Capítulo 3

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Ever quis se reencontrar com o protagonista durante o dia, mas ele não voltou a passar pelo saguão. Aquilo a deixava apreensiva e ansiosa.

Daniel passou o resto do dia no seu escritório. O quadro intitulado Razão estava pendurado na parede à sua frente, ele não sabia dizer por quê, mas aquela obra mexia com suas emoções, ao ponto de ter que comprá-la. E depois de se encontrar novamente com a senhorita Ever Love, Daniel se sentia estranhamente ligado à ela.

Seu celular começou a tocar lhe tirando de seus devaneios.

– Mãe?! – Ele atendeu.

– E então? Te enviei uma foto de Kang Hi Na atualmente. – Sua mãe falava entusiasmada. – Ela é uma graça, não é? – A senhora dizia eufórica. – A mãe dela e eu estudamos juntas na escola, e a família Kang esta indo muito bem na Coreia. O irmão dela é um juiz respeitado.

– Eu não acho que isso irá funcionar mãe. – Ele comentou cansado daquela história, não queria um casamento arranjado. – Eu não sinto nada por ela.

– Park Kim Moon! – Sua mãe chamou seu nome coreano, o que significava que ela estava irritada com ele. – Seu pai e eu demoramos três anos para nos apaixonarmos. Não estou pedindo que a corteje e se casem mês que vem, só quero que saíam juntos e vejam se podem ser um casal no futuro; Kang Hi Na é uma garota maravilhosa, você vai perceber com o tempo.

Hi Na podia ser maravilhosa, mas ela nunca despertou interesse nele. Ele só conseguia se lembrar da menina mimada que conheceu meia década atrás; e desde que sua mãe cismou em fazer deles um casal, a vontade dele de revê-la só tinha diminuído.

– Hi Na e eu, não nos vimos a cinco anos!

– Mas isso não parece ser um problema para ela! Hi Na já demonstrou interesse em ter uma relação mais íntima com você, sua mãe me ligou noite passada contando a notícia. Só falta você se abrir também. Antes que diga não, quando vier para a Coreia pode sair com ela. Hum?

– Oh, mãe! Se eu sair com ela, a senhora para de insistir?

– Se você se encontrar com ela mais 10 vezes, e não gostar dela; eu te deixo em paz. Eu só quero que você seja feliz e forme uma família. Na sua idade seu pai e eu já estávamos casados.

– Me encontro com ela mais cinco vezes, e não falamos mais nisso.

A senhora Park estava muito feliz com aquela resposta. Daniel podia imaginá-la sorrindo abertamente, já imaginando como seria a arrumação do casamento. Mas ele não queria um casamento com interesses em comum, ele sentia que estava à procura de algo nesses últimos anos, e ainda não o tinha encontrado. Não tinha certeza do que era, mas saberia assim que o visse. Acreditava firmemente nisso.

Ele encarou o quadro. O que o autor pensou quando estava pintando?

Por algum motivo aquela pintura o fazia pensar em Ever. E mesmo buscando alguma explicação ambas pareciam ser distintas entre si, sem qualquer ligação. Depois de horas intermináveis pensando em uma recém contratada, ele decidiu que precisava sair para espairecer.

Ever tentava dar o máximo de atenção possível ao cliente confuso a sua frente, mas estava preocupada com sua outra missão. Ela nem conhecia a mulher ainda, tinha que agir dos dois lados, sem deixar nenhuma brecha, levando-os a acreditarem que eles caminharam até ali sozinhos. Fazia tanto tempo que tivera um emprego que estivesse sempre em contato com pessoas, que havia esquecido como era cansativo, e como deixava seu dia ocupado. As horas voavam. Precisava mudar de cargo o mais rápido possível.

Quando foi anunciado a troca de funcionários, ela percebeu que um dia tinha passado e não houve nenhuma evolução no plano de juntar o casal 732. Chateada ela caminhou para fora do hotel, iria para casa, programaria bem seus próximos passos, de forma que fosse bem rápida em juntar aquele casal. E por fim aquela missão.

Algumas pessoas caminhavam pelas ruas, barracas foram montadas. Muitos jovens se divertiam brincando entre si. Um dia normal. Ever queria saber qual era sensação de brincar com amigos, sorrir para seu namorado, caminhar de mãos dadas em qualquer lugar. Sorrir, sem se preocupar se estava sendo vista. Aqueles momentos a deixavam nostálgica.

O príncipe a levava para caminhar, a explicava sobre as flores do seu jardim secreto. Ever o ensinava a dançar e contava histórias inglesas. Ele ensinou ela a escrever e a ler coreano, e a ajudava com a pronúncia de algumas palavras, contava histórias do folclore coreano. Ela cantava para ele dormir. Eram companheiros, e confidenciavam segredos. Ninguém chegou a saber, nem metade, do que eles sabiam um do outro. Em frente a outras pessoas eram frios e distantes, mas quando se encontravam eram como chamas ardentes, irradiando luz e calor para o outro.

Ever se lembrava de ter sido a primeira a roubar um beijo dele. Foi a primeira vez que ela foi ousada, aproveitou de um momento que ele estava distraído e colou seus lábios nos dele. No primeiro instante ele ficou chocado, mas depois retribuiu o beijo com mais ousadia que ela. Seu coração parecia que ia explodir, estava desenfreado no peito; tinha a sensação que iria morrer de tão fortes que eram as batidas, mas foi maravilhoso. Foi um dos momentos mais lindos que viveu.

[ – Você me ama? – Ela perguntou em dos seus últimos encontros com ele, mas ela não sabia que estava chegando ao fim.

– Queria eu, só te amar! – Ele encarou o céu cheio de nuvens. Ambos deitados no chão lado a lado. – Sinto que você é parte de mim, – Ele olhou nos olhos dela. – Somos um só.

Naquele momento ele estava confessando o quão profundo eram seus sentimentos por ela. Uma garota comum fez da vida do príncipe um sonho. E ele tornou aquela garota comum em uma verdadeira princesa.

Ever pousou a cabeça no peito dele e o abraçou.

– Nunca vou te deixar ir. – Ela prometeu. – Você faz parte de mim. –  Ela repetiu a frase dele sorrindo enquanto se olhavam. ]

Se soubessem teriam parado o tempo naquele momento, sem se preocupar com nada, apenas ficarem ali.

O amor devia ser para todos. Devia ser livre. Mas o mundo o aprisionou em suas regras estúpidas, o prendeu em seus status cruéis. Fizeram de algo tão puro um comércio, onde só quem pagar mais caro podia levar.

A brisa noturna estava carregada de bons sentimentos. O vento carregava risadas e o cheiro delicioso de pratos quentes e doces. Mas Ever não compartilhava de nada daquilo, era uma intrusa, um ser que não devia estar existindo, porém ainda existia.

Totalmente alheia ao que acontecia ao seu redor, ela continuou andando. Mas parou quando pisou em um pedaço de papel, sem querer manchou o que parecia a foto de alguém. Ela abaixou-se para pegar e seus dedos tocaram nos dedos de outra pessoa. A primeira coisa que viu foi um par de sapatos masculinos.

Ela levantou os olhos, um rapaz inglês a encarava.

– Me desculpe, mas pode soltar a foto? – o tom gentil a fez se afastar. Ambos se levantaram juntos. – É a minha namorada. – ele comentou.

– Ela é muito bonita. – Ever elogiou.

– Vou a reencontrar hoje depois de um ano fora à trabalho. – a euforia dele o fazia soltar a língua, Ever percebeu.

– Boa sorte! – Ela desejou, pondo fim aquela conversa estranha. O rapaz agradeceu, e saiu da sua frente. Mas a única coisa que ela notou foi o homem parado mais à frente a encarando.

Talvez estivesse sonhando, mas Daniel Gold estava na sua frente, a poucos passos de distância.

“Nos encontramos de novo!” – Daniel pensou.

A Maldição do CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora