Williamsburg, New York.
E então eu acordei.
E não era um novo dia.
A sensação ainda estava ali, vagamente, mas estava.
Aprontei uma mochila com algumas peças de roupa e produtos essenciais. Após minha rotina matinal, saí da casa e fui pegar meu transporte diário. Passei a manhã ansiosa pelo horário do almoço.
- Boa tarde, Nicola. – ai, que vergonha.
- Boa tarde. – eu estava de costas para ele, lavando a louça na pia. Ele foi até o armário, pegou um prato e passou a se servir, sentando à mesa logo depois.
- Deixe isso aí e sente-se comigo para almoçar. Você faz muito serviço braçal, não quero que desmaie no meu apartamento por fraqueza. – riu timidamente.
- Não precisa se preocupar com isso.
Ele levantou da cadeira e veio em minha direção, pegando um pano de prato no caminho e me entregando.
- Preciso sim, e você também. Tem todo o restante da tarde para terminar isso. – pegou um prato para mim. – E pelo que pude observar, nem vai necessitar desse tempo todo. Você é ágil.
Nos sentamos e em meio ao silêncio lembrei do meu pedido.
- Er... Gostaria de pedir um favor. – disse meio sem jeito.
- Claro, se eu puder ajudar...
- Gostaria de saber se posso dormir aqui hoje? – peguei um pouco de comida e coloquei na boca, tentando evitar o contato visual.
- Nicola, você não precisa pedir para dormir aqui. Basta me avisar para que eu não seja pego de surpresa, mas não há necessidade de pedir. O quarto é seu e deve dormir nele sempre que precisar. Aliás, não pode. – levou o garfo com comida á boca. – Você não pode ficar dormindo nesse quarto minúsculo, tem de dormir no quarto de hóspedes.
- Por favor, não. O quarto é ótimo, não precisa se inquietar com isso.
- Acredito que você vai preferir dormir no quarto de cima. – ele tinha um olhar "persuasivo".
- Agradeço a atenção. – disse, logo me levantando. – Posso levar seu prato?
- Pode sim. E bom, sua comida estava ótima, como sempre né?! – cruzou os braços sobre a mesa.
- Obrigada. – minhas bochechas devem estar pegando fogo nesse momento.
- Vou me retirar. Precisando, já sabe.
- Tenha uma boa tarde.
Eu estava acostumada a dormir nas casas anteriores, mas aqui eu sentia a necessidade de perguntar. Talvez pela falta de intimidade entre nós. Talvez alguma outra coisa que eu não tinha identificado.
Por volta das 19h resolvi ligar para minha mãe. Estava sentada na área externa da casa. Disquei seu número e esperei ela atender.
- Pingu! – praticamente gritou.
- Oi mãe.
- Já em casa?
- Não, hoje vou dormir no trabalho.
- Algum problema?
- Não, apenas não quis dormir sozinha. – mas além de ser uma péssima mentirosa, eu era pior ainda quando se tratava da minha mãe.
- Certeza?
- Sim, meu amor.
- Bom, seu irmão não está aqui agora, então terá de contentar-se em papear com sua pobre mãe. – e por algum milagre ela deixou sua desconfiança de lado.
- E esse drama todo, o que houve?
- Peter já quase não dorme aqui. Isso me faz lembrar que logo não irá dormir nunca mais.
- Poxa mãe, eu sei que a senhora tá muito triste, mas tem de lembrar que é isso que vai deixar ele feliz.
- Lembro todos os dias quando o vejo no celular com ela, ou quando estão juntos. Mas o coração não deixa de ficar apertado quando o vejo saindo com o carro.
- Se quiser, posso voltar pra casa.
- Nunca! – me interrompeu. – Você está me ouvindo Nicola Brigs? Essa agora é sua cidade, sua casa. Você é sempre bem vinda aqui, mas é aí que estão seus sonhos e objetivos.
- Eu te amo, muito.
- Eu também te amo muito, minha Pingu.
Ficamos ali por mais meia hora, com ela me atualizando das fofocas do bairro e da família. Não era algo que me interessava, mas ela gostava de falar, e eu gostava de fazer qualquer coisa pra deixá-la animada. Após desligar, fui tomar um banho e depois preparar minha janta. Ao chegar à cozinha, percebi que Demion ainda não tinha descido para comer. Após terminar minha refeição fui direto para o quarto, feliz em saber que poderia acordar 1h mais tarde. Isso me deixaria mal acostumada.
Já no dia seguinte, fiz tudo que me era destinado. E como de costume, nos encontramos no meio do dia.
- Nicola, dormiu bem? – adentrou a cozinha.
- Olá Demion, dormi sim. Mais uma vez, obrigada!
- Obrigada?! Não fiz nada. Na verdade, fiz errado por não insistir que dormisse no quarto de hóspedes.
- Ainda estamos nessa? – brinquei.
- E permaneceremos até a senhorita mudar de ideia. Esse dia será hoje? – questionou após sentar-se à mesa.
- Não, voltarei para casa hoje.
- Então o problema foi resolvido? – como ele sabe que houve um "problema"? – Pelo seu silêncio deve estar se questionando como cheguei nessa conclusão. Bom, percebi que não vai "abusar" da minha hospitalidade se não for realmente necessário. E desculpe falar, mas acho que tá errada. Posso ser chato, mas não sou ruim.
- Nunca pensaria isso. E não gosto de ser impertinente. – esfreguei uma mão na outra e esbocei uma careta de desconforto.
- Apenas tenha em mente que não é necessário pedir para passar a noite. E agora, podemos almoçar?
- Ah, me desculpe, mas já almocei hoje. - menti descaradamente.
- Certeza? - levantou uma sobrancelha em desconfiança.
- Certeza! - sorri na intenção de criar uma veracidade.
- Sendo assim...
Eu estava limpando os armários durante nossa conversa. Continuei com minha tarefa, enquanto ele almoçava.
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Nicola (HIATUS PARA EDIÇÃO)
RandomAté que ponto um homem luta pelo direito de amar? Até que ponto uma mulher suporta a dor da omissão? Nicola não acredita no mesmo que eles. Mas terá de acreditar para manter-se viva dentro de si.