Nicola (HIATUS PARA EDIÇÃO)

17.

Watertown, New York.

- Nic... – Mary tirou minha atenção das ruas da minha cidade. – Você bem que me podia falar mais sobre seu patrão, né?! – pediu com cara de cachorro abandonado e eu rolei os olhos.

- O que você quer saber? – me dei por vencida.

- Se ele é lindo, claro! – foi praticamente impossível segurar o riso diante da sua face "desesperada". Puxei o celular da bolsa e abri a foto do perfil de Demion.

- O que acha? – chamei mostrando o celular.

- Nicola do céu que homem é esse?

- Bonito? – perguntei incerta.

- Bonito? Ele é lindo! Tudo bem que não tenho atração por caras desse tipo...

- Branco? – rio.

- Você que está dizendo! – levantou uma das mãos em sinal de defesa. – Mas não, não troco meu preto lindo por ele.

- Você acha aquilo lindo?! – perturbei.

- Shiu, não fale do meu noivo lindo! E para de mudar de assunto, vamos falar sobre o...

- Demion. – completei jogando o celular na bolsa.

- Diferente esse nome. – percebi que estávamos indo para a casa da minha mãe. – E como ele é com você?

- Muito educado, simpático.

- Mas assim, vocês saíram mesmo?

- Vou comentar pra que? Pra você contar pro Peter?

- Ai, eu juro que não vou!

Ponderei por um instante.

- Sim, eu saí com ele. – disse após pararmos à porta da casa de Dona Lucy.

- Eu sabia! – gritou me apontando. – Como foi? Para onde vocês foram?

- Ele quis me levar ao cinema...

- Ai não, você não fez isso?! – jogou os braços do lado do corpo em sinal de descontentamento.

- Sim, eu fiz. Você sabe que detesto cinema.

- Mas era seu primeiro encontro, não poderia ter esperado um pouco mais?

- Primeiro: não era um encontro! Segundo: não gosto de começar com mentiras.

- Como seguia o plano dele após o cinema? – apoio um cotovelo no volante, lançando-me um olhar desafiador.

- Jantar... – respondi desconfiada.

- Cinema e jantar. – pôs a mão no queixo de maneira pensativa. – É, não era um encontro. – e seu tom não poderia estar mais carregado de puro sarcasmo. – Só espero que não tenha levado o pobre coitado para uma livraria!

Com certeza minha careta me entregou.

- Você não é normal, Nicola!

Meu celular tocou no mesmo instante, interrompendo minha cunhada nervosa.

Catei-o na bolsa para descobrir que era Demion. Virei a tela para ela.

- Atenda! – ordenou após abrir a boca em surpresa. – Vou te dar privacidade. – arrancou a chave da ignição e saiu rua afora.

No quarto toque atendi.

- Alô?!

- Nicola?

- Já está em perigo? – brinquei.

- E apenas você pode me salvar. Minha tia vem esse fim de semana e não sei mais onde ficam as roupas de cama e banho no quarto de hóspedes.

- An... Segunda e terceira gaveta da cômoda. – preferi não comentar, mas elas estavam no lugar de sempre.

- Nossa, muito obrigada. – tomou alguns segundos. – Como estão as coisas aí? Sua mãe, está bem?

- Tudo bem por aqui. Minha mãe está ótima. Ah, muito feliz, inclusive pediu pra eu te agradecer.

- É... não fiz nada demais.

- Não acredito que deva pensar assim!

Demion POV

Eu não sabia mais o que falar, mas eu queria falar com ela. Eu precisava falar com ela.

Eu não queria precisar ouvir a voz dela, mas eu precisava!

Eu não me importava com a minha tia, principalmente sabendo que ela só queria se intrometer na minha vida.

- E seu irmão e a noiva? – achei outro assunto.

- Minha cunhada hoje tirou o dia pra me alugar. Fui de governanta para assistente. A parte boa é que dei uma folga pro meu irmão.

- Te mandei pra descansar e não adiantou muito. – constatei em meio ao riso suave.

- Ah, mas minha mãe não vai deixar isso continuar por muito tempo.

Dê tchau, deixe ela ir curtir o fim de semana.

- E hoje à noite, algum plano pra essa sexta? – perdi a oportunidade de ficar calado.

- Acredito que não. – pude sentir o desconforto em sua voz.

- Eu... Eu vou organizar as coisas aqui pra receber minha tia. - resolvi que era hora de me tirar dessa situação constrangedora.

- Ok. Se precisar de algo mais pode me ligar. – ela não tem noção de como esse convite me deixou feliz e aliviado.

- Obrigado por me salvar!

- Disponha. – encerrou a ligação.

Eu estava sentado na poltrona do meu quarto, apoiei a cabeça no encosto, me perguntando se falei demais.

Uma sensação chata de vazio, que quase me fez pedir pra ela voltar. Mas isso seria egoísmo, e não é sendo assim que vou conquistá-la. Preciso ser sutil, chegar devagar. Criar uma amizade pra depois procurar por algo mais.

Minha linha de pensamento é interrompida pelo toque do celular.

Ela já queria falar comigo de novo?

Quando olhei pra tela tive uma grande decepção.

- Diga. – atendi frio.

- Nossa quanto amor! Liguei pra saber como você está e sou tratada assim?!

- Estou despreocupado com o dinheiro dos outros, e você? Tentando roubar mais um idiota?

- Já te falei que não vejo graça em suas brincadeiras, D.

- Qual favor da vez, Celine? – fui direto.

- Eu só queria te ver, passar uns dias com você... – bufei e passei a mão no cabelo, já nervoso.

- Não tô afim de te esconder outra vez.

- Esconder? – quase gritou. – O que tem de errado eu querer passar uns dias com o meu irmão?

- Veja com suas amigas, não vou te ajudar! - respondi sem me importar.

- Seu merda! – desligou na minha cara.

Celine é minha irmã mais nova, e somos totalmente diferentes.

Ela se importa apenas com dinheiro, roupas, bolsas e joias. E como não trabalha, algum desavisado cai na sua armadilha e perde tudo. Ela faz a limpa nas contas bancárias.

Resolvi cortar contato depois de tudo que ocorreu, pois desde jovens eu era visto apenas como uma bengala para os tempos difíceis, dos quais ela se esforçava muito pra criar. Quando conseguia tirar muito dinheiro de alguém, sempre ia atrás de um esconderijo, e dessa vez veio atrás de mim, mas eu lembro bem o que passei da última vez. O homem enorme que tive que suportar na minha porta, atrás dela, parecia um lutador de UFC. A partir desse dia, Celine tornou-se uma simples conhecida da qual eu não mantinha contato.

E eu não estava arrependido da minha decisão.