Capítulo 15 - Paraíso

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A deriva

As primeiras horas foram difíceis sentia muito enjôo, vomitou o pouco que tinha no estômago, apareceu alguns pescadores, mas quando viram que ela estava amarrada ao barco se afastaram, Sofia tentava se desamarrar da sua prisão flutuante sem sucesso, a amarraram muito bem, o sol esquentava seu corpo e não tinha aonde se esconder, não havia nenhum remo ou vela, a colocaram totalmente a deriva. Se perguntava do que iria morrer "Fome, sede ou insolação?". 

Nunca se sentiu tão pequena e indefesa antes, nem quando sua mãe morreu e a deixou sozinha na imensidão gelada da Frífia, "julgamento pelos deuses do mar" ela esboçava um sorriso irônico toda vez que lembrava da sua condenação, "deuses? Não vejo deus nenhum aqui, apenas água", após algumas horas acabou desmaiando. Pingos de chuva caiam sobre seu rosto e a fez acordar, já era noite, abriu a boca na esperança que alguns daqueles pingos caíssem nela, a chuva era um alívio bem vindo, tudo doía nela, sua cabeça doía, sua pele clara doía das queimações do sol, suas costas doíam devido ao mau jeito que dormirá no barco, seu estômago vazio doía, seus olhos doíam. 

A chuva aumentou de intensidade, as ondas começaram a ficar mais violentas, sacudindo com força o pequeno barco que quase virou algumas vezes, Sofia se agarrava ao barco com medo que ele virasse, a tempestade durou a noite inteira, quando o dia amanheceu exausta Sofia dormiu.

Ela não sabe se dormiu dias ou horas, quando acordou já não estava no meio do mar num barco amarrada, estava numa rede debaixo de coqueiros, deu uma olhada em volta estava perto da praia e viu um homem jovem que cortava um coco na praia, levantou-se e tentou sair da rede, mas para sua surpresa seus pés não aguentaram seu peso e ela caiu com tudo no chão, chamando a atenção do homem que disse: - Você acordou? - ele veio na direção dela. - Calma, você não está bem, descansa mais um pouco, toma água de coco - Com apenas uma mão ele levantou ela e a pôs na rede, ela estranhou a força que ele tinha, e disse:

- Onde estou? Quem é você? - Sua voz quase não saiu.

- Toma água de coco. - Astrogênio gentilmente ofereceu um coco cortado a Sofia que pegou a fruta e tomou o líquido dela. - Não sei exatamente se aqui tem um nome - disse o jovem sorrindo. - Já eu, pode me chamar de Astrogênio, e você tem nome?

- Sofia. - Ela disse entre um gole e outro. - Você é bem forte para um homem.

- É que não sou um homem,  se fosse um homem agora você estaria morta ou amarrada para ser ..., enfim não sou homem.

- Se você não é um homem o que você é? Você é um dos deuses do mar?

- Não, o que os crianeses chamam de deuses do mar, são os seres de água que agora estão adormecidos, eu sou um fado.

- Fado? O que é isso? - Sofia já tinha acabado de tomar a água de coco, sua voz tinha melhorado um pouco.

- Já ouviu falar sobre as fadas? Então os fados são os homens das fadas. - disse enquanto dava outro coco a Sofia.

- Então você é uma fada? - Sofia disse esboçando um sorriso.

- Não, sou um fado. - disse o fado irritado.

- Nunca conheci fadas, mas dizem que fadas tem asas cadê as suas?

- Fadas tem asas, fados não, não precisamos.

- E como vocês voam?

- Não voamos, de novo esse diálogo? - Astrogênio parecia extremamente irritado.

- De novo? Acabamos de nos conhecer.

- Desculpa, é que todo mundo quando falo que sou um fado, acabo tendo esse diálogo, é como se minha história fosse feita por um escritor preguiçoso que só copia o mesmo diálogo.

Crônicas de MedepéiaOnde histórias criam vida. Descubra agora