Prólogo

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Harry se deitou em sua cama no quarto de hotel após escrever a segunda música naquela noite. O show fora incrível, como sempre, mesmo que ele soubesse que sua distração não havia passado batida perante os fãs. As vezes ele não era tão bom ator quanto deveria ser. Ele estava jogado na cama e uma garrafa de whisky se encontrava na mesinha de cabeceira, juntamente com um copo, agora vazio, que outrora se encontrava em suas mãos. As letras de músicas e rabiscos estavam espalhados por todo canto mas a cama continuava fria e vazia, em um lembrete claro de que ela não estava ali.

Estava cansado.

Não dos fãs, não da carreira ou da correria das turnês.

Estava cansado de se sentir triste. Estava cansado de escrever tantas músicas sobre ela e sobre o que aconteceu, expressando seus sentimentos sobre aquele assunto. Ele queria poder voltar cinco meses atrás e retirar tudo o que disse. Ou melhor, o que não disse. Queria ter o poder de apagar tudo o que havia acontecido.

Os dedos trêmulos de Harry discaram o número o qual ele havia decorado. Ele sabia que ela não o atenderia caso visse o nome dele brilhar na tela, então o único jeito foi colocar o número para privado, mesmo sabendo também que sua identidade não ficaria escondida quando a garota atendesse, o que não demorou mais do que o terceiro toque.

Coucou!* — saudou com a voz rouca e o coração do rapaz parecia saltar do peito.

Naquele momento ele não queria ser famoso, ele não queria ter milhares de fãs, ele não queria nem mesmo todo aquele dinheiro que tinha em sua conta bancaria. Ele só queria ela ali. Ao seu lado. Rindo de uma forma escandalosa, chorando por causa de uma comédia romântica, fazendo amor ou trocando pequenos carinhos e, até mesmo, implicando com ele.

— Você sempre me perguntou porquê eu nunca escrevi uma música sobre você. — ele começou com a voz tremula. — É impossível compor sobre como os seus olhos sorriem quando você fala sobre algo que você gosta. É impossível descrever a sua risada alta ou como o seu cabelo fica uma completa e linda bagunça quando você acorda; É impossível falar sobre como o seu cheiro faz com que eu me senta em casa, ou como sua mão encaixa na minha.

Harry. — a francesa reconheceu, sentindo sua garganta fechar e lágrimas subirem aos seus olhos. — Por favor, não faz isso...

— A verdade, Sophie, é que eu não posso e não consigo te escrever apenas uma música.  — ele continuou, ignorando o pedido da garota. Sabia que precisava falar tudo que estava pensando, e teria que ser rápido antes que começasse a chorar de novo. — Eu acabei de escrever mais uma sobre você e achei que talvez você quisesse ouvir... Você pode desligar a hora que quiser, está tudo bem também.

Todos os dois estavam machucados. Sophie, ao contrário de Harry, não conseguiu segurar e estava chorando em alto e bom som, e aquele era o pior som que o rapaz poderia escutar. Ouvir a voz dele depois de vários meses era como queimar, e ele sentia o mesmo. Ele detestava ter machucado ela.

Don't you call him "baby"
(não o chame de amor)
We're not talking lately
(nós não estamos nos falando ultimamente)
Don't you call him what you used to call me
(não o chame pelo que você costumava me chamar)

I, I confess I can tell that you are at your best
(eu, eu confesso que você está no seu melhor)

I'm selfish so I'm hating it
(eu sou egoísta, então eu estou odiando isso)

I noticed that there's a piece of you in how I dress
(eu percebi que tem um pedaço de você em como eu me visto)
Take it as a compliment
(leve isso como um elogio)

Don't you call him "baby"
(não o chame de amor)
We're not talking lately
(nós não estamos nos falando ultimamente)
Don't you call him what you used to call me
(não o chame como você costumava me chamar)

I, I just miss
(eu, eu só estou com saudades)
I just miss your accent and your friends
(eu sinto falta de você e dos seus amigos)
Did you know I still talk to them?
(você sabia que eu ainda falo com eles?)

Does he take you walking 'round his parents' gallery?
(ele te leva para passear na galeria dos pais dele?)

— Me desculpe se ficou ruim... ainda falta alguns ajustes e definir a melodia, mas... — ele se apressou a falar, se deitando na cama e parando a si mesmo quando sentiu seus olhos transbordarem e as lagrimas cairem deliberadamente, assim como as da garota do outro lado da linha. — Não se esqueça de mim, Soph...

Sophie sabia o quão nervoso ele ficava ao mostrar suas músicas não ouvidas. Ela sabia também que era uma das únicas pessoas a ouvir antes do lançamento, sendo ela a única a ouvir antes dos ajustes. Mas todas essas observações não fizeram com que ela se sentisse melhor. Muito pelo contrario;

Eu sinto muito, Harry. — ela se desculpou com a voz fanha, e ambos sabiam que ela falava a respeito do que tinha acontecido com a relação dos dois.

— Eu amo você... — ele sussurrou e ela sentiu vontade de gritar.

Ela queria ouvir aquilo há sete meses atrás, quando ele estava dirigindo por Londres para deixa-la em casa. Queria gritar que estava fingindo estar na melhor fase dela, que estava fingindo seguir em frente. Quis dizer que ela estava se sentindo péssima ao deitar na cama e ter outra pessoa ao lado dela. Outra pessoa que não fosse ele. Dizer que sentia um gosto amargo na boca ao chamar outra pessoa de mon cheri*, mas que ela precisava fazer isso. Ela se sentia como um fantasma ao trocar de roupa porque ele estava presente em tudo que ela fazia. E o mais importante; dizer que ainda o amava e que seria impossível esquece-lo.

Mas ao invés disso, ela desligou a ligação.








Significados das palavras francesas usadas no capítulo:

*"Coucou!" = olá

*"Mon cheri" = querido/amor

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