Williamsburg - New York
Enquanto andava pelas ruas que me levavam até em casa, pensei em como seria essa noite. E pedi para que fosse tranquila. Graças a ótima noite de sono que tive, não me encontrava tão cansada como de costume.
Cheguei no apt. e joguei a bolsa num canto do quarto. Fui para a cozinha. Pratos para lavar, mesa para arrumar, geladeira para organizar. Arrumar a casa dos outros me toma o tempo e a disposição de arrumar a minha.
Ao fim da faxina superficial, aprontei algo para comer e fui deixar minha cama arrumada, já que ali era minha mesa. Liguei a TV e fui tomar banho. Vesti uma roupa mais pesada e quentinha, o tempo estava esfriando. Sentei na cama, apoiei as costas na parede e pus o controle ao meu lado. Estava no meio da refeição quando a TV desligou sozinha.
- Faltou luz? – ri da minha lerdeza. – Como faltou luz se a lâmpada tá acesa?! Louca!
Peguei o controle e liguei novamente. Mas não se passaram nem 5 minutos e ela desligou novamente. Levantei e tirei o plug da tomada na tentativa de "reiniciar".
E então ela ligou.
E estava sem sinal algum, apenas com um chuvisco. Pus o plug na tomada e nada aconteceu. O chuvisco permaneceu. Peguei o controle e pressionei o botão de desligar. Nada. Apertei todos os botões.
Nada.
Tirei o plug novamente da tomada, e nesse momento, acreditei que estava louca de vez.
Um som agudo e estridente saiu do aparelho.
Levei as mãos à cabeça, tapando os ouvidos. Mas a sensação que tive era que o som vinha do interior da minha cabeça. Gritei para tirar aquele som horrível dos meus pensamentos e num ataque de pânico, joguei o aparelho barulhento no chão, espatifando a tela em vários pedaços.
Silêncio.
E então a falta de ar e o desespero me tomaram conta. Era assim um ataque de ansiedade/pânico? Subi na cama e me encolhi no canto, abraçando meus joelhos e enterrando o rosto ali, chorando compulsivamente.
Pulei assustada com o barulho do celular.
Demion estava ligando.
Respirei fundo três vezes, na intenção de melhorar minha voz e não passar o que aqui estava acontecendo.
- Alô?!
- An... Nicola?! Boa noite, aqui é o Demion.
- Oi, boa noite. Algum problema?
- Na verdade sim, você esqueceu o carregador do seu celular aqui. Bom, creio que seja o seu, já que estava na mesa da cozinha. – eu estava tentando ao máximo me controlar.
- Nossa, não notei. Obrigada. – e antes mesmo de conseguir concluir a frase, minha voz falhou, me entregando.
- Tá tudo bem com você? – senti seu tom de voz mudar.
- Sim, estou cansada. Só isso. – droga, falhei novamente. Houve um silêncio do outro lado da chamada, pude ouvir ele respirar fundo.
- Nicola, qual o número do seu apartamento?
- Oi?? Não!! Não precisa vir aqui. – e foi tudo por água abaixo. Quando dei por mim já estava chorando novamente.
- Nicola, por favor.
- Sete. – levei a mão livre ao rosto, me sentindo péssima por isso.
- Chego aí em alguns minutos. – e encerrou a ligação.
Fui para debaixo da coberta. Meu corpo tremia com um frio assustador. Era um frio que vinha de dentro pra fora, e me corria a espinha como uma pedra de gelo. Não senti o tempo passar, e saí do transe quando ouvi as batidas na porta. Levantei devagar, com a coberta enrolada no meu corpo. Abri a porta e lá estava ele.
- Ei, você tá bem... – sua voz foi sumindo quando percebeu os cacos de vidro na entrada do quarto, logo correu para lá só pra encontrar a TV caída no chão. – O que houve aqui? Alguém entrou aqui? Alguém te machucou?
E eu desabei em seus braços. O choro descontrolado tomou conta de mim.
- Shh, calma. Calma Nicola. – ele passou seus braços em volta de mim, me afagando. Eu juro que não entendi de onde veio aquela necessidade de ser acolhida por ele. – Preciso que fique calma para me contar o que aconteceu.
Alguns minutos depois eu estava menos desesperada. Retomei o controle da minha respiração.
- Eu estava aqui na cama, comendo enquanto assistia. E então a TV desligou, eu tentei ligar e ela começou a fazer coisas esquisitas.
- Esquisitas? – juntou as sobrancelhas em confusão.
- Ela ligou sozinha, mesmo depois... – minha voz foi morrendo. Ele nunca iria acreditar.
- Mesmo depois...? – me encorajou.
- Eu a tirei da tomada. E mesmo assim ligou. Logo depois fez um barulho horrível e então tive de fazer isso – apontei para o objeto no chão. – para ter "paz".
Ele me analisou por uns segundos e respirou fundo.
- Pegue uma peça de roupa limpa, vou te levar para minha casa.
E por mais estranho que pareça, eu não argumentei. Levantei, fui até a cômoda e peguei uma blusa e uma calça de tecido, jogando tudo na bolsa. Peguei minha carteira, celular e a chave da porta. Olhei em volta com uma tristeza enorme. Eu não deveria ter feito aquilo.
- Vamos? – disse Demion com a mão em meu ombro. Assenti e saímos dali.
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Nicola (HIATUS PARA EDIÇÃO)
AcakAté que ponto um homem luta pelo direito de amar? Até que ponto uma mulher suporta a dor da omissão? Nicola não acredita no mesmo que eles. Mas terá de acreditar para manter-se viva dentro de si.