Capítulo 43

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Cecília

Minutos antes

Quando chego, depois da faculdade, a primeira coisa que faço é ir para o meu quarto. Jogar minha mochila sobre a cama, me despir, cobrir meu corpo com a toalha e correr para o banheiro.

Um banho quente e relaxante. Tudo que eu preciso.

Quando termino, volto para o quarto e meu estômago já dá sinal de vida. Não comi nada o dia todo.

Decido ir ver o que tem na cozinha. Mas quase foi meia volta quando foi de cara com Guilherme. Se apaixonar por alguém que vive na mesma casa que você é complicado.

Rodo meus olhos por todo espaço para ver se estamos sozinhos. E sim, estamos.
Tento me afastar e impedi-lo de falar, mas ele não para.

Penso que vai fazê-lo quando minha mãe entra no espaço, mas parece que ele fica ainda mais firme.

— Eu sou um homem solteiro agora. Por favor Cecília — olha em meus olhos — Namora comigo?

Eu engulo em seco. Olho para minha mãe que ao esboça qualquer reacção. Depois para Guilherme que me olha com expectativa.

Suspiro e olho para baixo me lembrando da última conversa que tive com minha mãe.

Mãe, me perdoa, não me trata assim — digo  encarando meus dedos — As coisas aconteceram sem que eu pudesse impedir — explico.

— Eu não tenho pelo que te perdoar — ela suspira — Você é minha filha, eu te amo. Mas Cecília, o que você fez foi errado.

Eu sei. Penso, mas não digo. Ela me olha e suspira de forma longa. Parecendo se preparar para dizer algo.

— Eu vou pedir demissão — arregalo os olhos e minha boca forma um "o" sem que eu possa controlar.

— O quê? — sussurro. Mal consigo abrir a boca, ou mexer os lábios.

— Não podemos continuar nessa casa. Cecília, é melhor assim... — sinto lágrimas se formando, mas não as permito cair.

— A senhora está certa. — é o único que me permito dizer.

Volto a realidade. Guilherme continua com o olhar esperançoso e minha mãe não está mais aqui. Droga.

— Guilherme... — minha voz me abandona.

Ele ergue uma das sobrancelhas esperando eu continuar.
Suspiro.

— Eu sinto muito — digo muito baixo — Não posso aceitar — ele me olha, triste.

— Porquê Cecília? Eu te amo, nada mais nos impede agora. — ele tenta segurar meus braços, mas me afasto.

— Eu não posso — minhas palavras saem como um sussurro — Me perdoa — olho para baixo.

Ele parece desistir.
Morde o lábio negando com a cabeça. E é isso. Ele me deixa me afastar.

— Como quiser — sua voz é baixa.

Nos olhamos por mais alguns minutos que passam como horas.

Quando percebo que continuar olhando para ele pode me fazer ter uma atitude que não quero, me viro e deixo a cozinha.

[...]

Dois dias depois

Arrumo minhas coisas mordendo meus lábios como tenho feito durante estes dias na tentativa de não deixar nenhuma lágrima cair.

— Você está pronta? — Mamãe surge na porta que está aberta.

Apenas olho para ela e assinto.

— Isso é para o seu bem. — ela diz.

— É — digo sem ânimo.

Ela sai, mas antes informa que Guilherme cedeu o motorista para nos levar.

Não falei com ele desde o episódio na cozinha. Me sinto uma boba, me sinto idiota, por fazê-lo sofrer.
Porque tem que ser tão difícil?

[...]

Está tudo no carro.
Mamãe está se despedindo de Rosa,  e eu estou aqui, esperando por ela.

— Você vai mesmo embora? — Guilherme. Meu corpo se arrepia. Me viro.

— É — não consigo olhar em seus olhos.

— Ah. É isso. — ele olha para baixo — Onde vocês vão?

— Eu não sei, nossa antiga casa, talvez. — digo.

Ele suspira. — Cecília, Madalena trabalha aqui desde que eu era um garoto. E você também é especial para mim. Não quero que passem dificuldades. Você tem um apartamento no seu nome, vocês podem ficar lá. É seu.

— Guilherme, ela nunca aceitaria isso.

— Você aceitaria?

— Ah, sei lá, eu não sei.

— Se você aceitar, eu falo com sua mãe. O apartamento é mais próximo da sua faculdade, é muito melhor vocês ficarem lá.

— Ela não vai aceitar. Isso é uma perda de tempo Guilherme.

— Não custa tentar.

Ele não diz mais nada. Vai para onde minha mãe e Rosa estão. Não consigo ouvir nada, mas vejo Rosa se afastar e os dois falam algo.

Queria ser uma mosca para estar lá e ouvir o que eles conversam.
Passam alguns minutos. Vários.

Até que minha mãe volta. Guilherme não vem se despedir. Ele apenas me olha de longe. Ele acena e se vira.

— Vamos — minha mãe diz.

— Para onde? — pergunto mordendo o lábio.

— Para o seu apartamento — ela sorri sem mostrar os dentes — Tudo que eu quero é o seu bem. Sei que é melhor para você estar lá. Sei que o Guilherme não é uma má pessoa. Mas o vosso relacionamento não tem futuro nenhum.

Não respondo. Apenas a sigo até o carro.

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Obrigada por lerem❤️
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Para quem ainda não está lendo veja minha nova obra: Em Busca Do Pai Do Meu Filho.

A Filha Da EmpregadaOnde histórias criam vida. Descubra agora