Ukarra
Carla estava comemorando seu aniversário de 11 anos sem muita empolgação, seu pai contratou um circo Saci que se apresentava em frente ao palácio ao ar livre, trazia pessoas e animais exóticos de todo mundo. Trouxe um homem que ficou mais de 10 minutos embaixo d'água, uma salamandra que ficava invisível. Pessoas com 5 e 6 pernas, mulheres com tatuagens do sol na testa, um urso de 1 olho e boca na barriga com o dobro do tamanho dos maiores homens, cobras de duas cabeças e 20 metros de comprimento, até uma mulher metade peixe trouxeram, mas o que mais chamou a atenção de Carla foi uma fada a trouxeram com as mãos amarradas e a obrigavam a voar ao redor do palco. Fez ela se lembrar de Astrogênio, o fado que ela conheceu aos cinco anos que não voava, queria voltar a conversar com ele, mas ele sumiu aquele dia e ela nunca mais o viu.
Após a apresentação da fada, seu pai, o rei Carlos II de Ukarra gritou em voz alta: - Cadê o dragão? - a multidão em seguida começou a gritar "Dragão, Dragão, Dragão".
- Calma, meus senhores e minhas senhoras. - O dono do circo disse calmamente, era um homem negro, alto e forte - Não foi fácil achar um dragão, procuramos nas selvas mais remotas de Medepéia e Ameríndia, navegamos em águas desconhecidas, pisamos onde nenhum outro homem pisou, mas achamos um filhote de dragão. - A multidão, Carla e o rei permaneciam concentrados em silêncio, enquanto duas mulheres traziam uma cela sobre rodas coberta com um grosso pano. - Se preparem, seus olhos verão algo que não é visto por séculos. - o dono do circo e as mulheres pegaram no pano e se prepararam para puxar. - No três garotas, 1,2,3. - Puxaram o pano sobre a cela, revelando um grande lagarto monitor.
- Isso que você chama de dragão? - O rei gritou furioso, seguido por vaias da multidão, o dono do circo tentou se justificar.
- É sim meu rei.
- Então cadê o fogo?
- É um filhote meu senhor, ele ainda não cospe fogo, mas se o senhor..
- Acha que sou idiota?
- Não, meu rei.
- Eu já vi lagartos como esse, tem um monte deles nas ilhas sacis, não são dragões, você acha que pode enganar-me?
- Meu rei, tenha misericórdia do..
- Matem no...
- Eu não fiz por mal..
- E a cabeça dele ponham no campo das cabeças - Soldados aparecerem e prenderam o dono do circo que suplicava por sua vida e a multidão aplaudia o espetáculo macabro, Carla que assistiu a tudo calada até ali, perguntou ao seu pai:
- O que faremos com as outras pessoas do circo e os animais? - o rei ficou pensativo, coçando o queixo, mas quem respondeu foi a rainha:
- Meu rei, deixe-os ir embora, apenas um que duvidou da sua inteligência.
- Assim será. - Finalizou o rei.
As decapitações em praça pública não eram algo que Carla gostava de assistir o fazia apenas por obrigação, estava ansiosa para sair do palácio pela passagem secreta e conversar com as árvores. As histórias que elas contavam fazia os espetáculos circenses parecerem sem graça, mas era seu aniversário e todos vigiavam cada passo que dava, entre os empregados e escravos do palácio foi apelidada de "princesa fujona".
Nos últimos meses, seu pai estava estressado, e ela sabia o porquê, sua mãe estava grávida de 9 meses, já haviam tido 6 filhas, mas a falta de um herdeiro homem o incomodava pois seria vergonhoso ser o primeiro rei de Ukarra em mais de 400 anos sem ter um filho homem, entre as filhas Carla era a mais velha, Carla torcia para o novo bebê ser mais uma menina, se fosse um menino ela não seria mais a herdeira do trono e não poderia se casar com quem quisesse, seria só mais uma nobre com casamento arranjado para manter a paz com outros reis, ela odiava ter que desejar não ter um irmão, mas não queria perder o posto de herdeira.
Ainda não havia ocorrido a decapitação do dono do circo, quando a rainha começou a sentir dores de parto, houve uma correria no palácio de empregados e escravos, o rei adiou a execução, Carla aproveitou a distração e correu até seu quarto, tirou o vestido de princesa pôs uma roupa velha de empregada e correu pelos corredores disfarçando para ninguém a reconhecer, a passagem secreta ficava nas catacumbas, afastou uma pedra que ocultava uma pequena porta de madeira já podre, abriu e se enfiou na abertura, o estreito corredor era escuro, mas ela sabia que bastava seguir reto, já sairá por ali várias vezes.
Rapidamente chegou do outro lado do túnel secreto, abriu a pequena porta e correu pelos campos verdes já do lado de fora da cidade, ela amava demais aquilo o cheiro da natureza, parou em frente a uma árvore, estava ansiosa para contar para suas amigas as novidades do dia e também desabafar:
- Acorda macieira, tenho novidades para você - A árvore permaneceu em silêncio, Carla estranhou, olhou ao redor para ver se havia alguma pessoa, sabia que as árvores não falavam quando tinha alguém por perto, não viu ninguém, voltou a tentar falar com a árvore, mas ela permanecia em silêncio, foi até a árvore do lado e antes que pudesse abrir a boca foi derrubada por um menino que vinha correndo.
- Me desculpa, ele está atrás de mim, vamos subir na árvore, rápido. - O menino subiu na árvore e ajudou Carla em seguida, quando estavam bem no alto ele disse: - Não olhe para ele, se não ele nos vê. - e fechou os olhos, Carla olhou para baixo e viu um anão de cabelos vermelhos de pés invertido montado num javali, quando viu imediatamente fechou os olhos de medo.
- Pode abrir os olhos, ele já foi - A voz do menino foi um alívio para Carla que ainda tremia de medo e perguntou:
- O que era aquilo?
- Ele tem muitos nomes, mas não podemos falar nenhum deles agora, se ele estiver por perto, ele escuta e vem atrás de nós.
- E por que você estava correndo dele?
- Eu o roubei.
- Roubou? você é um ladrão, deveria te entregar aos soldados.
- Blá Blá Blá, e ia dizer o que para eles? Que eu roubei uma criatura que você nem sabe o nome?
- É, para fazer uma denúncia precisa de provas, o que você roubou?
- Isso. - O menino carregava uma pequena bolsa, ele tirou de dentro uma coisa azul brilhante do tamanho de uma maçã.
- Que lindo o que é isso?
- É uma fruta mágica que cura qualquer doença, ou quase qualquer doença, é muito rara e cara.
- Posso provar.
- Não. - O menino guardou a fruta na bolsa.
- Por que não?
- Não ouviu que é muito rara e cara, vamos vendê-la.
- Pois saiba que tenho muito dinheiro, sou princesa de Ukarra.
- Carla, é você? - O menino olhava fixamente para ela.
- Como você sabe meu nome? - perguntou curiosa.
- Sou eu, Eric. - A menina surpresa quase caiu da árvore.
A conversa entre os dois durou horas, contaram as aventuras de um para o outro, Eric ficou maravilhado com as descrições das criaturas do circo, já Carla ficou assustada com as histórias do curupira, combinaram de se ver em certos dias depois do horário de almoço, Eric foi em direção a Iraka e Carla foi para sua passagem secreta por onde entrou no palácio. Estava tão feliz que esqueceu que seu irmão ou irmã estava para nascer ou já tinha nascido, subiu para seu quarto, pôs a roupa de princesa e seguiu para o quarto da rainha, chegou lá, sua mãe estava com várias criadas ao seu lado, mas estava séria e o bebê era amamentado por uma escrava sentada do outro lado do quarto, a rainha ao ver Carla disse:
- Onde esteve? - Antes que pudesse responder, a rainha continuou. - seu pai quase nos matou ao ver que é uma menina. - Carla abriu um sorriso, mas logo disfarçou sua felicidade, ainda era a herdeira do trono.
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Crônicas de Medepéia
FantasiSeja bem vindo a Medepéia, um mundo cheio de magia, lendas, criaturas, estórias e pessoas, entre elas quatro crianças: Davi e Eric são 2 irmãos filho de um comerciante pobre da cidade de Iraka, Davi de 12 anos tem um amigo que só ele viu, mas certam...