Capítulo 58

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Cecília

Num movimento rápido, eu me seguro na beirada e fico com meu corpo pendurado e meu coração saltitando.

Mas Lívia me empurrou com tanta força que acabou vindo junto, e ela não se segura em nada.

Ouço seu grito, sua voz ficando mais baixa a medida em que ela vai chegando ao chão.

Não consigo olhar para baixo. Mas ouço quando seu corpo chega ao chão, o som de algo quebrando, um vidro talvez.

Tenho medo de segui-la pois minhas mãos estão suando e quase se soltando. Meus braços estão cada vez com menos força.

Fecho os olhos e respiro fundo, mas abro-os quando ouço passos e vejo três policiais, e quando eles me veem correm até onde estou e me ajudam.

Guilherme

1 hora antes

Prometi salvar a Cecília. Prometi isso para mim mesmo, mas acho que fracassei, não sei se ela ainda está viva, ou se ainda posso achá-la. Não tenho nenhuma pista.

Estou como um inútil sentado na cadeira de uma delegacia, eles são minha última esperança.

Mal termino esse pensamento e sinto meu celular vibrar no bolso da calça, vejo na tela e é o Davi.

— O que foi? — pergunto sem ânimo .

— Onde você está? — ele está ofegante, ansioso.

— Na delegacia, porquê? — respondo sem voltas.

— Acho que sei para onde a Lívia levou a Cecília — nesse momento meu corpo todo é invadido por uma energia que não sentia há tempos. Uma mistura de ansiedade, angústia e esperança.

— Me passa o endereço, eu vou para lá — digo já em pé.

— Não, eu estou vindo aí, precisamos da polícia nisso, você talvez ainda não tenha percebido, mas a Lívia está louca — ele suspira — Ela sempre foi.

Agora

Algumas pessoas gritam quando  um corpo cai sobre um carro. Mas eu apenas consigo olhar para cima e fico aliviado ao ver Cecília pendurada no topo do prédio.

Corro em direcção a entrada do prédio, mas antes olho para Lívia que está com sangue para todo lado, os policiais correm até ela.

Alguns policiais entraram pelos fundos antes, mas parecem ter chegado tarde, só espero que não seja tarde para Cecília também.
Eles me obrigaram a ficar aqui, e eu obedeci, pela Cecília, não quero colocá-la em risco, apesar de tudo isso ser por minha culpa.

Antes de atravessar a porta de entrada do prédio ouço uma voz dizer "ela está morta".

E sei que se refere à Lívia. É por mais estranho que pareça, me sinto aliviado. Nunca desejei isso, mas poderia ser a Cecília ali, e eu sinceramente não suportaria isso.

Quando chego ao meu destino, vejo Cecília abraçada à um dos policiais chorando, e quando ela me vê vem correndo até onde estou e nos abraçamos.

Um abraço com tanta força, um abraço que talvez nunca aconteceria se uma única coisa tivesse falhado.

— Me perdoa por te fazer passar por isso, me perdoa.... — digo antes mesmo de nos separarmos.

Cecília se afasta e me olha.

— Eu te amo — sorrio ao ouvir suas palavras e a puxo para um beijo. Um beijo que sei que para ambos significa muito, precisávamos disso, saber que está tudo bem, que o mal não venceu.

[...]

Horas depois

Madalena está abraçando e beijando sua filha há mais de uma hora, e não a condeno, isso é exatamente o que irei fazer em breve, quando estivermos só nós dois.

Me afasto delas e pego meu celular.
Procuro o registo de chamadas.
Davi.

Eu devo muito a ele. Ele demonstrou que tal como eu e Cecília, ele cometeu erros, mas é um homem leal, bom. Quem sou eu para julgá-lo?!

— Alô — ele diz.

— E aí? Eu.... eu só queria agradecer. Muito obrigado pela ajuda Davi — digo.

— Não tem de quê Guilherme — ele diz e o ouço sorrir fraco — Sei que falhei contigo, mas nunca desejei seu mal.

— Eu sei — faço uma curta pausa — agora eu sei...

Não terminamos a ligação mas ficamos em silêncio por um tempo.

— Hmm... eu liguei também para dizer que sua vaga na empresa ainda está disponível. Gostaria muito de voltar a tê-lo lá com a gente.

Ele demora a responder.

— Muito obrigado, de coração. — para por alguns segundos — Mas eu preciso de um tempo, um tempo dessa cidade, um tempo de tudo, estou pensando em viajar, investir em novas coisas para mim. Mas obrigado.

— Eu entendo, mas qualquer coisa, saiba que poderá contar comigo.

— Eu sei. E digo o mesmo.

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Beijos e desde já, obrigada.

A Filha Da EmpregadaOnde histórias criam vida. Descubra agora