Iraka
O sol ainda não havia nascido em iraka e os irmãos Davi e Eric já estavam acordados, o primeiro de doze anos e o segundo de cinco, estavam se preparando para procurar frutas na floresta que cercava a pequena cidade, o pai dos garotos estava chegando de uma longa viagem, e os meninos queriam fazer uma surpresa. Na floresta os meninos se separaram durante um instante, e apareceu a Davi um garoto com roupas verdes engraçadas da mesma idade que ele, o garoto logo foi falando:
- Ei Davi, não fala mais comigo?
- Pra que? Você não existe.
- Como assim?
- Só eu vejo você, só eu falo com você, só eu te escuto, enfim você não é real, é só minha imaginação. - Então o garoto falou:
- Se eu não sou real, você não vai sentir isso. - E empurrou Davi que caiu num riacho.
- Eu vou te pegar, você vai ver. - Gritou Davi.
Nesse momento Eric apareceu no meio das árvores indagando: - Está falando com quem?
Davi, olhando para Eric depois olhando para onde estava o garoto, que agora havia sumido, respondeu gaguejando:
- Com um ma...macaco que jogou uma fruta em mim e eu, eu eu cai aqui no rio e depois ele sumiu entre as árvores.
Eric rindo disse:
- Ah bom, pensei que estava gritando com seu amigo imaginário. - Terminou a frase caindo na risada.
Aquelas palavras de Eric chatearam Davi, mas ele não disse nada, pois estava claro que aquilo que acontecerá não era imaginação, era muito real. Após colherem algumas frutas, os dois irmãos voltaram para a pequena cidade onde moravam quando chegaram a casa, o pai dos garotos já estava lá. Os dois quando viram o pai, foram correndo colocar as frutas na mesa para abraçar o pai, que percebendo que Davi, estava molhado, logo perguntou:
- Por que está molhado?
- Um macaco jogou uma fruta em mim e acabei caindo no rio. - respondeu Davi, e seu pai aceitou a resposta sem questionar.
Logo Eric, perguntou:
- Quanto tempo o senhor irá ficar?
- Uma semana. - respondeu o pai.
- Uma semana só? Mas você vai ficar com a gente aqui em Iraka, dessa vez? - disse Eric com uma voz triste.
- Seu pai tem que vender algumas coisas que comprou nas tribos do norte. - disse a mãe dos garotos ao perceber que os dois ficaram tristes.
O Pai dos Garotos era comerciante, por isso passava muito tempo fora da cidade, ele ia até os mercados das principais cidades mompóis como: Ukarra, Notam, Gobi e Gobilo, comprar produtos de outros comerciantes mompóis e sacis, depois viajava até as tribos do norte onde trocava por outros produtos que eram raros na Mompólia, ao voltar aos mercados de seu país, vendia essas mercadorias raras e recebia moedas Ukarrianas em troca.
- Posso ir com o senhor para Gobi e Gobilo? - perguntou Davi.
- Não sei, a estrada pode ser um lugar perigoso para uma criança - respondeu a mãe.
- Pode sim filho, desde que Ukarra controla essas estradas, elas não são perigosas quanto as do norte e das terras bárbaras, não há perigo.
- E eu posso? -perguntou Eric.
- Quando você crescer mais, eu te levo também Eric. Tudo bem?- disse o pai.
- Tudo bem. - respondeu Eric.
Após o jantar Eric e Davi foram dormir e o pai deles lhe contou a história favorita deles, a famosa lenda mompol de Fifo, o viajante:
"Na época das guerras ronbianas, (guerras das cidades irmãs de Gobi e Gobilo contra a cidade de Rio Raso, cujo rei se chamava Ronbi), em Rio Raso havia um homem chamado Fifo, ele era um comerciante e viajava entre as cidades aliadas do rei de Rio Raso, por causa da guerra um cidadão de Rio Raso não podia se abrigar em uma vila ou cidade inimiga isso era considerado alta traição, porém em uma noite chuvosa Fifo foi atacado por Lobos e se perdeu na floresta, após horas de caminhada achou uma pequena vila onde conseguiu abrigo, ao amanhecer Fifo reconheceu o estandarte do rei de Gobilo tremulando no topo das casas da vila, ao ver a bandeira estremeceu, ele sabia o que significava aquilo, se voltasse para Rio Raso e alguém descobrisse seria executado na praça, ele teria que fugir. Então Fifo fugiu para terras desconhecidas além das grandes montanhas do leste, viveu anos junto com os estrangeiros, aprendeu a língua deles, a história deles e costumes deles, um certo dia encontrou no mercado um homem que falava mompol, se aproximou e começou a conversar com o estranho, perguntou para ele sobre a Mompólia e o homem lhe disse que Rio Raso havia sido destruída, o rei Ronbi estava morto e desde então Gobi e Gobilo estavam devastando o vale lutando um rei contra o outro, então Fifo decidiu voltar para a Mompólia, chegando no país conversou com os reis de Gobi e Gobilo, contou-lhes a história do povo do lugar onde ficou, explicou que sempre havia duas grandes cidades que sempre lutaram entre si, quando uma era destruída outra menor crescia ao ponto de ser uma ameaça à sobrevivente das guerras anteriores, então começava outra guerra pela supremacia do país, e isso se repetiu inúmeras vezes, até que em uma certa época veio um inimigo do sul aproveitando a divisão entre as cidades dominou todo o país facilmente, o inimigo só foi expulso quando os povos das diversas cidades deixaram suas diferenças de lado e uniram-se na luta contra os invasores. Após contar essa história disse aos reis das cidades irmãs que ao invés de lutarem uma cidade contra a outra, formassem uma aliança, essa aliança dura até os dias de hoje."
Ainda naquela madrugada Davi foi acordado pelo seu pai e ambos saíram de Iraka rumo às cidades irmãs de Gobi e Gobilo, colocaram na carroça, alguns produtos adquiridos nas tribos do norte, e saíram através do portão de Iraka na única estrada de terra que levava até a cidade. - Na volta, se não conseguirmos vender tudo nas cidades irmãs, nós vamos passar por Notam - disse o pai - e talvez em Ukarra, eu sei o quanto você quer conhecê-la, agora durma que a viagem é longa.
Gobi e Gobilo eram duas cidades vizinhas divididas apenas por um pequeno rio de planalto com menos que 30 metros entre uma margem e outra, conhecido como o rio das cidades irmãs, Gobi ficava na margem oeste e Gobilo na leste. A viagem de Iraka até Gobi era de cerca de 1 dia e 1 noite já que a carroça estava cheia, após passar o dia inteiro viajando a noite cai, após algumas horas surge um clarão e muita fumaça preta sai de algum lugar além da floresta. - Esse fogo, vem da direção das cidades irmãs. - disse o pai. Quando eles finalmente alcançaram o limite da floresta, já está amanhecendo e eles puderam ver de onde vinha o clarão e a fumaça, lá embaixo no vale, as cidades de Gobi e Gobilo ardiam em chamas.
Assim que Davi e seu pai finalmente chegaram aos portões de Gobi, boa parte do fogo já havia sido apagado, o pai parecia não acreditar, enquanto Davi ficou paralisado, a carroça entrou na cidade, e o que viram era um horror, a cidade inteira em choro e sofrimento, no chão muitas pessoas feridas com graves queimaduras ou totalmente carbonizadas, pessoas chorando nos cantos, casas, carroças, barracas dos comerciantes, formaram um entulho de madeira e cinzas, diversas casas que ainda pegavam fogo e pessoas iam correndo com baldes para ajudar a apagar, o pai desceu da carroça sem se preocupar com sua carga, levantou uma grande tábua e libertou uma pessoa que estava embaixo agonizando de dor, com dificuldade arrastaram o homem seu rosto estava cheio de fuligem e respirava com dificuldade, mais a frente uma mulher de joelhos segurava um bebê morto, ela o acariciava enquanto chorava amargamente, do outro lado da rua uma pessoa totalmente queimada se contorcia, enquanto pessoas corriam com baldes e outros feridos no colo, essas cenas se repetiam por toda a cidade, até onde a vista de Davi alcançava, enquanto ele assistia a tudo paralisado e horrorizado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas de Medepéia
ФэнтезиSeja bem vindo a Medepéia, um mundo cheio de magia, lendas, criaturas, estórias e pessoas, entre elas quatro crianças: Davi e Eric são 2 irmãos filho de um comerciante pobre da cidade de Iraka, Davi de 12 anos tem um amigo que só ele viu, mas certam...