15.

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Watertown, New York.

Algumas horas e duas paradas depois, eu estava chegando à rodoviária de Watertown. Estava tirando minha mala do compartimento quando o ouvi gritar:

- Pingu! – e como sempre Peter fazendo questão de me envergonhar diante de todo mundo. Logo estávamos dentro de um abraço terno e cheio de saudade. – Meu Deus, você tá tão grandinha.

- Idiota! – bati no seu ombro por conta de sua piada sem graça. Entramos no carro e ele foi me atualizando.

- Mary disse que não vai fazer por mal, mas que você vai virar a assistente dela nesses dias. Eu disse que você precisa ficar com a mãe um pouco, mas ela disse que só pode garantir sua "folga" no domingo.

- Mas gente, eu mal cheguei.

- Essa coisa de crescer sem muitas amigas foi bom pra ela em algumas situações, mas péssima em outras. Tipo agora, que a gente só tem nossa mãe, a mãe e uma prima dela pra ajudar.

- Então vocês estão bem servidos, não precisam de mim. – virou o carro na rua que levava pro bairro de nossa mãe.

- Segundo minha lindíssima noiva, ninguém entende de comida como você. E é bem verdade. Falando nisso, como estão as coisas por lá?

- Ah, tudo bem.

- E por qual razão seu patrão te liberou tão rápido? Ele tem uma queda por você ou algo do tipo? – engasguei com nada e tossi como se estivesse morrendo. – Wow, calma. Não morre antes de chegar na casa da Sra. Brigs. – fui acalmando.

- Demion achou que eu deveria passar uns dias aqui, já que não vejo todo mundo há algum tempinho.

- Demion? – fez uma careta de espanto - Que nome ridículo é esse? A mãe dele é satânica ou o que? – gargalhei alto com a hipótese dele.

- Na verdade – disse cessando o riso – Nunca vi a mãe dele, e ele nunca falou dela, nem de sua família no geral. – olhei para frente pensando no que acabei de reparar. E logo mais adiante pude ver a casinha que me trazia lembranças deliciosas. Logo o carro estacionou e desci indo direto para dentro, deixando Peter sofrer um pouco com minha mala.

Bati na porta do fundo:

- Alguém em casa? – disse abrindo a mesma e colocando o corpo pra dentro.

- Pingu! – veio minha mãe me prender no seu abraço.

- Mãe, você me visitou tem poucos dias! – lembrei entre risos.

- E eu sentiria saudades se tivesse te visto ontem. – voltou para o balcão. – Como foi de viagem?

- Tranquilo.

- Então por que não ajudou seu irmão com suas coisas?

- Ai meu Deus, é só uma mala mãe. Ele pode muito bem trazer. Eu queria entrar logo pra te ver. – usei a desculpa.

- Mas eu te visitei tem poucos dias. – repetiu o que falei, oferecendo-me um olhar brincalhão. – Suba meu amor, vá tomar um banho pra comer e dormir. Você vai usar esses dias só pra descansar.

- Acho que não viu?! – Peter entrou. – Mary já me mandou mensagem perguntando que horas te levo pra lá.

- Nada disso Peter, hoje sua irmã não vai sair daqui. – a mãe protestou logo. – Pode falar com sua noiva que a mãe de Nicola não deixou ela sair hoje.

Peter e eu quase caímos no chão de tanto rir com o que escutamos.

- E ela tem o que? 15 anos? Uma mulher velha dessa tem que ficar por baixo da asa da mãe? – Peter.

- Se isso me privilegiar com uma tarde de sono, eu posso ter 12 anos agora mesmo! – confessei.

- Algo me diz que nesse fim de semana vou ficar sem mãe. – meu irmão falou esperando a reação dela, que virou bruscamente e encarou-o por uns cinco segundos com cara de poucos amigos, logo depois pegou uma cebola e jogou nele.

- Sai daqui menino, vai ver tua mulher lá e me deixa em paz. Sua irmã tem meses que não vem aqui e você fica falando besteira. – nós podíamos perceber o nervoso chegando em sua voz.

- Mãe, eu to brincando. – e foi abraçar ela. – Mas vai ser muito bom quando ela for embora e a senhora ficar só pra mim.

- Sai da minha cozinha, Peter Brigs! – disse em meio aos tapas. – Agora!

Como eu senti falta de tudo isso.

Eu e minha mãe colocamos o assunto em dia durante o almoço e depois fui para meu antigo quarto dormir um pouco. Exigências da Sra. Brigs.

Acordei por volta das 17h com o celular tocando.

- Alô?!

- Nicola? – era Demion.

- Oi. Algum problema?

- Bom, - disse meio sem jeito. – liguei pra saber como foi a viagem.

- Ah, foi tudo bem.

- É...

- E por aí, tá tudo dentro da ordem? – perguntei por perguntar.

- Vai melhorar semana que vem! – pus a mão no rosto, a vergonha me consumia, mesmo sabendo que essa conversa não era pessoalmente. – Vou desligar, você deve tá ocupada.

- Na verdade eu estava dormindo. Só fiz almoçar e minha mãe ordenou que eu tirasse umas horas de descanso.

- Que é exatamente o que você precisa. Então vá dormir mais um pouco, estou indo em uma reunião da equipe. Até mais.

- Até! – e desligou.

Coloquei o celular de lado e continuei deitada encarando o teto. Eu acho que estava um pouco bobinha.

- Sonhando acordada? – fui interrompida pela minha cunhada.

- Mary!

Mary poderia ser considerada minha irmã de tão parecida que somos. Seus cabelos crespos e encaracolados, sua pele negra e seu porte físico, nos permitia facilmente ser confundida na rua.

Mas nossas personalidades não se igualavam tanto assim. Enquanto eu sempre estive mais calada no meu canto, ela conversava pelos cotovelos e criava novas amizades num piscar de olhos. Ganhou o Peter com o jeito mandão que, esse sim, não era muito diferente de mim, e esquentado. Não era de briga, mas também não comia calada.

Levantei num pulo e corri para seus braços.

- Que saudade de você, Nic! – segurou em minhas mãos e me analisou. – Essa capital não tem surtido efeito em você. Continua com a mesma carinha de mulher mandona e de pouca conversa.

- E você parece que tá conversando menos que o costume. – brinquei. Andei até a cama e conferi o celular. Nada.

- Seu irmão não acha viu?! Disse que essa fase pré-casamento tem que ser apenas isso, pré-casamento. Depois disso eu preciso me acalmar.

- Ele fala assim pois não sabe o que você tá passando nesses meses finais e cruciais.

- Ai Nicola, só você me entende! – e já estávamos abraçadas novamente.

Nicola (HIATUS PARA EDIÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora