Capítulo 4

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– Senhorita Love? – Ele foi o primeiro a se pronunciar. Ela não podia fingir que não o tinha visto.

– Senhor Gold.

Aquela silêncio estranho a deixava desconcertada e com uma sensação incômoda. Ela esperou pelo próximo passo dele. Daniel caminhou calmamente até ela, reduzindo o espaço que os separava.

– Dizem que uma vez é coincidência, mas três é destino. – Ele se referiu ao número de encontros não programados entre os dois.

Ever sorriu.

– Então ...

– Então ... ? – Ela repetiu.

– Precisa de uma carona? – Ele perguntou sem aviso.

– Não, eu estou apenas dando uma volta.

O silêncio voltou a reinar entre eles, era muito constrangedor. Eram estranhos, mas trabalhavam juntos.

– Nesse caso, então ... eu vou embora. – Ele fez um gesto na direção do carro estacionado próximo.

Ever apenas concordou, e observou ele ir embora. Mais uma vez ela deixava ele ir embora.

Daniel olhou para Ever através da janela do carro, assim que ele sentou no banco do motorista ela se virou e continuou andando. Ele se recriminou por aquela conversa, se é que podia chamar de conversa meia dúzia de palavras mal faladas; quanto mais pensava, mais se sentia idiota por aquele momento estranho que compartilharam.

Decidido a fingir que aquilo não aconteceu, ele ligou o veículo. Depois de uma boa noite de sono, o amanhã seria um novo dia. Quando chegou em casa percebeu o livro ainda jogado sobre o banco traseiro do carro. Ele o pegou, e se prometeu devolver ainda de manhã.

Ever tinha a forte impressão de que aquele casal seria diferente. Muitos anos naquele trabalho fizeram ela notar a diferença entre amores. Alguns eram passageiros e importantes naquele momento, mas outros eram eternos, típica alma gêmea. Ela gostava de almas gêmeas, mesmo depois que uma parte ia embora o amor permanecia, firme e forte, como se nunca tivessem se separado.

Ela se perguntou se seu amor pelo príncipe era de almas gêmeas, quando estava profundamente triste e com saudades ele vinha à sua cabeça. Era tão real que ela se lembrava dos momentos juntos, e sentia as mesmas emoções do momento.

[ – Se você não viesse até mim, eu iria até você! – Ele declarou uma vez.

– E como você planejava me encontrar? – Os olhos brilhando ansiosa pela resposta.

– A gente iria se encontrar de qualquer forma. Somos atraídos um pelo outro. De uma forma ou de outra eu encontraria o caminho até você! – Ever sorriu, e ele pegou sua mão, entrelaçando seus dedos. – Você é tão minha, quanto eu sou seu.

Ele beijou a mão dela e colocou sobre seu peito. Ela podia sentir através da roupa as batidas frenéticas do coração dele. Seu príncipe cuidadosamente controlado na frente dos outros, perdia o controle ao lado dela. Ela pegou a outra mão dele e colocou sobre seu peito, segurando-a ali. Eles não disseram nada, só sentiam as batidas de seus corações, na mesma velocidade, no mesmo ritmo. Os olhares se cruzando, sem abandonar um ao outro.

Corações que se entendiam não precisavam de palavras. Minutos, talvez horas se passaram com eles se olhando e conversando em uma língua que apenas os apaixonados podiam decifrar.

– Você é tão meu, quanto eu sou sua! – Ever repetiu a frase. Confessar algo à alguém nunca lhe tinha sido tão fácil.

O príncipe sorriu; se aproximou dela devagar, sem deixar seus olhares se afastarem ele a beijou, no meio do seu lugar secreto, onde só a natureza podia ouvir e ver suas confissões de amor. ]

Ever tocou seus lábios, depois olhou para suas mãos. Os dedos dela se acostumaram a textura da pele dele, ele estava gravado em seus sentidos. Seu cheiro, sua voz, sua risada, sua pele. O que ela viveu com ele, um milênio não era suficiente para esquecer. Ele estava em seu corpo, seu coração. Mesmo que sua mente esquecesse, seus sentidos se lembrariam.

Entretanto não era verdade o que diziam, que uma garota como ela não podia ser amada por um príncipe. Ele a amou, profunda e loucamente. Com toda a intensidade que o amor deve ter. O que era verdade, era que as pessoas não podiam aceitar que ela, uma garota sem nada fosse amada por um homem que supostamente tinha tudo. O mundo não conseguia lidar com o amor deles, mas isso não os impediu. Até o fim, essa era promessa deles. Amar um ao outro até o fim. Como todos os humanos deviam fazer. Como o amor devia ser.

Ela chegou em casa, um cômodo silencioso, com poucas coisas. Ela estava sempre de passagem, então não precisava de muita coisa. Uma cama vazia esperava por ela. Pela janela as luzes da cidade brilhavam. Ever se jogou sobre o colchão e fitou o teto, logo deixaria aquele apartamento para seguir em frente. Ela deixaria Daniel para trás, e encontraria vários novos homens. Seguindo a maldição.

Pouco depois de chegar no hotel para cumprir seu turno, Ever foi convocada no escritório de Daniel. Ela pensou se o tinha ofendido de alguma forma, mas não se lembrava de nada que tenha feito de errado. Então se dirigiu o mais rápido que pode ao encontro dele. Daniel estava em pé em frente a uma pintura.

Batidas suaves na porta anunciaram a chegada dela.

– Com licença sr. Gold. – ela pediu.

Daniel a chamou para entrar.

Ambos ficaram em frente ao quadro Razão. Alguns minutos se passaram sem dizerem nenhuma palavra, apenas observando a imagem ali pintada.

– O que você acha que o pintor quis dizer? – se referiu ao título do quadro.

– O que o senhor acha? – Ela retornou a pergunta, queria saber o que ele estava pensando.

– Acho que ele quis demonstrar como é fácil perder o controle de uma situação. – Ele comentou enquanto olhava a obra.

– Ou talvez ele quis questionar qual o sentido de amar algo que pode ser tirado de você? – Ever só conseguia pensar que aquela pintura podia facilmente ilustrar o desfecho da sua história de amor. Ela só conseguia se perguntar: “Qual o sentido de amar? Por que eu não posso o amar?”

– Você já perdeu algo? Alguém? – Ele sentia que ela estava falando de si mesma.

– Todos nós já perdemos.

– Ah propósito, – Daniel deixou-a sozinha na frente da pintura e foi até sua mesa buscar seu livro. Estendendo o livro à ela percebeu sua confusão. – Você esbarrou comigo na rua algumas noites atrás. O deixou cair. Por isso a chamei, para devolvê-lo.

Ela pegou na capa antiga e se sentiu mais uma vez sendo manipulada pelo livro.

– Não acredito em coincidências. – Ele confessou. – Acho que estamos destinados.

A Maldição do CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora