– O livro desapareceu. – Ela confessou assim que ambos chegaram ao quarto dela.Oh Hyung olhava pela janela, de costas para ela. Tudo naquele momento a fazia sentir que seus instantes felizes não durariam muito.
– Acho que pode imaginar o que significa. – Ele disse.
– A maldição ... ela acabou, não é?– Está quase no fim, logo vou desaparecer, e você, – Oh Hyung olhou para ela. – também vai sumir.
Ever caminhou e ficou ao lado dele observando a paisagem noturna, o céu tinha se fechado, como um anúncio do tempo escuro que se seguiria na vida dela.
– Quanto tempo tenho? – o desespero tomava seu coração. Precisava de tempo para fazer ele feliz, pelo menos por um instante.
– Eu não tenho certeza, depende de você. – Voltou a olhar pela janela.
– Oh Hyung – Ever olhou para o perfil dele. – Me perdoe.Ele apenas sacudiu a cabeça afirmativamente. Havia estado ao lado dela por muito tempo, para entender que aquele pedido de perdão era por ela estar gostando de outro homem.
– Tudo bem. – Ele garantiu com um sorriso. – Eu sei que você me ama.
Ela sabia, do fundo do seu coração, que aquele sorriso carregava mais dor, do que lágrimas.– Sim, eu te amo! – Ela olhou para ele, e esperou ele a olhar. – Eu sempre vou te amar!
Ela viu a sombra dele desaparecer aos poucos. Mas seu último sorriso havia sido verdadeiro e puro.
Ever continuou em frente a janela, nuvens pesadas cobriram todo o céu, durante a noite houve uma chuva torrencial, as gotas batiam no vidro com violência, talvez com a mesma força das batidas do seu coração.
“Aquilo era o fim? Realmente tudo iria acabar?”Ela não pôde dormir, estava tão inquieta e apreensiva. “E se ela simplesmente não acordasse mais? O que Daniel iria pensar? Como ele ia lidar com o desaparecimento dela?”
Por muito tempo ela odiou aquela maldição, a achou tão injusta, sem perceber que sua existência estava atrelada à ela. Sem maldição, Ever Love não existiria. Nunca tinha pensado que com o fim dela sua vida também teria fim. Julgou que se, um dia, tudo acabasse, ela estava pronta; mas percebeu que não estava pronta, não podia deixar Daniel. Eles passaram mil anos se desencontrando.
Tocou o vidro frio da janela, era assim que tudo terminaria. Colocou a face contra o vidro e tentou imaginar que a chuva estava caindo sobre ela, era seu corpo que era alvejado com brutalidade. Naquele instante era tão agredida quanto a janela.
Ela observou a chuva caindo a noite inteira, sem nunca cochilar. Ainda tinha muita coisa para fazer.
Quando amanheceu colocou o melhor sorriso que tinha e trabalhou com Daniel como se tudo estivesse normal, mesmo que em seu íntimo tudo estivesse atormentado. Ela não queria preocupar ele, não queria que seus últimos momentos juntos fossem regados de medo.
Eles dividiram um café em uma cafeteria próxima.
– Posso saber no que tanto essa mente trabalha? – Ele perguntou tirando ela de seus devaneios.
– Hum? – Ever olhou para ele.
– Sinto como se você estivesse preocupada com alguma coisa. – Percebeu.
– Estava pensando, não quero que acabe. – Em parte era verdade o que dizia, mas não explicava a real situação.
Daniel estendeu a mão e deixou as pontos dos seus dedos se tocarem.
– Tem alguma coisa que eu precise saber? – Ele perguntou.– Se, estou supondo, – ela estava sondando ele. – Eu precisasse ir embora, o que você faria?
– Iria com você!
A resposta simples e sincera dele seria maravilhosa se ele soubesse o verdadeiro significado daquela pergunta. Mas estava com medo de dizer que, mesmo não querendo, em breve, ela teria que se despedir.
Incapaz de justificar ou explicar, ela apenas sorriu para ele.
– Você está muito bonita hoje. – Ele mudou de assunto.Ever tinha encontrado em um cara comum a solução para um problema mágico. Sua alma gêmea. Alguém, que mesmo sem conhecê-la, a conhecia.
– Vamos dar uma volta? Podemos? – Ela ofereceu-lhe à mão. Sem hesitar, Daniel a segurou.
Caminharem juntos, durante o dia, algo tão banal para algumas pessoas, tinha um significado muito importante para eles. Se todos soubessem que a vida era vivida de verdade nos pequenos momentos, nos curtos instantes, dariam valor aos mínimos detalhes, as ações simples, aos gestos singelos. Veriam beleza em coisas “normais”. Eles só sabiam disso, porque a maldição os mostrou.
Ela absorveu o cheiro das flores, e aproveitou das ruas quase vazias, para terem um encontro.
– Depois que se tornou namorada do chefe, parece que só quer matar o trabalho. – Ele brincou.
– Namorada?
– O quê? – Fingiu-se de inocente.
– Você não me pediu em namoro! – Ela percebeu.
– Então, devo pedir agora? – Fez menção de se ajoelhar como se fosse pedi-la em casamento ali no meio da rua, porém ela o impediu.
– Enlouqueceu? – Ela dava gargalhadas nervosas. – Está chamando atenção para nós.
– E? – De repente agarrou-a pela cintura e começou a girar com ela. Quando parou, ambos sem fôlego, disse: – Você é minha namorada!
Não era um pedido, mas um aviso. Estava esclarecendo o que ela significava para ele. Ever sorriu.– Nunca fomos ao cinema. Devemos ir? – Ela queria fazer muitas coisas de casal com ele.
– O que você quiser.
Pesquisou por salas de cinema abertas naquele momento, juntos escolheram um filme de comédia. Queriam ver coisas felizes, do mesmo jeito que estavam seus estados de espírito. Na sala escura, com o filme rodando, Ever encostou a face no ombro dele, e riram juntos.
Havia poucas pessoas assistindo aquela hora, provavelmente em um encontro normal, as pessoas iriam horas mais tarde, mas eles curtiram estarem quase sozinhos. Era mais íntimo. Ninguém para atrapalhar.
– Vendo esse filme, percebo que não sei do que te chamar. – Daniel se referia ao casal principal que usava apelidos divertidos para se referirem um ao outro diariamente. – Querida? Princesa? Amor?Ever achou engraçado. Pegou algumas pipocas e antes de colocá-las na boca, perguntou:
– Do que você gostaria de me chamar?
– De esposa.
Ele falou aquilo tão inesperadamente que ela se engasgou, e precisou tomar um pouco de refrigerante para aliviar a sensação.
– Definimos meus status de namorada hoje! – Ela reclamou.
– Mas já sei que quero estar com você para o resto da minha vida. – Daniel tomou sua mão, beijou-lhe delicadamente, e voltou a prestar atenção no filme.Enquanto Ever não conseguiu mais se concentrar, a partir daquele momento, não via realmente nada da história. Normalmente, uma garota se sentiria ansiosa por causa da declaração romântica, nas seu coração estava temendo ter de deixá-lo em breve, e ainda mais, depois de ouvir o quão profundo eram seus sentimentos.
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A Maldição do Cupido
RomantikQuando o amor se torna uma maldição? Mil anos atrás o amor era um sentimento superestimado, que poucos tinham direito a ter. Não havia amor entre pessoas diferentes, não poderia haver amor entre classes diferentes. Esse sentimento tão lindo e forte...