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Whitestone, New York.

Nicola POV

Ok, acho que eu me perdi um pouco nessa conversa.

- Você... – tirei minhas mãos de seu enlace. – Demion...

- Eu ainda não sei como te convenci a jantar comigo na semana passada, mas sei que não vou ter uma segunda chance enquanto você estiver trabalhando aqui.

- Isso não é certo. – neguei várias vezes com a cabeça. – Eu falei que isso não ia dar certo. – abaixei o rosto e o cobri com as mãos, esfregando nervosamente. – Eu falei com ela que ia ficar desempre...

- Ela? Ela quem? – questionou.

- Ninguém! – me recompus. – Não Demion, isso não pode acontecer. - gesticulei um basta  com as mãos. - Somos pessoas diferentes, em mundos diferentes. E eu não posso ficar sem esse emprego. – encarei ele.

- O trabalho não é problema, te ajudo a arrumar outro em dois tempos. – respirou fundo. – E sobre nossos mundos serem diferentes, é o que me faz querer te conhecer tanto. Eu preciso e quero conhecer o que é diferente da minha mesmice. Ou você acha que eu vou querer uma biomédica e passar o tempo todo falando só do mesmo assunto?

O pior de tudo é que eu senti que isso iria acontecer em algum momento. Ele deu sinais e minha mãe me avisou. Eu só não achei que seria tão rápido.

- A gente não pode. – disse num fio de voz.

- Quem disse isso? Podemos sim! – tomou minhas mãos novamente. – Basta você me dar uma chance. – será que ele percebeu o quão trêmula eu estava? – E eu posso esperar pela sua decisão.

- Eu vou continuar meu serviço. – levantei e esfreguei a palma da mão no avental. – Podemos conversar depois?

- Claro. - levantou-se com um sorriso. – Eu vou pro meu quarto, não quero te atrapalhar. – e sem mais uma palavra foi em direção a escada e sumiu depois de chegar no topo da mesma.

Saí dali e fui direto para o quarto do fundo, fechei a porta e sentei na cama de solteiro depois de puxar o celular do bolso do avental. Disquei o número com dificuldade, em razão da tremedeira.

- Alô?! – não demorou pra ele atender.

- Tá acontecendo! Que merda! – as palavras saíram atropeladas e eu estava quase chorando. Meu pé esquerdo batia freneticamente no chão

- Nic, calma. O que aconteceu? – perguntou meu irmão.

- Demion.

- O que ele fez? – sua voz estava mais tensa.

- Ele quer que eu vá atrás de outro lugar pra trabalhar.

- Ué, ele tá te demitindo? E qual a porra do motivo por trás disso? – respirei fundo procurando a coragem dentro de mim. – Nicola?!

- Ele quer sair comigo! – soltei junto com uma lufada de ar.

- Wow! Por essa eu não esperava. – começou a rir.

- Peter, isso é sério. – estava ficando irritada.

- Eu sei que é, mas você tá fazendo tempestade em copo d'água. - revirei os olhos e apoiei os cotovelos nos joelhos. - Um encontro não vai te matar. E pra ser sincero, eu esperava sim!

- Não é apenas um encontro. Ele quer que eu vá trabalhar em outro lugar para que possamos tentar. – dei ênfase na última palavra.

- Desculpa irmã, mas tenho que dar um ponto pra ele. Pelo visto percebeu o quão certinha você é e não iria sair com o patrão. O que você vai fazer?

- Eu não sei. – escondi o rosto na mão livre.

- E o que você quer fazer?

O que eu quero fazer? Se eu disser que não sinto nenhum tipo de atração por ele, estarei mentindo. E quando lembro dos últimos dias e a forma que ele me ajudou, sinto cada vez mais afeição pela sua pessoa.

- Isso não é certo...

- Não perguntei isso. – Peter conseguia ser bem direto e até grosso, quando necessário. – Olha, faz assim: aceita! Mas, com uma condição.

- Qual? – juntei as sobrancelhas em desconfiança.

- Diga que só vai sair com ele depois de encontrar outro trabalho. Diga que antes de tudo, você precisa da sua estabilidade.

- Eu não sei se devo.

- Nic, a gente viu como você fala dele. Como você fica toda desconcertada, fugindo do assunto. Você fica assim quando quer fugir do seus sentimentos, quando quer fingir que tá tudo bem. Eu sei que não tá! – e foi exatamente por isso que liguei pra ele. Mesmo sendo chatinho as vezes, Peter era o único para o qual eu corria para desabafar ou pedir ajuda. Minha mãe tinha sempre que trazer a opinião dos "amigos" dela. E com amigos, me refiro aos espíritos. Eu não preciso de desconhecidos tentando me ajudar. – Depois de achar uma casa nova pra trabalhar, você sai com ele. E se não der certo, vida que segue.

- Ai que ódio de você! – praguejei entre um sorriso.

- HA HA HA! – gargalhou alto. - Você pede minha opinião porquê quer! Sabe que eu sempre vou falar a coisa certa, que é o que você quer ouvir!

- Vou voltar pro meu serviço. - alonguei as costas e endireitei a coluna.

- Lembrando que seus dias estão contados! – continuou rindo feito bobo.

- Que saco! Tchau Peter!

- Te amo, Nic! – e desligou.

Depositei o celular do meu lado na cama e cruzei as mãos entre os joelhos. Meus olhos percorriam o quarto, como se procurassem por uma solução. Tinha deixado alguns utensílios domésticos na área externa da casa e precisava ir pegar, mas meu corpo estava preso naquela cama.

Toc Toc

- Oi?!

- Posso entrar? – Demion perguntou. Levantei e caminhei até a porta, abrindo a mesma.

- O que houve? – apoiei a mão na maçaneta.

- Eu vim te entregar isso. – esticou o braço em minha direção.

- Um porta retrato? – indaguei com as sobrancelhas franzidas.

- É que no fim de semana eu encontrei uma foto sua aqui no quarto. Tava no chão, provavelmente por ter caído.

- Foto minha? - dei um passo pra trás, na intenção de visualizar seu rosto com mais nitidez.

- Sim! Deixei ali na mesinha de canto. – pôs parte do corpo pra dentro, apontando pro móvel ao lado da cama. – Ué, deve ter caído de novo.

Fui até lá e não vi nada, olhei pelo chão e não encontrei nada.

- Era uma foto sua, com o cabelo curto e uma blusa e batom vermelhos. – fiz uma careta confusa, intercalando o olhar entre ele e a mesinha. – Você tava olhando assim pra outro lugar e não pra câmera.

- Demion, isso é impossível... – disse devagar, tentando controlar o nervosismo.

- Como assim? - passei a mão no cabelo que estava bem preso em um coque alto.

- Essa foto tá na mesinha da minha mãe, em Watertown. - pisquei lentamente enquanto inspirava profundo. - Eu nunca trouxe essa foto pra New York. - revelei, liberando o oxigênio dos meus pulmões.

Ele ficou alguns segundos me olhando, confuso. Abriu a boca algumas vezes mas desistiu e seus olhos começaram a vagar como se estivesse procurando por uma resposta. Até que inspirou fortemente com os olhos fechados e um sorrisinho "cansado" e expirou levando a mão ao rosto e depois subiu bagunçando os fios.

- Deixa quieto! – disse já virando o corpo, indo embora e me deixando aqui com cara de paisagem.

Nicola (HIATUS PARA EDIÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora