Capítulo 24 - Rebirth

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A noite caiu sobre nós, deitadas naquele gramado, juntas, conectadas. Lexa tinha seus dedos entre meus fios de cabelo em uma carícia lenta e eu mantia o mesmo carinho nela. Nossos olhos alinhados. Dali podíamos ouvir apenas o som dos grilos, das nossas respirações, e do vento.

Um arrepio percorreu todo meu corpo quando uma rajada de vento totalmente gelado passou por minhas costas. Lexa me apertou mais contra seu corpo e sorriu.

—Podemos ir embora agora? Você está com frio.

—Estou bem — Insisti. Mas minha voz saiu trêmula com o frio. Ela gargalhou e cobriu meu corpo com o seu. Sorri, agradecida pelo calor.

—Que tipo de pessoa eu seria se deixasse minha noiva aqui nesse frio?

—Me chama assim de novo.

—Minha n-o-i-v-a — Ela falou com um sorriso enorme. Coloquei uma mecha do seu cabelo atrás da orelha e a beijei da forma mais delicada que pude.

—Eu me sinto tão viva — Suspirei — E te amo tanto.

—Hmm, eu também. Mas eu vou precisar quebrar o clima porque nós realmente precisamos ir. Temos...

—Anna. Eu sei — Fechei os olhos com força. É claro que eu não havia se esquecido da minha garotinha nem por um segundo. Mas estava tão nervosa com os momentos que se aproximavam. O resultado final.

Geralmente, eu dominava capítulos finais, ou etapas finais de um livro. Dessa vez, eu não tinha controle sobre isso, e odiava a sensação. Odiava a sensação de não saber o que aconteceria no final do meu próprio livro, e odiava todas as possibilidades que passavam por minha cabeça, sempre pendendo para o lado trágico.

—Eu sei o que você está pensando — Lexa sentou sobre minhas pernas e puxou minhas mãos para que eu sentasse também. Ela segurou meu rosto, olhando em meus olhos quando eu tentei desviar, e então sorriu fraco, os olhos brilhando — Eu e você estamos aqui. Aconteça o que acontecer, estaremos juntas, vamos enfrentar isso.

Depositei um beijo carinhoso em seu pulso e sorri fraco. Meu coração se aquecendo com amor como em todas as vezes que Lexa me fazia sentir amada daquela forma. Estava tudo bem. Meu porto seguro estava bem ali, e não iria a lugar algum.

xxx

Chegamos em casa ás oito da noite, depois de termos jantado em um lugar simples perto de casa. Uma chuva fraca havia começado, e assim que entramos, ela fez questão de me dar um banho quente. Carinho. Apenas carinho em cada toque. Aproveitei cada momento ao lado dela, os olhares carregados de amor, os toques de cuidado quando sua mão deslizava o sabonete de morango por meu corpo. Nós iríamos até o hospital depois daquilo e eu queria guardar o máximo de boas memórias antes de ver o resultado final da história.

Saímos do banho enroladas em nossos roupões, sorrindo sobre algum comentário sobre sermos noivas. Depois de nos vestirmos, fui arrumar uma pequena mochila caso Annabeth precisasse de roupas, e Lexa foi pegar alguma coisa sua no guarda-roupa. E então, de repente ela gritou alto o suficiente para que eu virasse o rosto imediatamente para ver o que estava acontecendo. Ela estava parada, com uma mão sobre a boca, e a outra segurando o que parecia uma foto.

—Lex? Amor, v-você quase me matou.

—Que horas são? — Ela perguntou a mão ainda sobre a boca, abafando a voz estridente.

—Nove — Respondi depois de checar meu relógio de pulso —Estamos atrasadas ou...

—C-como eu pude esquecer? — Ela continuou com a mão sobre a boca, e inclinou a outra para que eu pudesse ver a foto. A primeira pessoa que pude identificar foi Lexa, com um sorriso enorme, em frente á uma pequena mesa, forrada com uma toalha roxa, um bolo no centro, com uma velinha do número cinco. O lugar, o bolo e a mesa pareciam bem simples. Mas Lexa e a garotinha em seu colo estavam sorrindo como se estivessem no dia mais feliz de suas vidas. Annabeth abraçava o pescoço de Lexa, sorrindo com todos os dentes, os olhos quase fechando. Seu cabelo loiro ia até a metade das costas, e ela usava uma tiara roxa com bolinhas brancas, e um vestido da mesma cor. Eu já ia perguntar algo quando ela começou a falar —Anya já estava lutando contra o câncer quando Anna fez cinco anos. Ela estava dando tudo o que tinha para pagar o tratamento, para deixar algo para a filha. Estava lutando com todas as forças que ainda restavam. Essa luta foi tão intensa, ela estava tão focada, que acabou ficando sem energias no dia mais importante. O dia do aniversário de Annabeth — Ela suspirou quando deitei a cabeça em seu ombro, e beijou minha testa carinhosamente. —Teve que ficar repousando. Deus, ela ficou tão brava, que não pensou em ninguém. Apenas dormiu, e disse que não queria ser incomodada, enquanto Anna esperava seu primeiro "feliz aniversário" — Entendi perfeitamente quando senti uma lágrima cair em minha bochecha. Minha noiva estava chorando — Eu, Octavia e Rae fomos até lá. Assim que notamos o que estava acontecendo, nós corremos como loucas para fazer algo. Octavia xingou tanto — Soltou uma risada rouca —Disse que a mesa era pequena demais, que tiraria aquela cereja do bolo sem que ninguém visse, que roxo era gay. Mas eu sabia que era a cor favorita da pequena. Montamos tudo na frente da casa delas, e no final, eu olhei para tudo e só pude pensar que era pouco — Me virei para olhar seus olhos quando senti que a história se tornava mais difícil de contar a cada momento. Mas ela tinha um sorriso no rosto, em meio às lágrimas — E então ela viu o motivo de termos pedido que usasse aquele vestido apenas para ir lá fora. Eu queria guardar aquele momento, aquele sorriso, aquele grito e aquele abraço em uma caixinha para que eu pudesse... Reviver. Disse que foi o melhor aniversário do mundo. O melhor, Clarke, onde só quatro pessoas, sua mãe no final do dia, haviam lembrado dela. Porra, ela é tão especial. Eu não...

As Long As We Are TogetherOnde histórias criam vida. Descubra agora