Crônicas de Medepéia

Capítulo 5 - Uma princesa perdida

Ukarra

Ao meio dia uma carruagem com ornamentos e rodas de ouro e cercada por cavaleiros entrou pelos portões de Ukarra se dirigindo ao palácio real, o povo logo foi tomado pela curiosidade e se amontoavam em volta do caminho enquanto a carruagem passava, a história sobre o exército Ukarriano ter atacado e queimado as cidades irmãs já havia chegado na cidade de Ukarra, e a carruagem só fez a população ficar mais curiosa e os boatos se espalharam ainda mais, alguém em um canto disse: "Soube que usaram dragões para atacar a cidade." Em outro lugar alguém disse "Fizeram um buraco no chão e usaram o fogo do submundo pra queimar Gobi e Gobilo" e mais alguém: "Ouvi dizer que o próprio deus do fogo participou do ataque", a cidade estava em polvorosa, em cada rua, em cada esquina, em cada casa o assunto era o mesmo: O ataque às cidades irmãs.

Em um dos quartos do palácio real, o rei de Notam entra furiosamente, e viu o Rei de Ukarra, Carlos II, enquanto este no colo de uma escrava comia uvas, enquanto outra escrava massageava seus pés.

- Como assim você atacou as cidades irmãs? - perguntou o rei de Notam.

- Sim. - respondeu Carlos II calmamente.

- Somos aliados.

- E?

- Você deveria ter me avisado.

- Por que?

- Eu já disse somos aliados, você deveria ter me avisado, de que adianta uma aliança se você...-nesse momento o rei Carlos II acenou com a mão, e um soldado pôs a espada no pescoço do Rei notamiano que se calou imediatamente, Carlos II começou a falar calmamente:

- Há 421 anos atrás, O rei de Notam ofereceu uma aliança ao rei de Ukarra, Notam não tinha um exército bem treinado, mas tinha ouro, muito ouro, Ukarra tinha um exército bem treinado, mas não tinha ouro para sustentar longas campanhas, hoje Notam continua sem exército, já Ukarra possui o exército mais poderoso do mundo e é a cidade mais rica de toda Mompólia, agora a pergunta que te faço é, que tipo de aliança é essa que apenas um dos lados contribui? - O rei de Notam engoliu em seco, e o rei Ukarriano continuou: - O que me impede agora de invadir e queimar Notam? Nada! Acho que vou dar essa ordem, a não ser que você se ajoelhe e diga que eu sou seu soberano. - O soldado retirou a espada do pescoço do rei de Notam e este se ajoelhou perante o rei Ukarriano e disse: - Perdão meu rei por ter me exaltado, apelo por sua misericórdia, você é meu rei, meu soberano e eu sou seu humilde servo. - Após essa humilhação do rei de Notam diante de todos os presentes naquele quarto, o Rei de Ukarra permitiu que o rei de Notam fosse embora, do lado de fora do palácio, as pessoas se acotovelavam numa tentativa de ver o dono da carruagem e houve grande burburinho quando o rei de Notam saiu do palácio correndo em direção a carruagem, que saiu em disparada em direção ao portão atropelando quem estivesse pela frente, as conversas na cidade agora se dividiam entre a carruagem do rei de Notam e o incêndio das cidades irmãs.

Dentro do palácio o rei Carlos II estava ainda comendo uvas no colo da escrava quando um servo lhe deu a se guinte notícia: - A princesa sumiu.

Iraka

Eric saiu da cidade logo pela manhã, não gostava de ficar confinados nos muros de Iraka, adorava sair pela floresta colhendo frutas com Davi, mas como o irmão não estava decidiu sair sozinho, correu pela floresta subiu numa macieira e dormiu por lá.

- Quem é você? - Eric acordou com a voz, olhou pra baixo, era uma menina da idade dele, ele respondeu: - Sou Eric e você?

- O que está fazendo aí em cima?

- Comendo maçã, quer uma?

- Quero.

Eric desceu da árvore e deu uma maçã pra menina, nunca tinha visto aquela menina e curioso falou: - Você não é de Iraka, é de Ukarra? - A menina fez sim com a cabeça enquanto dava uma mordida na maçã, Eric continuou: -Tenho medo de Ukarra, aquele campo das cabeças me causa muito medo.

- Também tenho, gosto não, é assustador, fede muito, já pedi para meu pai tirar, mas ele disse que aquilo é para assustar os inimigos. - Eric riu, ele falava muito mal e ela tinha dificuldades para entender ele, já ela falava o mais certo possível para uma criança da idade dela.

- Menina boba apenas o rei de Ukarra poderia acabar com aquele campo. - A menina ficou vermelha ao ser chamada de boba e respondeu: - Não sou boba é que... queria muito...ah esquece.

- Seus pais não ficam preocupados com você aqui não? - Eric percebeu que as roupas da menina eram caras, ele sabia que os nobres de Ukarra quase nunca eram vistos na rua, muito menos fora dos muros da cidade, então ele nunca tinha visto roupas como aquela.

- Ficam não, acho que nem se importam comigo.

- Meu pai é comerciante foi para as cidades gêmeas ontem levou meu irmão, mas não me levou, disse que quando for mais velho me leva, mas poxa queria ir, nunca fui muito longe de Iraka, você ainda não me disse seu nome.

- Carla.

- Carla? O mesmo nome da princesa de Ukarra.

- Sou ela.

- Mentirosa, a princesa nunca sai do palácio - A menina começou a chorar, Eric meio constrangido disse: - Por que está chorando?

- Você me chamou de mentirosa.

- Não tá mentindo não?

- Não.

- Você é a princesa mesmo?

- Sou.

- Ó desculpe, vossa marestade- Eric disse se ajoelhando bem desengonçado, arrancando um sorriso de Carla.

-É vossa majestade que se diz, precisa me tratar assim não, já basta os escravos e servos do palácio.

- Ainda bem, não tenho jeito pra ser nobre.

A menina sorria muito com Eric, passaram horas conversando e brincando, ela contou a ele sobre o palácio, a vida da nobreza e como ela achou uma passagem secreta que levava do palácio até a parte de fora dos muros da cidade, e que seguiu um coelho até finalmente ver ele na árvore, já Eric contou sobre a vida dos pobres de Iraka, sobre a família dele e sobre as frutas que tem na floresta, até que quando era quase meio-dia ele sentiu fome, e falou pra sua nova amiga: - Já deve ser hora do almoço, vou pra casa, tchau.

- Espera - Ela respondeu - me prometa uma coisa: Não conta a ninguém que me viu aqui?

- Sim, prometo - Eric disse e já saiu correndo em direção a Iraka.

- Esqueci de perguntar: onde fica Ukarra? - Agora a menina falava sozinha, tinha percebido que estava perdida.