Capítulo 3 - Two Moms

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Estava uma linda tarde de domingo lá fora. Eu não costumava ir além da varanda, mas naquele dia, fui. E foi maravilhoso. Lexa, Annabeth e eu tínhamos estendido a toalha sobre as folhas de outono, e colocado as coisas por cima. E então sentamos, e começamos a comer, enquanto brincávamos de criar uma história. Por ser escritora, eu estava adorando.
Depois disso, quando cansamos de comer e acabamos com o suco de laranja, deitamos e olhamos para o céu azul entre as árvores, o sol brilhando. Nem parecia que tínhamos passado pelo dilúvio. E pelo término. Sorri e afastei esse pensamento idiota.
— Eu nunca tinha feito um piquenique antes — Sussurrou Annabeth, como se fosse um segredo. Abri um sorriso largo de ter dado a pequena seu primeiro piquenique.
—E você gostou?
—Sim. E sabe o que mais? — Ela continuava sussurrando, alternando entre olhar em meus olhos e nos olhos de Lexa — Eu fiquei imaginando que vocês eram minhas outras mamães. As daqui debaixo, porque me disseram que minha mãe foi para algum lugar lá em cima. Só que agora são duas mãmães.
Woods me olhou e sorriu de canto. A claridade do dia fazia seus olhos brilharem, e alternarem em tons de verde claro e escuro, quando as árvores se mexiam. Entendi logo o que ela queria dizer com aquele sorrisinho. Levantei ao mesmo tempo que ela e peguei a garotinha no colo.
—Olhe a hora! Precisamos ir fazer compras, não acordamos ás seis. Querida, traga as coisas para dentro, sim? Vou arrumar nossa filha.
—Sim, meu amor. Estou indo.
Olhei para Lexa da varanda, e sorri. Meu amor obviamente tinha me deixado caída, mas sorri porque era bonito que estivéssemos fazendo isso pela pequena. E ela sorriu de volta.
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Quando trouxe a garotinha para fora do banheiro enrolada em uma toalha depois do banho, Lexa pediu permissão e então pulou pra dentro. Tive que gritar que tinha toalhas no closet.
Coloquei a pequena na cama.
—Bom, pelo menos sua calcinha secou — Ri — Logo compraremos outras, ok?
Ela sorriu e vestiu a peça com minha ajuda. Olhei em volta.
—É, vai ter que ser uma roupa minha, de novo. Um minuto — Deixei Anncom meu celular e fui até o closet e mexi nas gavetas, e logo achei uma blusa-bata vermelha, que serviria como um vestido para a garotinha. Peguei um cinto fino dourado e me virei para voltar, mas aí notei um pequeno detalhe.
No fim do closet, havia uma porta, que dava para o banheiro. A porta estava aberta. E o box era transparente. Lexa estava tomando banho. Meu corpo inteiro parecia estar pegando fogo. Eu queria parar de olhar e ao mesmo tempo queria entrar lá e passar minhas mãos por seu corpo inteiro, sentindo que nem a água poderia cessar o calor que eu sentia perto daquela morena. E estava indo, como ia há tempos atrás. Mas uma voz infantil me trouxe de volta para a realidade. Eu continuava parada no mesmo lugar.
—Tira uma foto — Disse, divertida. Peguei a pequena no colo e a levei de volta para a cama, ouvindo o som adorável da sua gargalhada enquanto eu fazia cócegas. Coloquei-a de pé na cama e estendi a blusa bata na cama e posicionei o cinto dourado sobre a peça. Annabeth analisou tudo muito seriamente, como se fosse uma estilista vestindo apenas uma calcinha branca com babado rosa-bebê. E então observei que ela era muito, muito forte. Perdera uma peça fundamental na sua vida, e ainda tinha aquela gargalhada incrível e o jeitinho engraçado, e o melhor: ainda estava permitindo que eu e Lexa cuidássemos dela.
Quando parei de viajar em pensamentos, a pequenina já estava com a blusa-bata, e tentava entender como funcionava o cinto, tentando amarrar como uma gravata ao pescoço. Ri e o arrumei em sua cintura. Pedi que sentasse e juntei todos os fios loiros com uma escova de cabelo, e depois, com uma fitinha de um presente que eu nunca tinha aberto, prendi. Incrível como coisas tão simples pareciam tão incríveis nos olhos da garotinha, que assim que eu anunciei ter terminado, pulou da cama e se olhou no espelho, e não pode segurar um uaaaaaaaaau.
—Gostou?
—Nunca em todos os anos que eu vivi estive tão bonita! — Ri da forma que ela falou de todos os anos que viveu e a risada de Lexa me acompanhou. Percebi que ela estava no cômodo, e instantaneamente senti meu rosto esquentar. A toalha estava presa ao seu corpo, mas me permitia ver seu colo e ombros. As tatuagens nos braços ainda eram as mesmas. Droga. Eu não conseguia disfarçar o quanto eu a achava sexy —Oh. Eu não tenho sapatos! — Ann exclamou. Só então olhei para seus pés descalços. E uma ideia me atingiu na mesma hora.
—Niylah! — Quase gritei, e agarrei o telefone. Lexa arqueou uma sobrancelha enquanto eu discava. E durante toda a ligação. Quando desliguei, olhei para as duas — Não vamos mais precisar comprar roupas, meninas. Não por enquanto.
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Vi o Fiat vinho de Niylah parar em frente a varanda e logo ela entrou, segurando uma sacola gigante.
—É tudo isso?
—Sim. Eu estou tão feliz, Clarke. Eu não sabia pra quem doaria isso tudo, minhas memórias! Mas foi justamente você, minha melhor amiga. Onde está a garotinha?
Lexa parou ao meu lado e lançou um olhar desafiador para minha melhor amiga. Acontece que se eu recebesse aquele olhar, meu corpo pegaria fogo. Mas não fui eu.
—Essa não é a garotinha — Niylah murmurou — Lexa?
—Bom te ver de novo, Niylah.
As duas riram baixinho, mas Niylah logo ficou séria novamente, e me olhou, procurando explicações para minha ex namorada estar ali. Minha amiga tinha me visto chorar por vários dias, e repetir o nome de Lexa todas as noites antes de dormir, como se a chamasse. Eu era grata a ela por ter aguentado isso, mesmo atribuindo todos os palavrões e xingamentos do mundo á Woods.
—Longa história — Respondi a pergunta que a loira fez com os olhos — Mas boa. Posso contar tudo depois, Niylah.
Troquei olhares com Lexa, que sorriu de canto. Percebi que a garotinha se escondia atrás dela, os olhos azuis curiosos aparecendo para que estudasse melhor minha amiga. Me abaixei.
—Annie? Vem cá — A garotinha hesitou, mas logo veio para perto, tímida, e eu a peguei no colo. Sentei no sofá e as outras fizeram o mesmo — A loira se chama Niylah. É minha melhor amiga. Ela tinha várias, várias roupas bonitas e cheirosas do seu tamanho – vestidos, sapatos... – e agora todas elas são suas!
Ela me encarou por alguns segundos sem reação alguma. E logo depois soltou ar em um uaaaaaaaaaaaaaaaaaau sincero. Mas eu percebia que queria dizer mais do que aquilo. A pequena se inclinou em minha direção e sussurrou:
—Por que ela tinha as roupinhas?
—Oh — Olhei para Niylah, procurando autorização, e ela assentiu — Ela tinha uma filhinha chamada Louise. Ela teve uma doença muito ruim, e agora não está mais com a gente. Niylah está feliz de deixar as roupas da Louise com alguém que vai cuidar bem delas. Você pode dizer a ela que vai cuidar?
Vi Annabeth se levantar e andar até Niylah, com uma coragem aparente na postura. E assim que chegou, pude ouvi-la dizer "Vou cuidar das roupinhas dela, e minha mamãe vai cuidar dela". E as lágrimas de minha amiga tiveram que fazer uma curva de ultima hora, pois seu sorriso se abriu.
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Quando Niylah foi embora, depois de analisar e guardar todas as roupas em uma gaveta exclusiva a pedido de Annabeth, lembrei que também precisava buscar as roupas de Lexa, que ficaram na casa velha e acabada. Isso não seria trabalho algum. Então decidi que iríamos.
Ás sete e meia, eu fazia o mesmo caminho que fiz na noite anterior, com a rádio ligada em uma música calma. A garotinha dormia lá atrás, o cinto de segurança em sua cintura, a cabeça apoiada em um travesseiro. Lexa estava ao meu lado, prestando atenção no trânsito. Ou talvez não.
Seus olhos estavam em mim, e assim que eu coloquei os meus nela, sorriu como se ainda fossemos as mesmas de anos atrás. E talvez eu fosse.
—Te amar pra sempre não pode ser errado — Sussurrei, quase involuntariamente. Lexa abaixou a cabeça, tentando esconder um sorriso. E lá do banco traseiro, nós ouvimos a voz de Annie, triunfante.
—Eu disse que tinha duas mães.

As Long As We Are TogetherOnde histórias criam vida. Descubra agora