Whitestone, New York.
Demion POV
Entrei no quarto e fechei a porta atrás de mim.
Inacreditável.
Eu tinha a escutado, mas isso não significa que faria algo. Não agora.
Então ela teria de esperar ao invés de ir assustar a Nicola.
Ela colocaria tudo a perder. Sempre apressada.
Sentei na poltrona encarando a janela entreaberta.
" Entrei na cozinha já sentindo aquele cheiro maravilhoso.
- Oi meu amor. Sente-se.
Ela usava um vestido, azul como o céu em um dia ensolarado.
Chegou perto e depositou um beijo em minha testa.
- Com fome? – perguntou. Sempre sustentando um sorriso perfeito.
- Com uma dúvida na verdade.
Ela parou tudo que estava fazendo e olhou fundo em meus olhos, esperando pela pergunta.
- Qual a razão de quebrar uma louça? - percebi sua respiração funda e uma pausa, como se quisesse ter certeza do que iria falar.
- Nos casamentos gregos, a quebra de pratos significa sorte para o casal de recém casados, é uma forma de espantar os maus espíritos.
- Não estamos casados. - disse com as sobrancelhas juntas.
- Ainda não.
- Estaremos?
- Depende de você. – e seu sorriso sumiu. – Por isso tome já as devidas providências. É ela.
- Você que a mandou? – perguntei.
- Não. Algo maior que eu. - aproximou-se do outro lado da mesa. – Mas você não iria perceber sozinho.
- Não iria mesmo. - encarei meus dedos em cima da bancada.
- Mas seja rápido. Os caminhos da vida podem te atrapalhar, nublar seus pensamentos.
Contemplei seu semblante tranquilo. Era possível sentir a paz tomar conta do cômodo.
Percebendo minha admiração, deu a volta na mesa e me abraçou forte.
- Você volta? – perguntei um pouco triste.
- Sempre, meu filho. Sempre."
Passaram-se pouco mais de duas semanas desde o sonho que tive com minha mãe.
"Sonho".
Foi como uma luz num quarto escuro, me permitindo enxergar a preciosidade que ali estava. Bem na minha frente, esperando para ser adorada e amada.
Mais especificamente no quarto ao lado.
◇ ◇ ◇
Acordo pouco antes das 6h.
Preciso me arrumar para o trabalho e tomar café.
Fui para o banheiro, tomei um banho calmo e pensativo.
Quando desci, já vestido, a mesa estava posta. Frutas, ovos e torrada.
- Bom dia! – disse Nicola ao me ver. – Espero que esteja com fome.
- Bom dia. – sentei à mesa. – Nem lembro a última vez que essa casa viu uma mesa de café da manhã tão farta.
- Bom, devo agradecer como posso.
- Não quero que pense assim, não quero que ache que me deve algo.
- Não acho. – parou no meio da cozinha e me encarou. – Mas fui educada para saber ser grata.
- Sua mãe é uma mulher admirável. E não preciso conhecer pra saber.
- Sim, ela é. – confirmou com um brilho no olhar.
Passei a servir-me com um copo de suco e uma tigela de frutas diversas, apreciando uma de suas torradas logo depois. Por fim, pus meia xícara de café puro e fui para o quarto pegar minha mochila.
Chegando à cozinha para deixar a xícara, Nicola disse de forma confusa:
- Bom trabalho?! – ela não me conhecia muito bem, não sabia o que me ocupava durante a manhã.
- Sou biomédico. Acabei de ingressar em uma nova equipe. Podemos conversar sobre isso no fim da tarde.
- Nossa, deve ser muito importante. Mas sim, gostaria de conhecer mais sobre sua profissão.
- Também gostaria de conhecer mais sobre você. – disse por fim, saindo dali e deixando uma Nicola desnorteada.
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Nicola (HIATUS PARA EDIÇÃO)
RandomAté que ponto um homem luta pelo direito de amar? Até que ponto uma mulher suporta a dor da omissão? Nicola não acredita no mesmo que eles. Mas terá de acreditar para manter-se viva dentro de si.