutíveis em suas escolhas.

Que roupa ela vai usar?

Cada um possuía uma opinião formada sobre o que escolher, sobre cada peça de roupa. E nenhum gostava da outra oferecida. Eram dois adultos, mas naquele momento pareceram esquecer desse fato e agiam com birra; na presença da verdadeira criança

Uma veia já começava a latejar no pescoço de Derek. Os olhos fixos na roupa que queria que a menina usasse. Em seus braços ele carregava sua filha, Laura. Uma garotinha de sete anos, enrolada em uma toalha que se remexia agoniada em seus braços.

Malia Tate – sua prima e rival naquele impasse costumeiro – possuía um olhar avaliativo nas roupinhas sobre a cama. A mulher era expert em ignorar o mau-humor do primo – só quem lhe superava era o marido do homem, que aguentava-o por mais tempo – e estava indiferente a carranca do moreno.

— Que tal essa aqui?

Ela descruzou o braço e apontou para a calça jeans. E em seguida seu indicador pulou para uma camisa xadrez sobre a cama. Não mudava muito a essência das suas escolhas; eram sempre jeans e camisas. Nada muito diferente do seu próprio estilo.

Laura grunhiu frustrada pelo tédio. Agarrando-se aos ombros largos do pai, tentando-o escala-lo usando de apoio sua barriga saliente. A camisa do homem já estava toda amassada, nem parecia que minutos atrás havia sido engomada.

Ele parecia não ligar. Seu olhar foi fisgado pelo indicador da prima, um olhar indignado.

— Malia. A minha filha não vai se vestir igual a um caminhoneiro...

O moreno protestou. Sua prima rolou os olhos.

— O vestido, sim. O amarelo florido.

Ele apontou o queixo barbudo para a peça de roupa, quase oculta na pilha de roupas. Imaginando que ficaria muito bem na pele morena e ressaltaria os olhos de âmbar.

— fique quieta, querida.

Pediu, segurando-a com mais firmeza. Mas não adiantou muita coisa; a garota reclamava que queria ir para o chão. E agitava os braços e pernas.

Era assim, na maioria das vezes que estavam juntos, tratavam a garota como se fosse uma boneca. Escolhiam suas roupas e adereços. E quando estavam juntos brigavam.

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