Ever devia estar louca, ou no mínimo queria ter mais trabalho; ela percebeu que tinha perdido o livro quando chegou em casa. As vezes isso acontecia, umas quatro vezes no total; mas ela voltava todo o caminho até encontrar ele de novo, geralmente as pessoas não se importavam com ele, considerando que estava “em branco”. Ela precisava ficar atenta. Não que se o livro sumisse ela iria deixar de ser amaldiçoada, os deuses dariam um jeito do livro retornar até ela, onde estivesse.
Ela sabia que estava com o livro quando saiu do metrô, então só podia ter o perdido na rua. Ela refez o caminho reverso, mas não encontrou-o.
Por sorte, dessa vez, seu protagonista era um empresário rico, então podia encontrá-lo sem o livro. Ela pesquisou por ele na internet, e viu o endereço do hotel que ele era dono, seus pais o tiveram na Inglaterra, ele tinha cidadania inglesa, mas toda sua família morava na Coreia do Sul.
Ele era considerado um homem inteligente, e algumas casamenteiras adorariam fazer os arranjos do seu casamento. Ele era influente.
Ever pesquisou qualquer possível cargo disponível para que ela pudesse se aproximar dele. Por sorte estavam contratando recepcionistas. Ela podia ganhar aquele cargo sem nenhum esforço, graças a sua maldição, ela havia conhecido vários países e línguas, e se sentia confiante de sua aparência. O príncipe a chamava de flor inglesa; devido sua aparência delicada e suave.
Quando estava viva sua pele tinha um tom rosado, seus lábios eram avermelhados, os cabelos eram como raios de sol dourados. Ela era uma moça que despertava o interesse masculino. Por isso, todas as vezes que viajava, ela deixava vários homens apaixonados para trás. E seu pai temia que ela acabasse seduzindo a algum de seus alunos. E foi o que ele mais temia, que aconteceu.
E todos morreram por causa dela.
Ela era filha única de um estudioso inquieto, que viajava por todo o mundo, naquela época; atrás de mais conhecimento, e ensinando tudo o que sabia. Foi assim que acabou no Palácio. Seu pai se tornou um dos muitos tutores do príncipe, e ela e sua mãe passaram a viver em meio a realeza. Não sabiam que ambos os jovens acabariam se apaixonando. O rapaz era muito comprometido e sério para se apaixonar por uma estrangeira sem status.
Quando descobriram tudo, seus pais foram decapitados, e ela e o príncipe fugiram. Mas não puderam se esconder. Um dia eles seriam encontrados. E quando isso finalmente aconteceu, ele foi executado na sua frente, tentando protegê-la foi alvejado por flechas. A última lembrança que ela tem dele, é do exato momento que o corpo fraco dele caiu de joelhos e sangue saia de sua boca, até tombar totalmente no chão sem vida.
Ever não pôde acreditar que o tinha perdido. Quando sua mão tocou o corpo dele, ela não conseguiu sentir nada, suas mãos ensanguentados tentavam a todo custo segurar ele próximo ao seu corpo. Ela só podia gritar. Doía tanto. Quando seus olhos procuraram seu agressor, ela viu o rei segurando o arco, então entendeu que um pai teve que matar seu próprio filho para continuar no poder. Ela abraçou o corpo sem vida do príncipe, sabia que iria morrer, não tinha para onde correr, de um lado o rei e seu exército, do outro um precipício.
– Vou te amar, ainda que eu tenha que morrer! – sussurrou encostando a testa na dele. Quando depositou o corpo do seu amado no chão com cuidado, recebeu a primeira flecha no peito, do lado direito. Mas não doeu tanto como ela pensou, tentou ficar de pé, e veio a segunda flecha, do lado esquerdo. Mas Ever continuou em pé. Nada doía mais que perder ele. Ela começou a caminhar na direção do precipício, os passos vacilantes, a força ameaçava a deixar a qualquer momento. Na borda do fim, ela olhou para o rei.– Que esse amor seja sua maldição! – ele gritou antes de acertá-la na barriga, desequilibrando-a, de forma que ela apenas se deixou cair contra as rochas. Pondo fim a sua vida.
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A Maldição do Cupido
Roman d'amourQuando o amor se torna uma maldição? Mil anos atrás o amor era um sentimento superestimado, que poucos tinham direito a ter. Não havia amor entre pessoas diferentes, não poderia haver amor entre classes diferentes. Esse sentimento tão lindo e forte...