Corremos. Corremos como se corrêssemos contra o tempo. Como se estivéssemos prestes a levantar voo. Mas a sensação era de estar caindo.
Quando chegamos, a primeira coisa que notamos foram as cadeiras vazias, e uma aglomeração de pessoas perto da área infantil.
—Fique atrás de mim. Segure minha mão — Lexa falou calma, mas sua voz falhou. Estava com medo, mesmo que tentasse não demonstrar. Fiz o que ela pediu, e ela me guiou, abrindo caminho pela multidão, enquanto eu repetia "somos as mães". E foi ainda pior quando chegamos.
Annabeth estava nos braços de um rapaz jovem, que checava seu pulso. Ela estava totalmente imóvel. Um dos braços pendia ao lado do corpo como se ela não tivesse controle dele, e sua cabeça estava caída para trás. Foi quase como se eu não tivesse mais controle de mim, e de nada. Foi tudo um vulto. Atirei-me no chão e segurei o rosto da garotinha. Estava vermelho, e pálido ao mesmo tempo. Lágrimas grossas escorriam por sua bochecha. Ela estava acordada. Ouvi Lexa chamando uma ambulância atrás de mim, e logo depois, ela pegou a pequena nos braços. E nós corremos, de novo, para a ambulância. E de dentro da ambulância para os corredores do hospital. Lembro que colocaram Anna em uma maca e correram com ela pelo corredor, e ela me olhou. Seus olhos azuis eram um misto de desespero e medo, e dor. Eu queria correr até lá. Eu queria pegar tudo o que estivesse sentindo para mim, e ver seu sorriso de novo. Eu juro que teria corrido, mas Lexa me segurou pela cintura. Passara um tempo dando nossos nomes para a secretária.
—Eu estou aqui — Sua voz rouca saiu em um sussurro. Encontrei paz naquelas órbitas verdes, inundadas, que me olhavam com carinho. E soube que ela sentia o mesmo. Estávamos no meio de um corredor. No meio de um caos. Em volta de nós, tudo era medo. Mas quando eu deitei a cabeça em seu ombro, e ela apertou minha cintura, pressionando os lábios contra minha bochecha, eu me senti bem.
Quando voltamos a terrível realidade, Lexa me puxou para sentar em um sofá de couro bem atrás de nós. Continuei com a cabeça deitada em seu ombro, e ela manteve seu braço em minha cintura. E nós ficamos assim por horas. Totalmente entorpecidas pelo medo. Até que alguém chamasse nosso nome.
Era uma mulher, alta, cabelos cacheados, e belos olhos castanhos. Ela sorriu gentilmente quando nos aproximamos, mas a dor era perceptível em seus olhos.
—Vocês são as mães da Annabeth? — Perguntou.
—Sim, mas...
—Eu sou pediatra. Meu nome é Emori. É um prazer imenso conhecê-las. Por favor, me acompanhem.
Lexa apertou minha mão e nós a seguimos, em passos forçadamente lentos. Eu só queria ver Anna. Mas quando Emori entrou em uma sala, não foi a de Anna. Parecia só um escritório comum. Uma cadeira branca atrás de uma mesa de madeira, com alguns papéis bem organizados e lenços de papel, e duas cadeiras brancas do outro lado. As paredes eram brancas e o chão também, me dando uma sensação de vazio.
—Sentem-se, por favor. — Pediu, e nós obedecemos. A mulher sentou do outro lado, e suspirou, olhando para o teto — Não é fácil fazer isso.
Minha mente começou a alarmar naquele exato momento. Lexa segurou minha mão, sempre mais forte do que eu.
—Eu já tinha visto Annabeth algumas vezes. Sua mãe estava internada em outra unidade deste hospital, que não tem atendimento pediátrico. Mas antes que o câncer tomasse conta dela, ela veio aqui. Estava preocupada com a garotinha. Disse que um pouco antes de completar cinco anos, Anna começou a sentir dores de cabeça de manhã. E depois tinha... vômitos. E então ela caia no chão. Só caia. Achou que fosse uma brincadeira de criança. Mas ela ficava imóvel, pedindo ajuda com dificuldade. Fizemos alguns exames, sempre considerando a opção do psicológico. A mãe estava doente. E depois de um tempo, as dores melhoraram um pouco. Disse a Anya para retornar se notasse algo estranho. Mas ela não pôde — Emori respirou fundo, só então eu percebi que chorava — Estou grata por ter vocês aqui, e ao mesmo tempo lamento tanto.
—Qual é o problema com ela, Doutora, por favor, por favor — Implorei.
—Era tudo quase previsível. Nós fizemos alguns exames no pulmão. O câncer da mãe não a afetou naquele local. E então pensamos no cérebro e fizemos mais exames, várias vezes. E então nós analisamos, e vimos o que menos queríamos. Um tumor maligno com localização no cerebelo. Chama-se medulo blastoma. Um câncer que atinge crianças... — Parei de escutar. Parei de respirar. Morri por segundos. Eu deveria sentir algo, mas não senti. Senti como se não pudesse me mover. Como se estivesse me afogando, acorrentada. Aos poucos, a realidade veio. Como gotas de chuva ácida caindo em meu corpo. Respirei novamente, em um grito. Minhas lágrimas caiam em minhas pernas, com uma velocidade absurda.
—Clarke — Ouvi a voz rouca de Lexa, fraca pelo choro. Ela estava ajoelhada em minha frente, segurando minhas mãos, e eu não tinha percebido nada disso.
—Por favor, me diga que é mentira. Diga-me que isso é tudo uma brincadeira, nós vamos voltar para casa com ela...
—Clarke, por favor, me escute — A morena soluçou. Seus olhos injetados de sangue olhando apenas nos meus. E ninguém mais existia, a não sermos nós duas e a pequena Annabeth — Nós precisamos ser fortes, ou Anna não vai conseguir ser. Você me faz forte. Por favor, fique comigo.
Apertei suas mãos, puxando-a para cima, e ela me puxou de volta. Voltamos ao mesmo abraço do corredor, com a dor duplicada, e a força aumentando devagar. Por Annabeth, nós lutaríamos.
Xxx
Emori nos deixou vê-la á noite, quando se certificou de que estamos bem o suficiente. E depois de ficar por um tempo abraçada á Lexa, ouvindo-a sussurrar em meu ouvido o quanto eu era forte e o quanto precisava de mim por perto, eu estava bem. Quando vi a pequenina, tudo o que senti foi orgulho.
—Fique comigo. Você é uma guerreira — Sussurrei, em seu ouvido. Ela dormia. Por quase impulso, deitei ao seu lado na maca, e encostei meus lábios em sua testa. Lexa deitou do outro lado e sorriu para mim.
—Nós somos — Pegou a mão da garotinha, e eu fiz o mesmo.
—Contanto que estejamos juntas.
Woods era minha âncora quando eu estava afogando. E Annabeth era meu raio de sol quando eu emergia. Prometi á mim mesma, ali naquela sala de hospital, nunca soltar a âncora, e nunca deixar meu raio de sol deixar de brilhar.
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As Long As We Are Together
Romance" Lexa Woods ainda me deixava nervosa como uma menina de 12 anos em seu primeiro amor. Pressionei os dedos contra o volante enquanto dirigia todas as memórias vindo rápido e em flashes. O dia do término foi chuvoso. Lexa me deixou da forma mais doce...